Dicas de livros para quem gosta – ou quer gostar – de gatos

Como muito bem disse Chico Buarque na música Os Saltimbancos: “Nós, gatos, já nascemos pobres. Porém, já nascemos livres”.

Dificilmente encontraremos um animal doméstico mais livre e independente que o gato. Talvez por isso a fama de voluntariosos ou pouco carinhosos com os donos. O fato é que até no âmbito dos afetos existe polarização e poucos são os que defendem os gatos sem atacar os cães e vice-versa. Da minha parte é bem simples: amo os dois sem distinção.

Mas, quis a loteria genética que eu fosse agraciada com uma terrível alergia. Bastam três carícias e dois minutos abraçada a qualquer felino para ganhar horas intermináveis de espirros e olhos inchaços. E ainda assim, mesmo ciente da possível crise de asma que virá a seguir, eu raramente perco a chance de agarrar um desses animais míticos. Parece exagero chamar um mero gatinho de mítico, certo? Errado! Eles são cultuados por religiões mundo afora, a começar pelos antigos egípcios, chegando aos islâmicos, que além de cultuarem os gatos de quebra ainda consideram o cachorro como um animal impuro.

Na China, no Japão e na Índia são muitos os gatinhos representados sobre a forma de divindades responsáveis por atrair fortuna, sorte e prosperidade. Talvez a mais conhecida delas seja o gatinho japonês que aparece em quase todo restaurante oriental como uma estátua sorridente acenando, é o “gato da fortuna”, ou em bom japonês Maneki Neko.

Os gatos são amigos das bruxas, dizem as lendas amplamente reforçadas por filmes americanos como Abracadabra, Convenção das Bruxas e Sabrina, a aprendiz de feiticeira. E fazem parte da cultura de religião de matriz africana, como seres sensitivos, capazes de absorver energias do ambiente.

Embora a história dos gatos através dos séculos e civilizações seja fascinante, eu entendo mesmo é de livro. E vim aqui justamente para compartilhar com vocês livros que têm os bichanos como personagem. Os gatos na literatura vão desde os contos macabros de Edgar Alan Poe, cujo mais conhecido tem como protagonista justo um gato preto, até um conto menos famoso de Sir Arthur Conan Doyle: O gato do Brasil.

Deixo abaixo algumas leituras que fiz e, coincidentemente, têm os gatos como personagens essenciais na trama. Em “As quatro estações do gato” você vai se deliciar com lindos poemas, trechos inspiradores e aquarelas que merecem virar quadros. Já em “Relatos de um gato viajante” o narrador personagem é um felino tão especial que me fez desejar do fundo do coração ser curada da alergia instantaneamente só para adotar um gatinho e dar a ele o nome de Nana, em homenagem ao protagonista que rouba comida, sorrisos e o coração dos leitores.

Sobre “O gato que amava livros” eu só posso dizer uma coisa: abandone o meu texto agora mesmo e vá correndo em busca do seu exemplar. É lindo, sensível e divertido. A gente quer mais o quê?

Dois autores que eu gosto muito também escreveram sobre gatos: Doris Lessing, vencedora do Nobel e Haruki Murakami, que eu espero um dia ver ganhar o prêmio. As duas obras têm muito em comum, mas talvez a forma madura e pouco caricata com que os gatos aparecem nas tramas seja o que mais tenha me agradado.

Agora, se você quer uma coisa mais prática, que ajude a entender melhor o seu bichano e contribuir para uma convivência mais harmoniosa, sugiro “O gato educado”, com dicas de especialistas em comportamento animal e muitas informações surpreendentes que nos ajudam a entender os motivos para os gatos serem tão especiais e fascinantes.

Se você chegou até aqui, obrigada! Aguardo também as suas dicas de livros sobre gatos. E, se quiser enviar fotos e histórias fofas sobre gatinhos prometo ficar igualmente feliz.

As quatro estações do gato – Kwong Kuen Shan

Editora Estação Liberdade
96 páginas

Um livro bonito, repleto de aquarelas que poderiam muito bem estampar qualquer parede. Um livro inspirador, com pequenos trechos para aquecer o coração e suspirar. Mas, onde estão os gatos? Em todos os lugares! Segundo a autora: “os gatos se contentam com o que a vida lhes oferece e vivem de acordo com o ritmo das estações do ano.” Ou seja, prepare-se para olhar os gatinhos de uma forma completamente nova. Mais do que fofos, eles são sábios.

Um bom dia para os pescadores

O tempo é difícil de encontrar e fácil de perder.
A ocasião é fácil de passar e difícil de retornar.
Agarra o instante, agarra a ocasião.

                  Poema Tang

Três amigos de inverno

Para que a amizade dure,
Deve-se aprender com as qualidades
E ignorar os defeitos de cada um.

                  Provérbio chinês

O curso das estações

Os eventos da natureza seguem seu curso.
Não há intervenções que os controlem.
Render-se à força natural que não se pode mudar é uma força

Tao Te Ching

Relatos de um gato viajante – Hiro Arikawa

Editora Companhia das Letras
256 páginas

Talvez, de todas as indicações aqui, seja neste livro a paixão por gatos mais evidente. O gato Nana narra suas viagens, o período em que mora nas ruas e depois sua peregrinação por diferentes casas. E entremeando às peripécias mirabolantes, doses de reflexão sobre a liberdade, o apego, vida e morte, perdas, ganhos, reviravoltas e muito, muito amor.

“Naquele prédio eram proibidos animais de estimação, Satoru tinha negociado para eu poder ficar só até minha pata sarar. Fomos morar em um apartamento no mesmo bairro. Mudar de casa por causa de um gato… sei que eu, por razões óbvias, não deveria dizer isto, mas só um gateiro de carteirinha para fazer uma coisa dessas.”

O gato que amava livros – Sosuke Natsukawa

Editora Planeta
240 páginas

Eu compro livro pela capa sim. O que não significa que eu julgue pessoas, situações ou qualquer outra coisa pela aparência externa. Eu sou apenas uma amante de capas bonitas. E talvez eu também tenha uma quedinha por livros que falam sobre livros. Entendeu agora como eu cheguei até “O gato que amava livros”? Ah, também teve um pequeno detalhe da sinopse que me deixou um tanto intrigada: “Fenômeno editorial no Japão, O gato que amava livros é uma história reconfortante sobre encontrar a própria coragem, sobre cuidar de si e dos outros – e sobre o imensurável poder dos livros.”

“— As coisas importantes são sempre difíceis de entender, Sr. Proprietário — disse o gato, como se lesse os pensamentos de Rintaro. — A maioria das pessoas não entende essa verdade tão óbvia.”

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Sobre gatos – Doris Lessing

Editora Autêntica
182 páginas

Estava eu aqui pensando se já falei da maravilhosa Doris Lessing por aqui. Caso ainda não tenha enaltecido essa sul-africana vencedora do Nobel de Literatura em 2007, peço que me perdoem. Espero com “Sobre gatos” me redimir, já deixando claro que não é nem de longe uma leitura que resuma a capacidade inventiva e narrativa dessa senhora. Por isso, peço com carinho, leia mais Doris Lessing e espalhe por aí uma literatura de qualidade.

“Depois de certa idade – e, para alguns de nós, isso pode ocorrer muito cedo – não existem novas pessoas, animais, sonhos, rostos, acontecimentos: tudo já aconteceu antes, já apareceu antes, com outra máscara, outras roupas, outra nacionalidade, outra cor; mas é igual, igual, tudo é eco e repetição; e não há nem dor que não seja uma recorrência de algo há muito esquecido que se expressa numa angústia inacreditável, em dias de lágrimas, solidão, consciência de traição; e tudo por um gato pequeno, magro e moribundo.”

Abandonar um gato: O que falo quando falo do meu pai – Haruki Murakami

Editora Alfaguara
112 páginas

Um excelente livro para abrir a porta da vasta e pungente obra do escritor japonês mais conhecido pelas bandas de cá. O título assusta, assim como a escrita sem rodeios de Murakami. Eu, já fã de carteirinha, vi em leituras passadas uma forma de conhecer o Japão e me conectar com a corrida. Dessa vez, além de passar por uns bons minutos de tensão com a história do gato, conheci uma faceta mais autobiográfica, melancólica e lúdica do autor.

“Sempre havia gatos na nossa casa, e gostávamos deles. Para mim, eram boas companhias. Como eu não tinha irmãos, livros e gatos eram os meus melhores amigos.

O gato educado – John Bradshaw e Sarah Ellis

Editora Bestseller | Grupo Editorial Record
328 páginas

Escrito pelo antrozoologista John Bradshaw em parceria com a especialista em gatos Sarah Ellis, “O gato educado” mostra que, ao contrário do que o imaginário popular costuma apregoar, gatos merecem todo tipo de cuidado para garantir uma relação feliz e saudável com os donos. Repleto de importantes referências cientificamente embasadas, o livro oferece diversos exercícios e dicas que ajudarão a adestrar o animal da forma correta para que ele se sinta confortável e confiante. É um manual indispensável para qualquer dono de gatos ou para quem quer se preparar para receber uma bolinha de pelos em casa.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.