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“O tempo cura tudo”. Será?
Kaylah Otto | Unsplash
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Sabemos que histórias passadas mal resolvidas acabam deixando marcas na alma, digamos. E o pensamento popular é de que “não existe nada melhor que o tempo para curar feridas. O tempo é o melhor remédio!”

É certo que o tempo ajuda (e muito) a amenizar nossas dores. Afinal, “nada como um dia após o outro”. Eu posso afirmar por tudo o que vivi e passei (e acredito que você também). Entre ditados, crenças e pensamentos, uma coisa é fato: o que dói agora, amanhã vai doer menos. Outras coisas chegam e o que aconteceu ontem, vai perdendo sua importância.

Mas a reflexão que quero trazer aqui é se tudo isso vale na íntegra para nós, mulheres.

As medicinas mais antigas do planeta (como a ayurveda e chinesa), e estudos ancestrais mostram o que eu vejo todos os dias na prática, no meu trabalho: nós herdamos memórias de dores vividas por nossas antepassadas, repetimos seus padrões de comportamentos que perpetuam essas dores, e também podemos repassá-los a outras gerações. Esses registros estão em nossa cultura familiar, células, úteros e campo morfogenético (como explica a constelação familiar).

Algo pode nos machucar muito, mas nada é permanente, tudo muda o tempo todo justamente porque existe o tempo! 

Todas merecemos e precisamos de um tempo para viver o luto de algo, ou de alguém. Faz parte do processo sentirmos toda dor, vivê-la com intensidade, tristeza e lágrimas. Inclusive mergulharmos nela em processos de dor intensa, é natural e humano. Mas precisamos estar atentas se o prazo para continuarmos nessa se prorrogar demais, apontando uma resistência (e até desistência) em sairmos desse ciclo. Todo esse processo quando vivido por um certo tempo e em alta intensidade, altera quimicamente nosso cérebro e desencadeia a depressão, por exemplo, ou até a Síndrome do Pânico.

Nosso corpo responde o tempo todo às nossas emoções, comportamentos e pensamentos. Ele reage ao estresse, à ansiedade, ao medo, à tristeza, etc. Logo, ele somatiza tudo também e daí desenvolvem-se irregularidades. 

A medicina alopática, ocidental, ainda engatinha em direção a essa compreensão. Mas fica muito fácil perceber as reações do nosso corpo ao que estamos enfrentando no dia-a-dia se estivermos atentas, tivermos autoconhecimento e dermos um pouquinho de atenção a isso.

Nós temos no ciclo menstrual um verdadeiro mapa comportamental. Ele é o mais impactado com nossas emoções, e por isso o primeiro a nos trazer pontos que precisamos olhar, cuidar em nós mesmas ao longo do mês para evitar desconfortos emocionais e físicos no período pré-menstrual – e em nossas vidas!

Então se por um lado existe a crença de que “o tempo cura tudo”  e por outro estudos que provam que somatizamos dores vividas que se tornam irregularidades no corpo, eu vejo que precisamos reavaliar se “varrer a sujeira para debaixo do tapete” acreditando que com o tempo vai passar, vale mesmo a pena. 

Dores passadas podem até cicatrizar, mas nestes sete anos trabalhando com a Ginecologia Emocional, afirmo que em nós, mulheres, essas cicatrizes acabam virando doenças ginecológicas crônicas. E dependendo da dor vivida e do quanto ela ressoa em você, pode virar doença grave. Nosso sistema ginecológico somatiza emoções nocivas relacionadas ao feminino, à nossa relação com o masculino, às situações que só sendo mulher para saber o peso. 

Se você sente que algo lá do passado ainda pesa, sugiro buscar ajuda terapêutica e profissional para voltar na situação e ressignificá-la, pois acredite, isso ainda está interferindo na sua felicidade. Quando não fechamos um ciclo porque estamos conectadas à dor vivenciada nele, arrastamos pesos que certamente já estão impactando nossa saúde emocional e até ginecológica (dependendo do fato).

Vale lembrar que perdoar, agradecer, dizer o que está “entalado”, dar um “basta”, pedir ajuda, dizer que ama, são fatores que nos libertam de muitas situações e liberam nossa energia, alma e coração de muitas toxinas! Faça o que precisa ser feito. 

Com ajuda e apoio, encontramos o equilíbrio entre o tempo que passa, qual amenizou a intensidade  da dor e os resquícios dela que precisam virar amor – e agora!

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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