Barbie (2023) brinca com estereótipos sem deixar críticas de lado
Suzana Vidigal assistiu a Barbie (2023) e nos mostra que o filme que vai além do marketing e da popularidade da boneca, explorando o olhar único da diretora Greta Gerwig e convidando o público para uma interessante brincadeira reflexiva
O assunto do momento é o filme Barbie (2023), mas não só porque o marketing é poderoso, ou porque Margot Robbie é sensacional, ou ainda porque a boneca mexe com o imaginário coletivo. Talvez tudo isso seja consequência de outros fatores que fazem parte dos bastidores, do olhar da diretora Greta Gerwig e da estratégia dessa brincadeira inteligente a que somos convidados a participar.
Você já sabe que, quando eu falo de cinema, a ideia é despertar reflexões e olhares que possam deixar a sua experiência do filme mais interessante. Não quero estragar as surpresas do filme, muito menos interferir na sua experiência pessoal que vem carregada das suas vivências. E, em se tratando de Barbie, suas vivências são fundamentais para determinar o que este filme representa para você. Portanto, deixo aqui alguns pontos que podem te ajudar nesse trajeto.
A assinatura da diretora Greta Gerwig
O filme sobre a boneca Barbie, seu percurso histórico e importância como objeto de desejo de tantas meninas desde a sua criação em 1959, poderia ser contado de diversas maneiras. O fato de trazer o olhar da diretora Greta Gerwig muda tudo. Greta, junto com Noah Baumbach, escrevem um roteiro inteligente e perspicaz, capaz de, ao mesmo tempo, fazer piada sobre a patrocinadora e dona da Barbie, a Mattel, de criticar o comportamento patriarcal, de dialogar com diversas gerações e de deixar o recado sobre o feminismo. E, mais importante: sem perder o bom humor.
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Leve isso em conta. Um bom filme imprime o tom da direção e a escolha de palavras dos roteiristas. Isso ganha ainda mais força quando nos diz algo sobre a maneira como eles veem o mundo. É aqui que nós, espectadores, entramos — com a nossa experiência de vida, para construir o “nosso filme pessoal”.
Feminismo por meio de sátira afiada
E é pessoal mesmo. Barbie pra mim, por exemplo, era a boneca loira que ditava o padrão de beleza, que só pensava em roupas e futilidades, e que nos abria o perigoso caminho da comparação e projeção naquele modelo. Pensando agora, a boneca nunca me pareceu a representação de uma mulher empoderada e independente, que tinha profissão fora das obrigatoriedades da maternidade e dos cuidados com a casa. Mas, para muitas mulheres, Barbie representava essa figura que não dependia de homens, que existia por si só.
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Greta explora o mundo irreal e cor-de-rosa da Barbie, em que mulheres estão no comando, contrastando com o mundo real em que os homens ditam as regras. Com graça e tiradas ótimas, deixa claro a necessidade de desprogramar a mente das mulheres para se libertarem deste domínio masculino. Mas não tem feminismo panfletário, não! Se tivesse, seria bem chato. O que tem é uma sátira afiada e afinada com a pauta do dia, que entretém e diverte, chama homens e mulheres pro debate e, de quebra, deixa muitas brechas para uma boa conversa depois do filme.
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