Mochilas abarrotadas
Além do material de estudo, crianças levam para a escola suas emoções e conflitos familiares. Precisamos ter olhos para enxergá-las por inteiro
“Meu filho sempre foi bonzinho, um amor de criança. Ontem bateu na professora. Não sei o que fazer!” A mãe me procurou aflita. Perdida entre pensamentos que iam de como corrigir o menino a como abordar a professora e a escola sobre o que teria motivado tal comportamento.
Quando a escola nos aciona por um mau comportamento da nossa criança, é sempre um desconforto. Sentimos que estamos fracassando como pais e queremos solucionar o problema rapidamente.
Alguns saem logo contra a criança. Dão sermões, broncas, castigos. Outros partem para cima da educadora e da escola. “O menino não bateu do nada! O que foi que a professora fez para a criança querer bater nela?” Tudo isso está conectado e pode, sim, ter oportunidades de melhoria. A criança precisa aprender que não pode bater na professora e a educadora precisa rever a sua abordagem.
Emoções difíceis de lidar vão à escola junto com as crianças
Porém, aprofundando poucos minutos na conversa, e considerando que o menino mudou o comportamento, já que tinha o histórico de ser tranquilo, perguntei para a mãe: “E você, como está? Aconteceu algo diferente na sua vida por esses dias?” Sim, aconteceu. Uma audiência desfavorável em que o que estava em jogo era nada menos que a guarda do filho.
Quando uma criança vai para a escola, sua mochila carrega muito mais do que cadernos, lápis e livros. Suas questões familiares também estão lá dentro. Os medos, as raivas, as dores, as angústias, as brigas (inclusive as judiciais), estão todos dentro da mochila. E, mesmo que ela tenha rodinhas ágeis, pode ser bem difícil de carregá-la em alguns momentos.
Comportamentos infantis conflituosos costumam ter raízes mais profundas
Na Disciplina do Equilíbrio, aprendemos que todo mau comportamento tem uma parte visível – o tapa na professora – e uma parte invisível – a conexão com o drama familiar vivido no momento, nesse caso. E ainda podem ter muitas outras coisas, é claro. O fato é que eu só consigo avaliar uma situação por completo levando em conta o visível mais o invisível.
Antes de sairmos correndo querendo corrigir o mau comportamento do menino simplesmente, antes de atacarmos a professora, que pode estar mesmo precisando de recursos para lidar com crianças em situações mais desafiadoras, cuidemos de olhar para as mochilas das crianças.
Assim podemos nos unir a elas, pais, professores e talvez até a outros profissionais, a depender de cada caso, para aliviar o fardo emocional e guiar o comportamento que, sim, precisa ser ajustado.
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