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Fazer uma pausa traz mais benefícios do que se imagina
Fazer uma pausa é mais importante do que se imagina. (Crédito da imagem: Bequest | Pixabay) Fazer uma pausa é mais importante do que se imagina. (Crédito da imagem: Bequest | Pixabay)
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Fazer uma pausa para jogar-se num gramado de um parque pode nos trazer mais insights do que compactar na agenda compromissos em série 

Antes de digitar as primeiras palavras desse texto, vivi um duelo mental. Eu sabia o tema que queria abordar, mas não consegui soltar os dedos no teclado. Um monte de ideias confusas e pensamentos dos mais variados tipos me acompanhavam. Meu dia havia sido puxado, mesmo assim, insisti. Em vão. Não achei o fio condutor do texto.

A saída foi puxar um outro fio, desconectar a tomada do computador e seguir os conselhos de um certo físico alemão do século passado que sabia muito bem como agir quando suas fórmulas lhe escapavam: “Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio e eis que a verdade se revela”. Obrigado, Albert Einstein, acho que preciso de uma pausa.

Tomei um banho, fui ler um pouco e coloquei o despertador para o dia seguinte bem cedinho para que, então, logo que acordasse, conseguisse dizer de uma maneira mais clara, neste artigo, que muitas das respostas que buscamos para nossa vida só surgem quando abrimos espaço, quando entendemos que é no vazio que as coisas se constroem.

O problema é que, geralmente, nos culpamos por muitas vezes “ficar sem fazer nada”. Confundimos esse “vazio” com uma certa passividade, perdendo a chance de entrar em contato com o nosso sentimento mais sutil e genuíno. E eis que ele mora no coração.

Menos é mais

Nesses tempos pandêmicos, mais do nunca, estamos sendo obrigados a nos reinventarmos de alguma forma. Difícil encontrar alguém que não esteja passando por mudanças em algum aspecto de sua vida.

Acontece que, para achar novos caminhos, precisamos buscar outras estradas. Para tanto, um primeiro passo talvez seja escolher uma paisagem que mude nossa relação com o tempo.

Acelerar não é mais garantia de se chegar em primeiro. Burnout, depressão e ansiedade estão aí para nos mostrar quem tem ocupado o podium nos últimos anos.

É muito comum, numa situação de desconforto, querer achar uma solução rápida para o problema. Por exemplo, alguém que não está mais feliz profissionalmente e o trabalho passou a ser um fardo, tem uma tendência de achar que a saída para encontrar um novo sentido para a vida seja fazer um monte de cursos, ler todos os livros, sair em busca do verdadeiro propósito para sua existência a qualquer custo.

Não resta dúvida que esses movimentos são importantes. Por outro lado, existem opções que podem trazer mais insights e respostas. Por exemplo, jogar-se em um gramado de um parque numa tarde qualquer ou mesmo se perder por uma praia num final de semana. Melhor do que compactar compromissos em série como se o dia fosse uma corrida de 100 metros.

É claro que estou exagerando um pouco, mas a vida já me mostrou que pausa também é movimento. Acelerei muito antes de mudar a minha rota profissional, em 2018, e deixar mais espaços em branco na minha agenda.

Levei um tempo para entender que a vida se comunica com a gente de diversas formas, principalmente quando não oferecemos resistência a ela. Existe uma magia em ouvir os seus sinais. E quando você descobre essa “frequência”, tudo parece ter um sentido, até mesmo quando algo parece conspirar contra você.

Sincronicidades

No começo deste ano, concluí meu primeiro documentário: “Pausa: O intervalo do Mundo”. Durante a elaboração do roteiro, escolhi como música de abertura “Paciência”, do Lenine . Achei perfeita para a mensagem que queria passar no filme e estruturei muitas das falas de meus personagens em cima da letra. Só esqueci de um detalhe que me foi passado pela equipe de produção: era preciso pagar pelos direitos autorais. Após consultar o empresário do cantor, a resposta nos chegou numa sexta-feira, exatamente no dia em que começamos a fazer a pós-produção. O preço pedido era inviável para um projeto autoral. Surtei.

Lembro-me de ter ficado muito nervoso, xinguei em pensamento a situação e levei alguns minutos para retomar o equilíbrio. Respirei fundo e ouvi uma voz dentro de mim dizer: “calma, Patrick, existem outras saídas”. Logo em seguida falei para a equipe que iria aproveitar o final de semana e que na segunda-feira decidiríamos por qual caminho seguir.

Sabe aquela frase que diz que “para se encontrar é preciso se perder”? Pois é, eu estava perdidinho quando, no dia seguinte pela manhã, recebi um whatsapp de uma amiga que havia tempo não encontrava. O áudio era uma canção em .mp3 que ela havia escrito e gravado para dar vazão ao seu processo criativo durante a quarentena.

Comecei a ouvir e fiquei todo arrepiado. Cada frase e tom da melodia pareciam ter sido pensados para o filme. Não tive dúvidas de que estava ouvindo a música que abriria meu documentário. Silenciei e só agradeci.

Olhar para o alto

Como disse lá no começo do texto, as respostas que buscamos normalmente nos chegam quando abrimos espaço. Poderia trazer aqui mais alguns episódios sincrônicos que me ocorreram desde que decidi desacelerar os ponteiros do relógio da minha vida há alguns anos, mas vou encerrar lembrando da própria elaboração desse texto para Vida Simples.

Se ontem meus dedos travaram no teclado, me lembrando que o melhor seria fazer uma pausa, hoje eles bailaram tranquilamente. Talvez seja por isso que agora quando digito essas últimas palavras, observo pela janela do meu escritório, bem lá no alto, um lindo pássaro flanando sobre a selva de pedra paulista. Ele me mostra que a vida é movimento e que quem dita o ritmo das coisas é o seu coração. É nele que mora toda verdade.

Precisamos olhar mais para o alto. A vida também pulsa em outras frequências.


PATRICK SANTOS é jornalista, escritor e diretor do documentário “Pausa: o Intervalo do Mundo”. Depois do sabático em 2018, tem preferido buscar respostas para muitas de suas perguntas deitado no gramado de um parque.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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