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O futuro da busca do ser humano pelo seu papel no mundo
Charlota Blunarova | Unsplash
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Neste artigo:

Andrea Janér acompanhou presencialmente o maior festival de inovação do mundo, o SXSW. A primeira edição após a pandemia trouxe temas que refletem a busca do ser humano pelo seu papel no mundo e a integração das emoções nesse nosso dia a dia imerso em tecnologias e transformações. Confira os principais destaques pelo olhar da colunista.

O SXSW (South by Southwest) é um festival de inovação, criatividade e tecnologia que acontece desde 1987 em Austin, no Texas. Durante 10 dias, reúne as mentes mais brilhantes do planeta para discutir temas contemporâneos e promover experiências de tecnologia, arte, música, cinema e entretenimento.

Pelos palcos do SXSW já passaram Barack Obama enquanto ocupava a Casa Branca, Elon Musk, Melinda Gates, Marie Kondo, Brené Brown, Gwyneth Paltrow e Joe Biden. Plataformas como Twitter e Foursquare foram lançadas lá. Estúdios como Amazon e HBO criam ativações pelas ruas de Austin para anunciar seus filmes e séries. Bandas e cantores em ascensão fazem shows em bares, casas noturnas e pelas calçadas da cidade. Enquanto ele ocorre, Austin entra em ebulição.

As discussões que emergem desse caldeirão de tribos, ideias e movimentos desafiam nossas certezas e expandem nosso campo de visão. Exigem que a gente aprofunde os conceitos que acabou de ouvir, para entender e, depois, assimilar. É um lugar de desconforto intelectual e muitas vezes emocional. Afinal, aprender dá trabalho, exige persistência, foco e muita, muita humildade.

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Nosso papel no agora

Em março, estive na edição desse ano e, agora que o turbilhão de informações começa a assentar, já consigo decantar alguns insights.

De tudo o que vivi, a constatação mais forte é a de que somos seres humanos em busca de entender nosso papel neste futuro que já chegou.

E essa foi a beleza desta edição — a primeira presencial depois que o festival foi cancelado, em 2020, a uma semana do seu início: se em boa parte dos painéis o assunto era o metaverso, em outra parte eram as relações humanas. Em meio a debates acalorados sobre os NFTs, DAOs e Web3, se destacavam sessões sobre vieses cognitivos, pertencimento e saúde mental.

A palestra de abertura foi de ninguém menos do que Priya Parker, facilitadora e especialista em “gatherings” — uma expressão difícil de traduzir, mas que pode ser definida por algo entre “reuniões” e “encontros”. Priya — sabendo que muitos ali estavam viajando e indo a um evento pela primeira vez desde a pandemia — trouxe uma reflexão sobre encontros que fala muito sobre os tempos atuais:

“Me perguntaram quando e como devemos estar nos reunindo em um momento de crise profunda no mundo. Nós não nos reunimos simplesmente para celebrar; nos reunimos para lamentar. Nós não nos reunimos apenas em tempos de calma, nos reunimos em tempos de crise. Nós nos reunimos para nos compreender. Nós nos reunimos para entender o que está acontecendo. Nos reunimos para reabastecer e reenergizar. E nos reunimos para sermos lembrados do mundo pelo qual queremos lutar”.

Emoções e pontos de vista

Brené Brown também estava lá. Apareceu de surpresa no lançamento de sua nova série “Atlas of The Heart” (“Atlas do coração”, em tradução livre), que estreou semana passada na HBO Max. Baseada no livro homônimo, a série em cinco episódios explora 30 emoções humanas, e tem como objetivo ampliar nosso repertório emocional. Segundo Brené, temos que saber nomear nossos sentimentos para que possamos lidar com eles.

Outro tema que surgiu em várias palestras em painéis foram os vieses inconscientes. Eles estão no cerne de vários conflitos humanos e impactam muito além do tripé DEI (diversidade/equidade/inclusão — que aliás agora ganhou mais uma palavra, “pertencimento”). Uma das melhores sessões foi da jornalista e autora Jessica Nordell, que mostrou em sua palestra que vieses são hábitos e que, se quisermos eliminá-los, precisamos de consciência, persistência e intenção. Só assim teremos uma sociedade mais tolerante e justa.

Conhecimento e saúde

Desinformação também foi uma pauta importante no festival, e não é de hoje. Há várias edições o SXSW promove discussões sobre o papel das redes sociais na vida dos cidadãos, mas agora o debate se ampliou. Nomes como Maria Ressa — Nobel da Paz em 2021, Tristan Harris e Margarethe Vestager alertam para o impacto que as plataformas digitais têm nas democracias. E reforçam:

O nosso dever como cidadãos, que é furar as “bolhas” dos algoritmos, buscar informação de qualidade e exercitar nosso senso crítico sempre.

Para nos ajudar a lidar com as sequelas da Covid-19 — que deixou a humanidade mais solitária, ansiosa e deprimida —, tivemos o privilégio de assistir três sumidades no tema felicidade: Laurie Santos, que criou o popular curso de Yale “The Science of Well-being” (“A ciência do bem-estar”, em tradução livre), disponibilizado de graça na plataforma Coursera no início da pandemia e que foi feito por milhões de pessoas.

Laurie trouxe dicas práticas como exercer a gratidão, dar atenção ao sono, incorporar o mindfulness no dia a dia, buscar trabalhar com algo que tenha significado, encontrar um propósito e priorizar a diversão todos os dias. Aliás, este último item ela traz como referência outra palestrante que estava no SXSW este ano: Catherine Price, autora de “The Power nos Fun” (“O poder da diversão”, em tradução livre), um livro sobre como levar a diversão a sério.

A teoria de Catherine é que a diversão verdadeira só acontece na presença de 3 elementos: brincadeira, conexão e flow. E que nos iludimos o tempo todo com o que ela chama de “diversão falsa” — como assistir filmes e séries por horas a fio. Para surtir efeito em nossa saúde mental, a diversão precisa ser ativa e intencional.

Para fechar o tema felicidade, o professor Arthur C. Brooks, colunista da revista The Atlantic e professor do MBA de Harvard, apresentou seu mais recente livro, “From Strength to Strength”, em que aponta caminhos para que a segunda metade da vida seja a nossa melhor fase. O destaque entre suas dicas: pessoas felizes subtraem, não adicionam.

Foco no lado humano

A guinada humanista do SXSW começou em 2019, quando a palestra de abertura foi feita pela especialista em comportamento humano Brené Brown. Em 2020 — o ano em que o festival não aconteceu — a mesma sessão seria feita por Lori Gottlieb, a psicóloga que escreveu o best-seller “Talvez Você Deva Conversar com Alguém”.

De lá para cá, conteúdos sobre saúde mental, sobre dilemas éticos e sociais da humanidade e sobre nossa relação com a tecnologia ganham cada vez mais espaço no festival. Sorte nossa ter um fórum dessa qualidade para discutir questões tão urgentes quanto necessárias.

Dá para conferir as palestras comprando um “after pass” no site do festival, mas muitos conteúdos  estão disponíveis gratuitamente no YouTube do SXSW.

Leia todos os textos da coluna de Andrea Janér em Vida Simples.


ANDREA JANÉR (@andrea.janer) é empreendedora e apaixonada pela conexão entre inovação, conteúdo e educação. Acredita que repertório é a chave que muda o mindset das pessoas. Tem um olhar particular para a curadoria de tendências e vem ajudando pessoas e empresas a se engajarem nos grandes temas que vão impactar o mundo por meio da Oxygen (@oxygen.brasil), uma plataforma de conteúdo em inovação que oferece aulas, encontros online, sessões de debates e viagens.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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