Há um tempo, trouxe meu filho Gianluca, prestes a completar um ano, para o escritório. O motivo? Para que ele pudesse conhecer seu “irmão mais velho”, o meu trabalho. Isso aconteceu depois de ele ter nascido na pandemia e ter passado o início da sua vida no ambiente seguro da nossa casa, trabalhando comigo no quarto ao lado diariamente.
Lembro como se fosse ontem da escolha em optar por uma licença de apenas trinta dias e não me arrepender por isso. Algumas pessoas questionaram e julgaram, mas a escolha foi minha. Eu quis voltar. Claro que eu amo meu filho, mas também amo meu trabalho. Agora, olho para trás e vejo o quanto cresci, enquanto pessoa e como profissional, em meio a tantas transformações.
Trabalho visto como “filho”?
Desde que me tornei mãe tenho esse desafio duplo de lidar com as demandas maternas, mas também estar presente no dia a dia da minha empresa, a qual considero meu primeiro filho – que me dá alegrias, cansaço e frio na barriga na mesma medida.
Para quem acha uma comparação impossível, eu explico: são mais de dez anos de muito planejamento, dedicação e esforços diários. Inúmeras noites sem dormir, dor, cansaço físico e mental. Uma jornada intensa para chegar até onde cheguei e ter a responsabilidade de manter os melhores serviços e entregas, além de garantir um clima harmonioso entre o time interno, permitindo oportunidades iguais para todos. O time lá de casa também demanda uma necessária organização, é uma logística complexa em alguns momentos.
Rede de apoio é essencial
Não é uma tarefa fácil administrar tantas diferentes responsabilidades. Nos primeiros seis meses do nascimento do Gianluca, foi tudo ainda mais difícil por causa da amamentação exclusiva. Mas eu consegui! E isso me dá muito orgulho. Confesso que, como mãe de primeira viagem, sem o suporte familiar e profissional que tive teria sido impossível “cuidar também do filho mais velho”, já que, por diversas vezes, tive até mesmo que interromper reuniões virtuais para voltar a atenção à amamentação do pequeno.
Certamente o trarei outras vezes ao meu trabalho presencial, momentos especiais em que posso juntar com toda intensidade os meus dois filhos de uma única vez, na minha segunda casa.
E reforço o que já mencionei antes: esse equilíbrio para ser uma líder empreendedora e mãe só continua sendo possível pela rede de apoio à minha volta. Pessoas queridas – mais do que isso: meus parceiros – que permitem esse arranjo, em casa e no trabalho.
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Desigualdade e o desafios das mães solos
Minha felicidade só não é completa porque penso nas milhares de mães brasileiras que desistem das suas profissões ou desistem de empreender por não ter como cuidar dos filhos ao mesmo tempo. Ou pior: são obrigadas a deixar os filhos em situações vulneráveis para buscar um mínimo de renda para sustentar a família. A grande maioria, mães solos. Nestas horas, programas de distribuição de renda que beneficiem a categoria são mais que bem-vindas, são imprescindíveis. Quem já passou uma noite sem dormir e teve que trabalhar de pé depois de uma ou duas horas no transporte até o trabalho poderá entender onde quero chegar.
Quero exaltar ainda as mulheres de meus grupos de convívio diários, que estão pouco a pouco conquistando seu lugar ao sol. E aos homens que apoiam as mulheres, que nos tratam com o respeito e igualdade que tanto almejamos de modo natural, como deveria ser.
Infelizmente, de outro lado, ainda temos mulheres que apesar de manifestarem-se como apoiadoras das causas femininas, na prática, não vejo este apoio ser tão efetivo. Assim como temos muitos homens com comportamentos inadequados e ainda um longo caminho a percorrer neste sentido, é mais chocante para mim ver certos comportamentos partindo de outras mulheres. Verdade seja dita.
Parabenizo, ainda, todas aquelas que às vezes sem o devido reconhecimento travam diariamente lutas grandes pessoais que as trazem até aqui. Temos em nossas mãos as ferramentas (entre o ambiente empresarial e o público) para disseminar nossos valores entre outras mulheres e junto aos homens e o meu desejo é que possamos reconhecer também aquelas e aqueles que, silenciosamente, fazem a real diferença.
Escolhas durante o caminho
Aproveito aqui para agradecer a força, a inspiração e as conversas paralelas que tivemos, pois não conseguiria cuidar de tudo ao mesmo tempo sem apoio. Tive nesta jornada dupla até aqui, amargas decepções, mas inúmeras boas surpresas. Portas fechadas por quem eu achava que me apoiaria e portas abertas por quem eu talvez pensasse que não fosse me estender a mão neste momento tão particular na vida de uma mãe. Pessoas que simplesmente perguntaram se estava tudo bem, porque às vezes não estava, e outras que simplesmente ignoraram o meu momento. Como se fosse fácil ter chegado até aqui!
Mas a vida é feita de escolhas e estou muito feliz com as minhas. Por mais difícil que seja o caminho nesta jornada, quando crescemos enquanto seres humanos, quando conseguimos conciliar tantas responsabilidades e em meio a isto ainda fazer um pedacinho do mundo um lugar melhor, quando selecionamos as melhores pessoas para caminhar conosco, tudo é possível. E muito gratificante!
JULIANA CELUPPI é sócia-Diretora do Radar Governamental. Advogada, Pós-graduada em Direito Econômico pela Fundação Getúlio Vargas. Possui mais de uma década de experiência na atuação em relações governamentais, tendo trabalhado em grandes empresas como Ambev e Contax (Liq). Co-fundadora da Associação Mulheres em RelGov – MRG. Foi Conselheira do Instituto de Relações Institucionais – IRelGov, ganhadora do Anuário ORIGEM como uma das 20 profissionais mais admiradas do mercado de RelGov, eleita pelo WWL (Who’s Who Legal) entre os melhores advogados de RelGov do Brasil e figura no ranking dos melhores escritórios de RelGov do Brasil pelo Leaders League, entre outras recomendações e prêmios do mercado.
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