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    Os desafios de uma mulher na liderança de uma grande empresa no Brasil
    Arte: Carolina Vellei arte: carolina vellei
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    Olhar assertivo, espírito de liderança, visão de futuro e inspiração para muitas pessoas. Essas são algumas das características que me ajudam a descrever Karla Felmanas, empresária do Grupo Cimed. João de Castro Marques, seu pai, criou a empresa na década de 1970, com cerca de 20 funcionários e um leque de apenas cem produtos à venda. Karla iniciou sua vida profissional na empresa da família bem cedo, com 16 anos e hoje ocupa o cargo de Vice-Presidente, depois de conhecer de perto todas as peças da engrenagem do negócio.

    Desde aquela época, ainda jovem, Karla começou a fazer parte da equipe da empresa, no chão de fábrica mesmo, auxiliando onde havia necessidade. “Meu pai trouxe a minha mãe para trabalhar ao seu lado. O poder feminino começa desde cedo na Cimed”, explica a empresária, que se inspira na mãe como um exemplo de liderança a ser seguido com seus funcionários.

    Karla Felmanas ocupou diferentes cargos nas áreas de compras, controladoria, tecnologia e recursos humanos quando a inclusão das mulheres nas empresas ainda era muito pequena e pouco debatida dentro dos ambientes corporativos. Quantas e quantas reuniões eu participei em que só tinham homens?”, questiona a empresária sobre os desafios que passou.

    Para se mostrar capaz, Karla precisou provar sua competência em muitas situações que as pessoas chegaram a duvidar das demandas que assumia dentro da empresa. 

    A culpa e a busca por equilíbrio entre maternidade e trabalho

    Com o casamento, a empresária precisou conciliar o trabalho com a maternidade de três filhos, um desafio naqueles tempos, apesar de receber apoio de sua rede de cuidado e ter auxílio profissional. Será que eu estou fazendo certo deixar as crianças em casa e sair para trabalhar?”, perguntava-se. Era apenas uma das quatro mães do colégio dos filhos que atuava no mercado, fugindo do estereótipo de dona de casa comum entre as mulheres de classe média. “Parecia que eu era um E.T.”, brinca Karla. 

    Apesar dos conflitos internos, nunca deixou de dar amor e apoio às crianças, ao mesmo tempo em que se dedicava às atividades da empresa. Sempre se esforçou para dividir suas tarefas. Em casa, dedicava seu tempo e energia à família. Na empresa, focava em questões burocráticas do negócio.

    Recentemente, em uma publicação no LinkedIn, Karla tratou com muito respeito os rumos que seus filhos desejam seguir, afinal, não adianta traçar planos para as pessoas que a gente ama se não respeitamos seus desejos e propósitos de vida. “Aqui na Cimed, já temos 4 dos 6 sucessores atuando na empresa, dois em cargos de liderança e outros iniciando a carreira e equilibrando o início da vida profissional com as demandas da faculdade”, uma forma de manter o legado da família e a trajetória que ela percorreu com o irmão, João Adibe, ao lado dos pais.

    Ela conta que sempre teve consciência das características da nova geração e que não funcionaria implementar o mesmo modelo que o pai adotou com os filhos. “Não acho que o número de sucessores atuantes deva ser medido como fator de sucesso. Temos que lembrar que, antes de tudo, são pessoas que precisam e merecem ser felizes, não faz sentido termos uma futura liderança infeliz, desmotivada e que não é exemplo para os profissionais“, explica.

    Karla Felmanas, João Adibe (seu irmão), com os filhos. Foto: Reprodução/LinkedIn

     

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    Em 2021, a revista Forbes destacou 20 mulheres de sucesso em diferentes áreas profissionais, incluindo a Karla. Um título de reconhecimento por todo trabalho que teve durante sua atuação profissional. Depois de ter iniciado uma graduação em Moda, a empresária trocou o ramo da confecção para atuar diretamente na empresa da família, uma mudança que precisou de muito planejamento para alterar a sua rota.

    Mas lembra de todas as questões envolvendo a maternidade? Foi dos filhos que saiu o principal reconhecimento para a empresária. “Ter tido o reconhecimento dos meus filhos trouxe a sensação de que: ‘nossa, eu fiz a coisa certa’”, conta emocionada. Apesar do pouco tempo, da relação entre a maternidade e os cargos de chefia, saber do orgulho de seus filhos pelo seu trabalho foi tão gratificante quanto a publicação em um veículo de comunicação. 

    Responsabilidade social e liderança feminina

    Com um olhar cuidadoso para as questões de diversidade, Karla se inspira na mãe, uma mulher visionária dentro da empresa que assumiu diferentes cargos, embora tenha falecido precocemente vítima de um câncer de mama. Passar por essa situação dentro da família fez não só com que a empresária tivesse um olhar muito mais atento para suas questões de saúde, como também passou a difundir informações e engajar pessoas por meio de sua conta no Instagram.

    Eu tenho uma responsabilidade social de falar sobre a participação feminina no mercado de trabalho, porque você só abre o olho quando você convive com alguém próximo”, conta. 

    Hoje, 40% dos cargos de gestão dentro da empresa são comandados por mulheres, uma conquista que levou a empresa a quase alcançar a igualdade de gênero. Além disso, Karla tem políticas expressivas contra o machismo dentro do ambiente corporativo, especialmente quando envolvem situações que diminuam ou fragilizem a atuação profissional das mulheres que estão na empresa.

    Mas não para por aí. Karla Felmanas sempre busca estar próxima da comunidade, com ações sociais, e engajando o quadro de funcionários da empresa. Uma das iniciativas, a Árvore dos Desejos, busca realizar o sonho de diferentes trabalhadores da Cimed. “Ao todo, são mais de 3 mil desejos, entre a compra de aparelhos auditivos, tratamento dentário, reforma de carro, próteses, uma passagem para visitar um ente querido, entre outras”, explica em uma publicação.


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