Ninguém salva ninguém
A terapeuta holística e mentora espiritual Jacqueline Pereira mostra como ajudar os outros sem ultrapassar seu limites

Você já percebeu que tem horas que a gente quer mais a mudança do outro do que ele mesmo? A intenção é boa, mas o peso é grande. Assim como a probabilidade de nos machucarmos nessa empreitada. Sempre fui dessas pessoas que gostam de ajudar conhecidos e desconhecidos, tanto que transformei minha vida nessa missão. Mas a própria jornada foi me ensinando que você não pode ajudar alguém que não quer mudar. Pode, sim, se afundar tentando.
Um dia fui procurada pela esposa de um amigo. Ela estava aflita, pois seu marido tinha se tornado dependente alcoólico. Como eu gostava muito dele, entrei de cabeça nessa história. Afinal, ele estava no fundo do poço. Fiz a abordagem para que se tratasse; ele recusou. Então, a família optou pela internação compulsória. Encabecei tudo. Por fim, ele foi internado e saiu de lá muito bem, porém não quis mais falar comigo.
Fiquei triste, mas entendi e respeitei a reação dele. Com o tempo, esse meu amigo recaiu no álcool, e a família toda ficou com raiva de mim, como se eu fosse a culpada. Que baque! Perdi pessoas de que gostava e isso me abalou. Mas, ao mesmo tempo, me questionei: quais eram as lições daquela perda? Como ajudar sem que as pessoas transfiram suas questões para a gente? Como dar orientações e informações sem operacionalizar?
Como ajudar os outros sem ultrapassar seu limites
Diante dessa e de outras frustrações, vi a importância de passar um filtro antes de prestar qualquer ajuda. Um exame refletido que te dê clareza, proteção e te coloque num lugar de auxílio consciente.
- Empenho mútuo: Entre o ajudante e o ajudado, existe um terreno fértil, uma ponte de encontro, uma mão estendida e outra que se encontra com ela? De alguma forma, essa pessoa demonstrou abertura, te pediu ajuda, mesmo que de maneira sutil?
- Distância saudável: Você, como ajudante, consegue ajudar sem controlar, sem querer moldar o outro, sem precisar dominar a jornada dele?
- Clareza sobre o seu papel: Você tem clareza de que é só um ajudante? Que quem precisa fazer o trabalho real, quem precisa caminhar, escolher, levantar, é o outro?
- Desapego na medida certa: Você sabe soltar depois que ajudou? Sabe voltar para sua vida? Porque, se não souber, corre o risco de ser arrastado para o campo do outro – e o seu vai ficando esquecido, descuidado, seco.
Pense comigo, você tem uma vida inteira para realizar, construir, viver. Tem muita coisa para fazer por si mesmo, a partir da energia de que dispõe. Ajude, sim, conhecidos e desconhecidos, mas com consciência. Se estiver confuso, prestes a embaralhar as fronteiras, lembre-se do lema: Faça tudo pelo outro, menos a parte dele!
Os comentários são exclusivos para assinantes da Vida Simples.
Já é assinante? Faça login