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    Paternidade ativa é decisiva para a saúde mental das crianças
    Jimmy Dean
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    De acordo com os dados divulgados pela Arpen-Brasil (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais), o início de 2023 registrou um cenário preocupante, com mais de 60 mil crianças inscritas no país somente com o nome da mãe durante os três primeiros meses do ano. Essas estatísticas suscitam questionamentos profundos acerca do impacto da presença, assim como da ausência, da paternidade na saúde mental e no bem-estar presente e futuro desses filhos.

    Por fazermos parte de uma sociedade que ainda entende que a função de cuidadora é exclusiva da mulher, e que a responsabilidade do homem nesse aspecto é menor ou até mesmo inexistente, muitas vezes as conversas sobre paternidade partem da ausência em vez da presença.

    Os dados que mostram o número de crianças sem o nome dos pais na certidão de nascimento vai muito além do número. Não são raros os casos de crianças, jovens e adultos que têm o nome de seu pai nos documentos, mas vivem o abandono paterno.

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    O tema da paternidade ativa tem ganhado outra dimensão nos últimos anos, e o tema passou a ser incluído no PNAISH – Programa Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, do Ministério da Saúde, com iniciativas que visam estimular a participação no parto e nos cuidados básicos com o recém-nascido, fortalecendo esse vínculo desde o início. A presença paterna é de grande importância para o desenvolvimento dos filhos – e para a saúde dos pais, também.

    Falando de presença, e de uma presença positiva, respeitosa, acolhedora, os benefícios para pais e filhos são inúmeros. A paternidade ativa fortalece os vínculos afetivos e emocionais com os filhos, além de trazer mais significado para a vida do pai. É crucial reforçar que o pai tem papel tão importante quanto o da mãe na vida de um filho. A presença paterna influencia diretamente o desenvolvimento cognitivo e social da criança. Além disso, impacta positivamente na saúde mental da mãe. A presença do pai tem benefícios sistêmicos.

    Os desdobramentos na saúde mental também ocorrem, de outra forma, na ausência. Ela opera grandes impactos na vida de uma criança – lembrando que essa criança será um adulto, que também trará esses traumas e vazios. Muito se fala na “pãe”, que é a mãe que exerce algo do papel do pai para minimizar de alguma forma os impactos emocionais nos filhos, mas pouco se diz sobre a carga emocional para a mulher e para a criança que vive esta situação.

    Hoje, a sociedade avançou nos debates sobre família, maternidade e paternidade, sobretudo por causa dos formatos de família que vão além do que é “tradicional”, mas a paternidade versus a saúde mental das crianças ainda é um tema que precisa de muita conversa e aprofundamento.

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    Países colonizados em geral, sobretudo de colonização de exploração, como o Brasil, são países fundados na violência contra os corpos femininos negros e indígenas, o que pautou a ausência paterna, nos filhos que nasciam sem pai conhecido. Ou seja, há uma linha histórica que dita esse modus operandi. Além disso, socialmente, os pais também, muitas vezes, viveram a incompetência paterna com seus próprios pais, sem demonstrações de afeto, sem diálogos e até mesmo com violência. Obviamente essa não é uma justificativa, não é uma desculpa, mas é como se o “ser pai” fosse um ensinamento que perdura – através das gerações – dessa forma.

    O que digo é que alguma geração vai ter que tomar a decisão de interromper esse ciclo. Então, cada vez mais, é preciso haver um convite para a reflexão não só dos novos pais, mas dos que já são pais, e até pais mais velhos, para que repensem sobre esse contexto e rompam com essa forma de paternar.

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    O estudo Atitudes globais em relação à igualdade de gênero, aponta que um quarto da população brasileira acredita que homens que ficam em casa para cuidar dos filhos são “menos homens”.

    Já os dados do relatório Situação da Paternidade no Brasil apontam que 82% dos pais brasileiros concordam que fariam tudo o que fosse necessário para estarem muito envolvidos com o cuidado do filho recém-nascido ou adotado nas primeiras semanas, mas 68% deles não tiraram sequer a licença-paternidade de cinco dias prevista por lei após o nascimento ou a adoção dos seus filhos.

    Infelizmente, vivemos em uma sociedade onde a ausência paterna é naturalizada. Ao assumirem o papel de cuidadores, muitos homens entram em conflito emocional, pois acreditam estar desempenhando um papel que não é deles. E isso tem consequências na criação das crianças.

    Uma paternidade saudável tem muito a oferecer na formação de um filho. Portanto, os pais precisam assumir que criar a criança é uma tarefa dividida por igual. Além disso, a presença é fundamental, bem como o diálogo com os filhos e a comunicação assertiva. Como diz o provérbio africano, “é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança.” A boa experiência dessa criança na sociedade, nessa aldeia, nessa comunidade começa no seu núcleo familiar.


    ANA TOMAZELLI é psicanalista e CEO do Ipefem (Instituto de Pesquisas & Estudos do Feminino e das Existências Múltiplas). Além disso, é mentora de Carreiras, Executiva em Recursos Humanos e, por mais de 20 anos, liderou reestruturações de RH dentro e fora do país. Formada em Jornalismo, hoje é mestranda em Ciências da Religião pela PUC-SP e membro do grupo de pesquisa RELAPSO (Religião, Laço Social e Psicanálise) da Universidade de São Paulo, também é pós-graduada em Recursos Humanos pela FIA-USP e em Negócios pelo IBMEC-RJ.

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