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Aprender a dizer não
Foto: Priscilla du Preez/ Unsplash
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Neste artigo:

Li um livro chamado O Ano em que Disse Sim (BestSeller), da roteirista e produtora Shonda Rhimes, há vários anos. Shonda era o tipo de pessoa que distribuía “nãos”. Não me identifiquei com a obra porque sou o inverso. Dificilmente digo não. Para tudo falo sim, sim, sim, na busca por agradar e não entrar em conflito com o outro.

Desde muito cedo, me acostumei a esse espaço estreito. Um lugar que cede meus metros quadrados para favorecer seja lá quem for. Ana, me empresta seu caderno? Sim. Ana, você pode ir comigo ali? Posso. Ana, você consegue abraçar este novo projeto? Claro. Deixei de passar férias onde realmente desejava para satisfazer ao outro, sem nem mesmo pesar opiniões. Aceitei que qualquer um entrasse no meu universo particular mesmo quando isso me intoxicava. Espezinhei minhas vontades para não desagradar. Me sentei no lugar que não queria. Dormi no pior quarto. Disse sim para mais um cachorro, apesar de saber que seria demais para mim.

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Reconhecendo os próprios limites

No último casamento, permiti que ele passasse por cima da minha integridade feito trator. De novo e de novo. Até sequer me lembrar de quem era. Mas nada disso parecia bastar para que conseguisse colocar estacas nos limites do meu terreno. E, quando achei que já tinha pronunciado todos os “sim” que poderia, ano passado distribuí mais uma porção deles, contrariando minha voz interna, minha alma e a mim mesma.

Espremi tanto que quase me perdi. Entretanto, outro dia, em uma conversa, diante de mais uma ideia que facilmente aceitaria, pedi para pensar. “Não me sinto segura para aceitar isso agora. Preciso ponderar”. Refleti comigo mesma, pesquisei sobre o assunto, conversei com um amigo de confiança, troquei várias ideias com o Marcos, meu namorado.

Dá para ser firme e gentil ao mesmo tempo

Precisava de tudo isso? Com certeza. Necessidade de me ouvir. Falar para ressoar. Escutar a mim mesma. Não quero mais dizer sim apenas para deixar o outro feliz comigo. E amargar o desconforto por longos períodos como consequência de acordos fadados ao fracasso. Não, não, não.

Ainda estou me acostumando a isso. A me proteger para a manutenção da minha inteireza. E ainda assim ser alguém amorosa e gentil. Demora um tempo, eu sei. Décadas em espaços diminutos nos moldam à estreiteza. Para ampliar, sair do antigo molde, há que se cultivar metros quadrados. Para a vida florescer.

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Conteúdo publicado originalmente na edição 277 da Vida Simples.

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