Locais com espaços verdes, acolhedores e que promovem uma conexão com a natureza são critérios que muitas pessoas desejam ao buscar um imóvel para morar. Nesse sentido, o paisagismo serve para criar ambientes dinâmicos e que aproximam os moradores de uma experiência de pertencimento ao meio ambiente. Embora no Brasil ainda sejam utilizadas espécies exóticas e presentes em outros países ou continentes, o paisagismo regenerativo oferece uma maior aproximação com a flora nativa a partir de um propósito sustentável.
Para o paisagista Ricardo Carbim, no livro Paisagismo sustentável para o Brasil: integrando natureza e humanidade no século 21*, cerca de 90% das espécies de plantas utilizadas em projetos paisagísticos no país não pertencem aos biomas nativos. As motivações para essa escolha acabam por ser estéticas e comerciais, embora o Brasil seja um dos países mais ricos em biodiversidade do mundo.
Diferente do paisagismo convencional, as técnicas regenerativas mostram que é possível criar um espaço com verde que não tenha apenas apelo estético, mas que também seja sustentável e contribua para o ecossistema local.
A ideia do paisagismo regenerativo é principalmente privilegiar espécies nativas, endêmicas e com risco de extinção. Assim, há uma difusão da floral local a partir de projetos do tipo. Além disso, iniciativas com foco regenerativo ajudam a melhorar a saúde do solo, contribuem para o sequestro de carbono e estimulam a biodiversidade.
Paisagismo regenerativo na prática
Com o objetivo de projetar um jardim regenerativo com foco em espécies da flora nativa e ameaçadas de extinção, o paisagista João Queiroz assumiu a responsabilidade de construir um espaço que imprimisse a identidade e o contato com a natureza. O projeto, que está em fase de implementação, é um desejo antigo do casal formado pela modelo, artista plástica e designer de joias Mônica Benini e o músico Junior Lima. No entanto, a iniciativa contou com uma transição gradativa de espécies exóticas para um ecossistema sustentável que pudesse beneficiar a fauna e flora local, além de estar alinhado com os valores da família.
Para Mônica Benini, o desejo de viver no campo e a conexão com o ambiente exige não só uma presença ativa, mas conexão com o lugar. Nascida no interior do Rio Grande do Sul, a relação com a natureza é uma marca de sua identidade pessoal. Por isso, quando ela, Junior Lima e os filhos do casal – Otto e Lara – se mudaram para a propriedade, a ideia era pertencer ao lugar. “Fazer daqui um cenário para viver e entrar em um espaço com uma natureza abundante e diversa. Além disso, precisamos compreender como podemos melhorá-la”, explica a comunicadora.
Por isso, Mônica queria promover um espaço funcional e prático, que ao mesmo tempo pudesse proporcionar uma relação de troca com o ecossistema local. “Preservar e potencializar o que a natureza já tem e não o contrário”, esclarece.
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Potencial regenerativo e ecológico
Para construir um jardim regenerativo e com espécies da flora local, o casal contou com o trabalho do paisagista João Queiroz, que se dedica a desenvolver projetos desse tipo. A conexão de ambos com o meio ambiente e o respeito e zelo pela natureza transformou o trabalho em uma relação de parceira ainda mais enriquecedora. O especialista contou também com a ajuda de uma botânica e um agrônomo para a reconstituição do espaço.
O processo está sendo feito por fases. Isso porque, além do fator da dimensão da área, o risco da troca de muitas espécies de uma vez poderia desestabilizar o ecossistema. O jardim, que antes era belo, mas feito de espécies exóticas, terá um solo fértil para o replantio de plantas. “Com o solo regenerado, diminuiremos drasticamente a incidência de pragas e doenças. Além disso, com as plantas em seu habitat natural, a demanda hídrica despenca e a manutenção também. Assim, eles terão um jardim lindo com baixa demanda de manutenção“, diz o paisagista.
“Além de todo o trabalho de regeneração e reconstituição do bioma, estamos fazendo um trabalho minucioso para combater espécies exóticas invasivas que já tinham se estabelecido no terreno”, destaca o paisagista. Para João Queiroz, a regeneração do solo é um conceito que ganha cada vez mais força no paisagismo e se destaca pela forma ecológica de cultivo e revitalização da saúde do terreno ao invés do uso de produtos químicos.
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O jardim como um manifesto sustentável
O paisagista João Queiroz, que partilha de valores semelhantes aos do casal, buscou construir um projeto em sintonia com os objetivos de Mônica Benini e Junior Lima. Filho de uma geração de fazendeiros, o paisagista sempre prezou por princípios sustentáveis e regenerativos do solo.
“Eu comecei a ver várias similaridades da minha vida com os problemas das plantas, compreendi que há um caminho quando você se conecta com a natureza. Você passa a se perceber como natureza e isso te coloca em uma jornada de autoconhecimento“, explica ele à Vida Simples.
Para o paisagista, é importante combater o que chama de “cegueira botânica” e passar a perceber e se conectar com os espaços verdes da cidade e do campo. Mas, não só isso, como também respeitar os tempos da natureza e compreender que práticas regenerativas e sustentáveis são o futuro e parte da solução para a crise climática.
“O jardim já começou a virar um manifesto sustentável. As pessoas já enxergam como um corredor polinizador e de passarinhos, como um lugar de acolhimento de outras espécies“, explica. Embora, para o especialista, o jardim no Brasil ainda seja um elemento estético das casas e composto por espécies europeias. Nesse sentido, é preciso virar a chave e caminhar para um ambiente de maior autoconhecimento e conexão com a flora nativa.
7 dicas para adotar o paisagismo regenerativo na sua casa
Implementar ideias de paisagismo regenerativo em casa pode tornar o seu espaço mais sustentável, ecológico e amigável ao meio ambiente. Além disso, o próprio João Queiroz, paisagista entrevistado pela matéria, mantém um espaço verde e acolhedor em seu apartamento.
Por isso, a Vida Simples reuniu dicas de como implementar os conhecimentos do paisagismo regenerativo para casas mais funcionais, verdes e sustentáveis.
- Observe o local: Antes de iniciar qualquer projeto, observe bem o seu espaço ao longo do dia. Preste atenção na incidência do sol, sombras, vento e áreas mais úmidas ou secas. Essas informações são fundamentais para planejar o paisagismo adequadamente.
- Escolha plantas nativas: Opte por plantar espécies nativas da sua região. Elas geralmente são mais adaptadas ao clima local, exigindo menos manutenção e recursos hídricos. Além disso, contribuem para a preservação da biodiversidade local.
- Preze pela conservação da água: Planeje um sistema de captação e reutilização de água da chuva. Utilize técnicas de irrigação eficientes, como gotejamento e aspersão direcionada, para evitar desperdícios. O uso de canteiros elevados e a cobertura do solo com materiais orgânicos também ajudam a manter a umidade no solo.
- Pratique a compostagem: Implemente a compostagem em sua casa para transformar resíduos orgânicos em adubo rico para suas plantas. Isso reduzirá a quantidade de lixo que você produz e fornecerá nutrientes naturais para o solo.
- Habitat para vida selvagem: Crie espaços amigáveis para animais e insetos locais, como borboletas e abelhas, utilizando plantas que atraiam essas espécies. Caso tenha espaço, crie uma área de refúgio com pedras e troncos, onde pequenos animais possam se abrigar.
- Mulching: Utilize coberturas mortas, como palha ou casca de árvore, ao redor das plantas para conservar a umidade do solo, controlar o crescimento de ervas daninhas e melhorar a qualidade do solo com o tempo.
- Utilize recursos locais e sustentáveis: Ao construir elementos, como caminhos, bancos ou canteiros elevados, procure utilizar materiais reciclados, reutilizados ou provenientes de fontes sustentáveis.
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