O respeito e a arte de estar presente na vida dos nossos filhos

Como mãe, sempre me pego refletindo sobre como passar os valores que considero essenciais para o desenvolvimento emocional dos meus filhos. Aquelas lições simples, que se repetem todos os dias, tornam-se poderosos faróis que guiarão suas escolhas e ações na vida. E entre os valores, está o respeito.

Lembro-me bem de um momento com minha filha, quando ela tinha cinco anos. Era a primeira vez que ela seria convidada para uma festa de aniversário fora de casa.

A empolgação dela estava estampada no rosto. E eu me preparei para uma despedida que, embora breve, continha palavras que são mais significativas do que qualquer presente:

“Respeite as pessoas, respeite a você mesma, esteja presente e divirta-se.”

Ela, com seus olhinhos curiosos, me perguntou: “Por que eu preciso me lembrar disso?” E foi nesse momento que percebi que, por mais que minhas palavras soassem simples, o que eu estava realmente entregando a ela não era apenas uma frase repetida. Mas sim um mapa emocional para o desconhecido.

O respeito, tanto pelos outros quanto por si mesma, vai muito além de um simples comando. Ele é a base que ajuda a criança a formar uma autoestima saudável e a construir conexões sociais genuínas.

Ensinar um filho a respeitar não é apenas sobre educá-lo para ser bem-comportado. Porém, sobre prepará-lo para ser uma pessoa que entende e valoriza os sentimentos e os limites dos outros, além de estabelecer limites saudáveis para si mesmo.

A ciência por trás do respeito

Na visão da ciência, a construção da autoestima e da empatia nas crianças é respaldada por uma série de estudos e teorias psicológicas.

No livro Empathy and moral development: implications for caring and justice, o psicólogo Martin Hoffman investigou o desenvolvimento da empatia nas crianças. E enfim concluiu que o respeito pelos outros está profundamente ligado à habilidade de entender e se colocar no lugar do outro.

Ele observou que crianças que são ensinadas a respeitar as emoções alheias têm maior competência emocional, são mais resilientes. Isso porque, em situações de conflito, são mais propensas a buscar soluções pacíficas e compreensivas.

Além disso, o respeito a si mesmo é igualmente importante. A psicóloga Kristin Neff desenvolve estudos pioneiros sobre autocompaixão e psicologia encontrada nos ensinamentos budistas. Em suas obras, ela explica que crianças que aprendem a se respeitar e a serem gentis consigo mesmas crescem sobretudo com maior capacidade de lidar com frustrações e desafios.

Segundo Kristin, a autocompaixão ajuda a proteger as crianças de sentimentos de inadequação e a desenvolver uma autoestima sólida.

Crianças que reconhecem o próprio valor e sabem respeitar seus próprios limites tendem a fazer escolhas mais saudáveis e a buscar relacionamentos mais equilibrados.

Esses conceitos são reforçados por práticas como o mindfulness, que nos ensina a importância de estarmos presentes no momento. O pesquisador Jon Kabat-Zinn explica que ensinar nossos filhos a estarem presentes e a se divertirem no aqui e agora é uma forma poderosa de ajudá-los a lidar com as pressões do mundo.

Crianças que aprendem a valorizar o presente têm mais autoconfiança e resiliência, pois conseguem lidar melhor com a ansiedade sobre o futuro ou arrependimentos do passado.

O respeito na adolescência

Quando nossos filhos crescem, o papel dos outros na construção da autoestima se torna ainda mais evidente. Na pré-adolescência e adolescência, as influências externas se multiplicam. Professores, amigos, colegas de escola e até pessoas da comunidade passam a ser mais significativas na formação da visão que os adolescentes têm de si mesmos.

As amizades, em particular, têm um peso emocional muito grande nessa fase da vida, sendo as bases para o que pode se tornar uma autoestima saudável ou, se mal orientadas, uma percepção distorcida de si.

Estudos de psicólogos como William Damon, especialista no desenvolvimento da identidade e da autoestima na adolescência, apontam que o feedback social é um dos fatores mais determinantes na construção da autoestima dos jovens.

Os adolescentes que se sentem aceitos por seus pares e que recebem reconhecimento por suas qualidades pessoais tendem a desenvolver um senso de valor próprio mais sólido.

Damon, em The Path to Purpose, destaca que, nesse estágio da vida, o respeito pelos outros e a capacidade de se colocar no lugar do outro são habilidades cruciais para o desenvolvimento de uma identidade saudável.

Portanto, à medida que nossos filhos crescem, o respeito deixa de ser uma norma imposta pela família e se torna uma competência adquirida, que deve ser reforçada em diversos contextos sociais.

Isso significa que, como mães e pais, temos a responsabilidade de orientá-los para que saibam lidar com as diferentes influências externas e continuem a desenvolver uma autoestima positiva. Mesmo diante de desafios ou críticas.

Como ensinar respeito com autoconhecimento

Agora, você pode estar se perguntando, como podemos aplicar tudo isso no nosso dia a dia? A chave está em cultivar o respeito de maneira prática e genuína.

Sendo assim, nossas ações podem ajudar tanto nós pais, quanto os filhos, a desenvolverem a consciência sobre a importância de respeitar o outro e a si mesmo.

1. Ensine pelo exemplo

As crianças aprendem principalmente pelo exemplo. Seja o modelo de respeito, mostrando empatia, ouvindo atentamente e respeitando os sentimentos de todos ao seu redor. Principalmente da criança.

2. Reforce a importância de estar presente

Pratique momentos de desconexão com as tecnologias e foco nas interações reais. Se você ensinar seus filhos a estarem presentes, ajudará a desenvolver a capacidade de viver o agora com prazer e gratidão.

3. Valide os sentimentos dos seus filhos

Em vez de minimizar, corrigir ou ignorar as emoções deles, reconheça o que eles estão sentindo. Isso cria um espaço de respeito mútuo e ajuda a criança a aprender a respeitar seus próprios sentimentos.

4. Incentive o autocuidado

Ensine a importância de respeitar os próprios limites, promovendo hábitos saudáveis de descanso, alimentação e lazer. Crianças que aprendem a se cuidar fisicamente também desenvolvem um senso de respeito por si mesmas.

5. Fomente a empatia através de atividades entre vocês

Jogue com seus filhos, compartilhe momentos em que a escuta e a colaboração sejam importantes. Uma atividade simples como contar “duas verdades e uma mentira” – uma brincadeira em família em que um conta três histórias para que os outros adivinhem qual é a mentira –, pode ajudar a entender melhor o que o outro pensa e sente.

6. Promova o diálogo aberto e honesto

Crie um ambiente onde seus filhos se sintam seguros para falar sobre suas dúvidas, angústias e pensamentos. O respeito cresce quando há espaço para ouvir e ser ouvido sem julgamentos.

Um livro, um filme e uma newsletter

Ensinar respeito aos nossos filhos não é uma tarefa simples, mas é uma missão que traz frutos duradouros. O respeito pelas outras pessoas, o respeito por si mesmos e a capacidade de estar presente no momento são os pilares para o bem-estar emocional e para o sucesso nas relações interpessoais.

Ao colocar em prática essas ações com consciência e amor, estamos ajudando nossos filhos a se tornarem adultos emocionalmente equilibrados, capazes de criar um mundo mais respeitoso e harmonioso ao seu redor.

Por fim, convido você a conhecer mais sobre o universo da parentalidade e desenvolvimento pessoal, seguindo minhas três indicações:

1. Se você está interessada em aprender mais sobre como ensinar seus filhos a serem gentis consigo mesmos e com os outros, recomendo o livro A Arte da Felicidade, do Dalai Lama. Nele, você encontrará insights sobre como a prática da gentileza, do respeito e da compaixão pode transformar a vida das crianças.

2. Além disso, o vídeo Como ensinar mindfulness para crianças, de Jon Kabat-Zinn, disponível no YouTube, é uma excelente fonte de aprendizado sobre como o mindfulness pode ser usado para cultivar o respeito e o autoconhecimento desde a infância.

3. Assine minha newsletter. Eu escrevo todos os meses em Vida Simples, mas se você quer acompanhar conteúdos que não aparecem por aqui, eu mantenho uma curadoria do que escrevo em meu site Correnteza no Substack.

Lembre-se, cada dia é uma oportunidade única de aprendizado e crescimento. Desejo a você dias de luz e amor. Obrigada por estar aqui e até o mês que vem!

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