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Dançar a vida: o poder da inspiração
Astrid Schaffner
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Ela era uma das alunas mais dedicadas da turma do ballet. Chegava cedo, com sorriso no rosto. Cabelos vermelhos bem arrumados, mulher elegante. Cearense, acabara de se mudar para São Paulo e logo se matriculou nas aulas de ballet adulto. Eu também estava ali, retornando às sapatilhas mais de 20 anos depois dos primeiros pliés e elevés da minha infância. Nilva talvez não fosse a mais talentosa da turma, mas, de longe, era uma das mais aplicadas.

Dançava com a leveza e o entusiasmo que carregava na própria alma. Trazia inspiração para toda a turma. Depois de um tempo, chegou o momento esperado por todo bailarino iniciante: seu batismo nas sapatilhas de ponta. Estar pronta para “subir nas pontas” significa ter conquistado tornozelos fortes e uma boa consciência corporal – algo que se ganha com muita prática, persistência e paciência. Que aquela aluna tinha de sobra. Aos 65 anos, Nilva era o exemplo da potência de vida. De se permitir realizar, a qualquer tempo, seus desejos. Mãe de três homens, anos antes ficara viúva do marido por quem foi apaixonada a vida inteira.

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Passado o duro período de luto, foi procurar um novo amor nos bailes que adora frequentar. E, durante aquele batismo nas pontas, que significa tanto para quem dança, ela diz: “Obrigada, meu Deus, pela certeza de ser essa mulher que faz o que quer porque acredita”. Já se passaram quase dez anos desse dia – o tempo sempre corre depressa –, mas a cena ainda é fresca na minha memória.

E eu posso me sentir contagiada  pela vitalidade daquela mulher arretada, certa de que sua vida precisa valer a pena. Gosto desses exemplos porque, como escreveu Clarissa Pinkola Estés em A Ciranda das Mulheres Sábias, “Quando uma pessoa vive de verdade, todos os outros também vivem”. Danço na vida com um pouco da Nilva (@nilva_cavalcante) habitando em mim. E, neste mês, eu desejo que um pouco dela passe a habitar você também.

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