“Eu tenho toda a coleção da Vida Simples, desde a número um”, releva Luciana Pianaro, CEO da marca que adquiriu em 2018 depois de meses de negociação com os antigos proprietários. Hoje, sente que chegou ao seu propósito, gerenciando a Vida Simples e produzindo conteúdo na publicação que sempre admirou e que costumava comprar nas bancas para ler com calma.
Mas, a história da empreendedora começa bem antes, em Curitiba, no Paraná, quando ainda adolescente passou no vestibular do curso de Administração da Universidade Federal do Paraná. De lá para cá foram muitas mudanças de rumo. Por isso, ler e acompanhar as temáticas de autoconhecimento e inteligência emocional da Vida Simples fez toda a diferença na vida de Luciana. “Ao mesmo tempo que eu era aquela executiva racional, pé no chão, determinada, eu também tinha um lado emocional frágil que precisava ser trabalhado”, explica Luciana sobre a importância das reflexões que a publicação trouxe para o seu desenvolvimento pessoal, impactando na liderança humanizada, que hoje defende.
Valores simples enraizados em sua história
A infância e a juventude foram períodos desafiadores para Luciana — ou melhor, para a Lu, como gosta de ser chamada. Ela ajudava no cuidado da casa e no trabalho de agricultura dos pais. “Vi meu pai perder tudo na roça, a minha mãe sofrendo, pedindo emprego para meu pai. Então, eu valorizo muito o que eu tenho hoje porque sei de onde eu vim. E honro muito essa história, que me deu uma noção de simplicidade, de valores, de trabalho, de luta”, conta.
Apesar da origem familiar humilde — seus pais estudaram até a 4° série —, a prioridade da casa com três filhas sempre foi a educação, vista como uma potente ferramenta de transformação e mobilidade social. Não à toa, todas estudaram em escolas pública, inclusive na graduação. “Na época não tinha outra opção, se não passasse na ‘federal’, não teríamos como seguir os estudos. Sou muito grata pelo que o ensino público nos permitiu”, afirma Luciana.
Determinada a desenvolver uma carreira consistente e um dia se tornar CEO de alguma grande empresa, Lu escolheu o turno da noite para estudar, assim poderia se dedicar a estágios durante o dia. E foi na Volvo, multinacional sueca de veículos pesados, empresa a qual se dedicou por sete anos, que iniciou sua carreira executiva. Fez bons amigos e colegas de trabalho, mas decidiu mudar a rota para empreender. Desde então, dedicou-se ao empreendedorismo, aprendendo com os erros e desafios de se gerir um negócio próprio.
“Eu sempre tive um espírito empreendedor”
Lu percebeu que, depois de anos com carteira assinada, sentia que era importante abrir as asas e alçar novos voos. “Eu tinha um ímpeto de empreender muito forte. Só que, como minha família enfrentou dificuldades, eles sofreram um pouco com essa escolha da filha, porque é uma área que sempre tem riscos”, conta.
Pedir demissão foi uma decisão que exigiu planejamento e muita coragem. “Na época, eu quis sair da empresa porque aquilo não estava mais fazendo sentido para mim. Eu questionava se era aquela empresa, mas no fundo mesmo, questionava meus talentos e o que queria seguir”, explica Lu.
Hoje, com mais clareza e maturidade, a empresária entende que estava buscando um caminho em que se sentisse em uma profissão alinhada com seus valores pessoais. “Sabe, no fundo eu entendo que estava em busca do meu propósito, mas na época eu não sabia dar nome àquilo“, relembra.
E, por sorte, sempre encontrou bons amigos e colegas de profissão pelo caminho, fazendo do machismo um pequeno coadjuvante que dificilmente surgia em sua vida. “Tive dificuldades em me posicionar como uma mulher líder, mas creio ser normal no começo, até que as pessoas entendam que você está ali para ser um farol, e não uma âncora”, defende.
Outras situações, como a sensação de Síndrome da Impostora ou situações em que teve o seu trabalho questionado foram, sem dúvidas, limitantes para o seu desenvolvimento profissional. “Durante muito tempo, ainda que soubesse do meu valor de forma racional, eu ainda me autossabotava”, acrescenta. Por diferentes fatores, como a desigualdade de gênero e a misoginia, a Síndrome do Impostor atinge especialmente mulheres, o que acaba vulnerabilizando suas carreiras em diferentes áreas.
“Sabia do meu esforço, da dedicação, da coragem e da resiliência. Mas, infelizmente, eu sentia algumas colegas me hostilizando, o que acabou por me fazer duvidar de minha capacidade em vários momentos”, explica Lu, que tratou de dar a volta por cima e entender que aquelas questões eram provocadas pelo ambiente e não representavam quem ela realmente é.
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– Um pouco mais sobre Luciana Pianaro
O encontro com um parceiro de vida e de negócios pelo caminho
Na época em que buscava respirar novos ares, Lu acabou encontrando também um novo amor. Conheceu Eugenio Mussak, seu parceiro de vida e de negócios durante uma tarde de passeio em um parque. “Ele é um cara incrível, uma pessoa cheia de ideias, mas muitas vezes mais aéreo. Eu, a prática e organizada, assim unimos o útil ao agradável”, brinca.
“Eu resolvi pedir demissão da Volvo para trabalhar com ele, foi meu primeiro grande passo na carreira empreendedora. Montamos juntos uma consultoria de treinamento em liderança”, explica Lu.
A partir dali, construíram muitos projetos e Lu adquiriu experiência em diversas funções, afinal, com uma empresa pequena e pouco recursos, Lu acabava sendo a CEO, gerente de marketing, atendimento, financeiro e por aí vai. Foi também uma época em que fez contatos importantes com diferentes pessoas do mundo corporativo, que lhe inspiravam e traziam aprendizados constantemente.
Para lidar com todas as incertezas de um novo momento, as leituras das edições da Vida Simples foram uma das ferramentas utilizadas para buscar equilíbrio. “Eu abria uma Vida Simples como se fosse um oráculo e dali, surgiam inspirações”, revela.
Sua jornada empreendedora na Vida Simples
Luciana acreditava ser necessário que as pessoas entendessem mais de si mesmas para ter uma vida e carreira mais equilibrada. “Eu queria ser CEO, mas também queria ter uma família e para isso, precisava de um equilíbrio”. Percebeu que seu desejo era também uma necessidade de outros e montou um plano de negócios que consistia em uma plataforma de educação socioemocional para ajudar adultos a se compreenderem melhor. “Nem todo mundo aceita a terapia, mas a educação também tem o potencial de transformar a consciência”, defende. Apresentou sua ideia aos diretores da Vida Simples, que na época pertencia a uma grande editora nacional. Mas o projeto não foi em frente na ocasião.
Com a crise das empresas de jornalismo que abalou o mercado algum tempo depois, muitas revistas e jornais impressos deixaram de circular, e com a Vida Simples não foi diferente. Mas, como Luciana tinha estado na editora para apresentar seu projeto, eles lembravam que ela poderia ser uma pessoa que pudesse dar continuidade à revista. Apesar de parecer fácil, adquirir o título não foi tão simples e custou mudanças importantes para a vida do casal. “A gente resolveu vender o nosso apartamento para poder comprar a Vida Simples”, explica.
E, segundo Lu, o início dessa nova jornada empreendedora com a Vida Simples foi um dos maiores desafios de sua vida, desde organizar processos de um produto que estava em declínio até buscar investidores na área. “Todo mundo adorava o meu brilho nos olhos, mas falavam: você é maluca querendo comprar uma revista neste momento em todo mercado está em crise?”, conta a CEO em meio às risadas.
“Mas eu não estava comprando uma revista, estava comprando um conceito, um legado de conteúdos necessários ao mundo, uma marca“, conta Lu, mantendo seu brilho no olhar.
Liderança feminina
Hoje, quatro anos depois de se comprar a marca que sempre admirou e de ter se tornar sua guardiã, como ela se define, Lu também foi percebendo a necessidade de criar um jeito de liderar mais humano e próximo da equipe e que respeite os tempos da vida. “Eu acredito muito em uma liderança mais humanizada justamente porque a gente sabe que todos nós temos problemas, independente dos cargos. Todo mundo tem seus traumas, suas dores, seus medos, inseguranças e isso foi muito ampliado na pandemia”, defende.
“Se a gente consegue compreender que todo mundo é igual com suas limitações e dificuldades, a gente pode se ajudar mais”, acrescenta. Uma das suas bandeiras é a defesa da liderança feminina e da diversidade no mundo corporativo.
“Eu acho que a gente já fez um grande avanço e fico feliz quando vejo mulheres se destacando nesse cenário”, conta Lu. Não à toa, quase 70% da equipe da Vida Simples é composta por mulheres e LGBTQIAP+.
Luciana finaliza dizendo que sonha em contribuir para que os brasileiros de qualquer raça e classe social possam ter as mesmas oportunidades de desenvolvimento socioemocional. “Estando bem emocionalmente, a gente encontra forças para enfrentar qualquer dificuldade com dignidade. E se depender de mim, quero levar este desenvolvimento para todos”.
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