Curiosidades sobre o significado dos gestos em diferentes culturas
tendo em vista os distintos significados dos gestos em culturas diferentes, convém analisarmos algumas de suas características mais curiosas.
Para melhorar a nossa comunicação, tendo em vista os distintos significados dos gestos em culturas diferentes, convém analisarmos algumas de suas características mais curiosas.
Esse pessoal é criativo demais para inventar histórias. Quem acredita que um negócio não foi concretizado por causa de um gesto? Vira e mexe aparece alguém com essa lorota de que um executivo norte-americano perdeu excelente oportunidade porque fez o sinal de “ok”, encostando a ponta do polegar na do dedo indicador.
Alguém para se sentir ofendido com essa atitude precisaria viver fora do planeta. Não duvido que gestos com sentido cultural específico de determinadas regiões não possam provocar estranheza e até certo desconforto. Essas ocorrências exigem cuidado e conhecimento, mas não justificam a verdadeira paranoia vivida por algumas pessoas só porque precisam se comunicar com interlocutores de cultura diversa.
Algumas diferenças de comportamento chegam a ser consideradas extremas e até agressivas. Eu me lembro do que relatou o executivo de uma multinacional alemã. No final da visita feita por um diretor da matriz, quiseram dar a ele de presente um livro sobre o Brasil. Para surpresa e até indignação de todos, o mimo foi recusado. Está certo que os alemães são mais diretos e assertivos, mas não aceitar esse tipo de gentileza rompeu com as linhas invisíveis de hábitos de consideração e de cortesia que existem em nossa cultura.
Linguagem corporal: o que seu corpo fala?
Comportamentos negativos ou naturalizados
Por esses exemplos, constatamos que certos comportamentos podem ser vistos como negativos, enquanto outros, mesmo sendo diferentes, são encarados com naturalidade. Por isso, é importante conhecer, com a maior abrangência possível, os hábitos das pessoas de outros países quando precisarmos nos relacionar com elas. Esse aprendizado poderá ser útil para nos conscientizarmos do que seja ou não adequado. E, mais importante ainda, para percebermos obstáculos que inviabilizariam uma comunicação sem ruídos e eficiente.
Com o vertiginoso desenvolvimento das comunicações, esse estudo foi facilitado. Hoje dá para saber como vivem e se comportam os habitantes dos mais distintos países. Ainda que tomemos um gesto como estranho, haverá consciência de que seu significado não é o mesmo que aprendemos ao longo da vida. Mas isso apenas não basta. É necessário, também, ampliar o conhecimento que temos sobre nós mesmos, como membros de uma cultura, e, da mesma forma, sobre nossos atos inconscientes de comunicação e o impacto sobre os outros.
É preciso levar em conta ainda que, em quase todos os casos, o gesto não pode ser visto sempre de maneira isolada, mas sim a partir de um quadro mais elástico. Assim como um vocábulo sozinho, desconectado de contexto, poderá não ter significado completo, da mesma forma o gesto descontextualizado dificilmente determinará o sentido da informação.
LEIA TAMBÉM: O poder do silêncio na comunicação verbal
Analisando os gestos
Há um episódio conhecido e ilustrativo. Um analista afirmou que o hábito de Freud estar sempre com um charuto revelava, segundo a própria tese freudiana, a indicação de algo fálico. O próprio psiquiatra explicou: “Há momentos em que um charuto é apenas um charuto”. Esse é um bom exemplo que nos ajuda a tomar consciência de que uma atitude pode, em certas circunstâncias, não ter nenhum outro significado que o do fato em si.
Tendo em vista os distintos significados dos gestos em culturas diferentes, convém analisarmos algumas de suas características mais curiosas*.
Apertar a ponta da orelha:
No Brasil – um sinal de aprovação.
Na Índia – uma forma de se desculpar, ou de mostrar arrependimento por uma falha ou erro cometido.
Na Itália – a pessoa apontada é homossexual.
Apontar com o polegar para cima, com os quatro outros dedos fechados na palma:
No Japão – o número 5.
Na Alemanha – o número 1.
No Brasil – tudo certo e pedido de carona.
Na Europa e EUA – pedido de carona.
Na Turquia – uma cantada para sair com homossexual.
Na Nigéria e Austrália – gesto obsceno.
Encostar a ponta do polegar na ponta do indicador, formando um círculo:
No Brasil – gesto obsceno, especialmente com a palma da mão voltada para dentro.
Nos EUA – tudo certo, positivo.
No Japão – valor financeiro – moeda, dinheiro.
Na França – algo sem valor, zero.
Na Turquia – alguém é homossexual.
Mão em forma de figa:
No Brasil – fato auspicioso, de boa sorte.
Na Croácia – algo sem valor; não.
Na Turquia e Grécia – gesto obsceno. É o mesmo significado que tem no Brasil o gesto de bater no círculo formado com o indicador e o polegar, quase fechados, com a palma da outra mão.
Na Tunísia e Holanda – pênis.
Raspar o queixo com a ponta dos dedos, como se estivesse jogando algo grudado embaixo do queixo para fora:
No Brasil – sei lá, não tenho essa informação.
Na Itália (região Sudeste) – sem chance.
Na França – sai daqui.
Mover a cabeça no sentido lateral, de um lado para outro:
Talvez seja a diferença mais gritante que poderíamos encontrar no significado de um gesto entre os diversos países.
Em quase todos os países do ocidente – não.
Na Bulgária, Grécia, Irã e Turquia, por incrível que possa parecer – sim.
Movimentar o dedo indicador esticado em círculos na região da têmpora:
No Brasil e nos EUA – alguém não está batendo bem da cabeça, pirou, endoidou.
Na Argentina – uma pessoa está querendo falar com a outra.
O chifre feito com o dedo mínimo e indicador, enquanto o médio, o anular e o polegar ficam fechados:
No Brasil e na Itália – o marido está sendo traído, corneado pela esposa.
Na Venezuela – conquista, sorte, futuro promissor.
Nos EUA (região do Texas) – o torcedor está solidário, apoiando seu time.
*Baseei minhas pesquisas sobre gestos em diversas obras, mas principalmente nos autores que se dedicaram ao estudo do relacionamento intercultural, como Roger Axtell (Gestures – The do’s and taboos of body language around the world), Gerard Nieremberg e Henry Calero (How to read a person like a book) e Edward T. Hall e William Foote Whyte (Comunicação intercultural).
Leia todos os textos da coluna de Reinaldo Polito em Vida Simples.
REINALDO POLITO (@polito) é mestre em Ciências da Comunicação, palestrante, professor nos cursos de pós-graduação em Marketing Político e Gestão Corporativa na ECA-USP e autor de 34 livros que já venderam 1,5 milhão de exemplares em 39 países. Sua obra mais recente é “Os Segredos da Boa Comunicação no Mundo Corporativo”.
*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.
Os comentários são exclusivos para assinantes da Vida Simples.
Já é assinante? Faça login