E se eu lhe disser que o futuro pode estar no passado?
Com o avanço tecnológico tem crescido também a busca por um lado mais sutil e natural da vida. Existe uma "tecnologia humana" sendo resgatada.
Com o avanço tecnológico tem crescido também a busca por um lado mais sutil e natural da vida. Existe uma “tecnologia humana” sendo resgatada, especialmente por meio do olhar para nossa ancestralidade. É para ela que precisamos despertar.
Existe um provérbio africano que diz: “Se você esquecer, não é proibido voltar atrás e reconstruir”.
Acho que ele pode ser um bom ponto de partida para a reflexão que quero trazer na coluna desta quinzena de Vida Simples. O papo hoje vai ser meio fora da caixa. Estão preparados?
Tenho pensado muito sobre esse momento difícil que estamos atravessando como humanidade. Entre pandemia e guerra, confesso que não tem sido tarefa fácil achar um sentido em tudo isso, mas persisto. Talvez seja por conta desse meu lado geminiano com ascendente em Libra que me mantém “aprisionado” no campo mental mais do que eu gostaria.
Minha fase de “mochila mais leve” — depois de ter deixado para trás a vida executiva, em 2018 — intercalada hoje com conversas mais profundas e sinceras no meu podcast, o “45 Do primeiro tempo”, tem me permitido enxergar a vida por outros ângulos e me levado a pensar que o futuro talvez esteja no passado.
Como assim “o futuro está no passado”, Patrick?
Calma! Vou tentar explicar, mas antes preciso recorrer ao “I Ching“, um dos livros mais antigos da história, escrito há pelo menos 2.600 anos
O livro das mutações
O livro das mutações, como também é conhecido no Ocidente o “I Ching“, tem uma passagem que diz o seguinte:
“Ao término de um período de decadência sobrevém o ponto de mutação. A luz poderosa que fora banida ressurge. Há movimento, mas este não é gerado pela força… O movimento é natural, surge espontaneamente. Por essa razão, a transformação do antigo torna-se fácil. O velho é descartado, e o novo é introduzido. Ambas as medidas se harmonizam com o tempo, não resultando daí nenhum dano…”
O que isso quer dizer?
Quer dizer que, ao mesmo tempo em que estamos presenciando avanços tecnológicos aos milhares e novas descobertas em diversas áreas da ciência, tem crescido a busca por uma lado mais sutil e natural da vida, algo que sempre esteve em nós de alguma forma, mas que deixamos escapar nos últimos séculos por conta de um modelo de vida que nos levou mais para fora do que pra dentro de nós.
Não são poucas as pessoas que estão se dando conta de que o sucesso não está mais no acúmulo de riquezas, no topo hierárquico, bem como já estamos nos dando conta de que a felicidade está muito mais em “ser” do que “ter”.
Existe uma “tecnologia humana” sendo resgatada. É para ela que precisamos despertar.
Natureza
Quem me lê aqui em Vida Simples sabe que sempre gosto de trazer algo sobre sincronicidades em minha vida, essas tais “coincidências” que vêm acompanhadas de algum significado. Um dia, antes de escrever este artigo, recebi de um amigo um vídeo da participação de DJ Alok no “Global Citizen Live“. No clipe, um pouco antes de iniciar o show, Alok diz para a câmera:
“Eu sempre tive a tecnologia como grande aliada da minha carreira. E é por isso que eu escolhi o lugar mais tecnológico do planeta para fazer esse show: a Amazônia”.
Uau!! Fiquei arrepiado ao assistir. O show é lindo, entre muito verde e rios volumosos, o DJ divide o palco com os povos indígenas Yawanawa, Huni Kuin e Guarani. A música tocada faz parte de seu novo álbum, intitulado “O futuro é ancestral”.
Trouxe esse exemplo do Alok para dizer que, se voltarmos um pouco no passado, revisitar a ancestralidade, estudar os povos originários, vamos encontrar uma relação com a experiência humana muito mais voltada ao sentir, a uma integração com o coração e as sutilezas da vida.
Nada está separado de nada. Nós é que vivemos a ilusão de ser o “topo” da cadeia alimentar. Precisamos aprender que a natureza é um ecossistema, ela é circular, tudo flui. Tudo segue uma perfeita ordem.
Aliás, Alok lembra que só existem hoje 15% de povos originários no mundo inteiro e que eles, pasmem, são responsáveis pela preservação de 85% de toda a natureza do planeta. Isso nos leva a crer, então, que mais importante do que preservar a natureza é preservar os povos originários. Eles são os grandes guardiões das belezas desse mundo e nos mostram como podemos usar a melhor das tecnologias: a humana.
Futurista
Numa conversa recente que tive com Renan Hannouche, um dos fundadores do Gravidade Zero, no podcast 45 Do primeiro tempo, ele recordou uma palestra que havia assistido há alguns anos no Vale do Silício ministrada por Paul Saffo, um dos maiores futuristas do mundo e professor de Stanford, na Califórnia. Renan conta que Saffo, num tom provocativo, mas cheio de sentido, disse para a plateia que ele só lê livros de 60 anos para trás: “Quer saber mais sobre o futuro, vá atrás do passado. Observe o passado“, frisou Saffo para uma plateia de empreendedores.
Ao ouvir o relato do meu entrevistado, lembrei-me também da professora e filósofa Lucia Helena Galvão. Sempre que lhe pedem indicações de livros, ela recorre a uma lista de 10 títulos que têm sempre em mãos. De Platão a Helena Blavatsky, passando por Confúcio à Khalil Gibran, as sugestões da voluntária de Nova Acrópole sempre vêm de um tempo em que a tecnologia era mais sutil.
Precursores
Claro que há livros atuais muito bons. Eu mesmo vivo comprando novos títulos com temáticas que me capturam, mas ao observar aqui a estante do meu escritório enquanto digito este texto meus olhos capturam, entre as centenas de exemplares, uma pequena edição de capa verde de pouco mais de 100 páginas, cujo título em letras brancas traz: “Caibalion – Estudo da Filosofia Hermética do Antigo Egito e Grécia”.
Refletindo sobre tudo que falo neste texto, fiquei pensando que muito antes do sucesso de best sellers como “O Segredo”, o “Poder da Atração” e tantos outros contemporâneos, que nos ensinam sobre vibração, mentalismo e polaridade, Caibalion já nos mostrava no início do século passado quais leis regem o Universo. Essa pequena joia do passado já nos mostrava que é exatamente no passado que encontramos o futuro.
E aí, faz sentido para você?
PATRICK SANTOS (@patricksantos.oficial) é jornalista, escritor e apresentador do podcast 45 Do primeiro tempo que semanalmente traz histórias de pessoas que se reinventaram. Depois do sabático em 2018, tem se permite voltar um pouco ao passado para entender que lá estão muitas respostas para tantas dúvidas que nos cercam.
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