Filhos também são professores
Quando educamos, olhando com acolhimento para nossos erros e acertos, aprendemos mais, muito mais
Quando educamos, olhando com acolhimento para nossos erros e acertos, aprendemos mais, muito mais
Quando o assunto é a relação entre pais e filhos, assustam-me as listas de soluções fáceis: como fazer para controlar a birra; educar com limites; conversar com o adolescente. É muito melhor acreditar que a felicidade mora na dica infalível do que encarar o trabalho pesado que é educar filhos.
Vivemos um tempo e valores cada vez mais individuais. E, apesar de desejar que as crianças desenvolvam a empatia, as pessoas ainda não cumprimentam os porteiros. Diante dessa perspectiva, não resta outra alternativa para as crianças, senão repetir esse padrão autocentrado. Sem perceber, estamos minando a possibilidade de os nossos filhos serem melhores do que nós, por acreditar que o problema é a birra, a timidez ou a falta de limites. O problema somos nós.
Ser pai ou mãe nos coloca diante de um espelho. Nossos filhos nos desafiam a encarar as piores sombras e as memórias mais escondidas. Uma vez que entendemos nossas frustrações, medos e falhas, temos a chance de não passar isso adiante.
Sou filha de uma mãe jovem, que encarou a maternidade sozinha. Durante anos, não entendia a função de um pai. Até que me casei com um canceriano, que não estava disposto a abrir mão desse lugar. A minha tentativa de desviar do espelho não durou muito, pois eu precisava deixar que meu marido fosse esse pai para nossos filhos. Não foi um caminho exatamente fácil, mas baixei a guarda, acolhi a minha criança ferida e perdoei.
Diante desse compromisso que firmei comigo, os desafios apresentados pelos meus filhos são encarados com mais gentileza. Estamos aprendendo o tempo todo. Mas ao entender o meu percurso – e dificuldades –,coloco-me de forma mais humana na relação com meus filhos. E sigo agradecendo por eles serem tão bons professores.
Lua Fonseca é pernambucana, educadora parental e mãe de quatro filhos, mas também consegue ser outras coisas quando sobra tempo. Escreve mensalmente na edição impressa de Vida Simples
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