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Como funciona o metaverso e o que esperar dessa tecnologia?
ILUSTRAÇÃO: ISTOCK Parece novidade, mas o metaverso já havia sido imaginado no início dos anos 1990. A ideia é de um mundo virtual no qual você não interaje na tela, mas “dentro” dela, por meio da ilusão criada graças aos headsets
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Imagine uma internet tridimensional, em que o usuário pode entrar e caminhar de apli­cativo em aplicativo. Reunião de trabalho? Bata na porta do Zoom e sente-se com seus colegas em torno de uma mesa. Aula? Haverá uma sala no Meets, com carteiras e a versão em pixels do seu professor.

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Eis o que temos chamado de metaverso, um mundo que já é familiar para muita gente – e um grande enigma para tantas outras.

Embora seja a novidade dos últimos tempos, o termo foi cunhado pelo escritor de ficção científica Neal Stephenson em 1992. Ele imaginava uma versão imersiva e distópica da internet, em que usamos óculos especiais para ter a ilusão de estar dentro da rede, encarnados em avatares 3D.

Quase 20 anos depois, em outubro de 2021, o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, anunciou que a empresa – também dona do WhatsApp e do Instagram – estava mudando de nome para Meta, e passaria a focar seus esforços na implantação de um metaverso para valer.

Zuckerberg, vale dizer, não é o proprietário do metaverso, pois ele é algo descentralizado como a internet. Qualquer empresa poderá ter endereços lá dentro.

Como funciona o metaverso?

Para acessar essa realidade virtual, os usuá­rios precisam de headsets. Essas engenhocas são capacetes que forram todo o campo de vi­são.

Isso fornece a ilusão de que você está den­tro da tela, e não meramente olhando para ela. Não por coincidência, a Meta é dona da em­presa Oculus, especialista nesses gadgets.

Uma vez imerso na máquina, seu corpo é substituí­do por um correspondente digital: um boneco 3D chamado de avatar.

Para que você possa comandá-lo, o headset é acoplado a detectores de movimento. Quando você se mexe na vida real, seu boneco se mexe no metaverso.

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Cortina de fumaça ou um plano (quase) secreto?

Na prática, esse investimento do Facebook também foi uma tentativa de atenuar uma cri­se baseada em dois escândalos: em 2016, uma empresa britânica usou dados de usuários do Facebook, coletados sem consentimento, para assessorar a campanha que levou à eleição de Donald Trump nos EUA.

Mais tarde, em maio de 2021, uma ex-funcionária revelou que o Facebook ignorou relatórios internos sobre os impactos sociais negativos de suas operações.

O anúncio do metaverso pode ter sido uma cortina de fumaça, mas também é um plano de longo prazo. Raja Koduri, vice-presidente da Intel, já afirmou que a capacida­de de processamento das placas de vídeo e CPUs atuais precisa aumentar mais de mil vezes.

Isso para dar conta de um metaverso minimamente realista – em que, por exem­plo, as expressões faciais dos usuários se traduzam nos avatares com alguma fideli­dade.

O que são os fungíveis e os não fungí­veis

O Horizon Worlds, protótipo de me­taverso do Facebook que já opera hoje, só comporta algumas dezenas de pessoas por sessão, e os avatares são cartunescos.

Um problema de viver o cotidiano dentro da rede é lidar com propriedade privada. Os economistas da vida real dividem bens em dois tipos, os fungíveis e os não fungí­veis.

Os fungíveis, grosso modo, são aque­les que podem ser substituídos por outros idênticos sem prejuízo. Como uma nota de dez reais, uma barra de ouro ou um saco de arroz.

Os não fungíveis, por sua vez, são aqueles dos quais há apenas uma cópia: a Mona Lisa, a sua casa, um manuscrito do Machado de Assis.

Dentro de um computa­dor, bens desse gênero são uma impossibi­lidade: qualquer arquivo pode ser copiado infinitas vezes. Se Machado tivesse digita­do Dom Casmurro no Word, todos podería­mos ter o arquivo – e ele não valeria nada.

O mundo “exclusivo” das NFTs

O que é o metaverso A questão é saber se essa nova maneira de se relacionar, trabalhar e estudar será saudável e positiva para nós –
ou se seu potencial viciante, como acontece com os celulares, pode trazer também prejuízos de que precisaremos cuidar

É por isso que surgiram as NFTs, sigla em inglês de “token não fungível”. Imagine, apenas para fins didáticos, uma foto no seu celular que impede prints.

Também não é possível enviá-la por WhatsApp ou postá-la no Instagram. Se você der ou vender a foto para alguém, ela some do seu smartphone e passa a ficar armazenada na memória do aparelho do novo dono.

Isso é uma NFT: um item digital único, não fungível. O mesmo sistema de segurança que permite as NFTs, chamado blockchain, permite a existência do bitcoin e outras criptomoedas: as no­tas são como “fotos” intransferíveis.

Caso contrário, daria para copiar e colar seus bi­tcoins, equivalente a imprimir dinheiro, ge­rando uma inflação incontornável.

Já existem empresas vendendo NFTs em metaversos rudimentares, bem como ini­ciativas mais ousadas: no começo de dezembro, um casal da Flórida celebrou seu matrimônio numa sala virtual projetada pela empresa Virbela.

Será que o metaverso tem futuro?

Com o isolamento social, a ausência de ambientes virtuais para viabilizar o cotidiano pandêmico for­çou o Vale do Silício a pensar no metaverso como algo mais plausível e não tão distante.

Uma possibilidade é que ambientes de realidade aumentada se tornem o futuro do home office pós-pandêmico e pade­çam do ranço corporativo.

Depois de um dia de reuniões infrutíferas ou aulas de química com um headset na cabeça, tal­vez ninguém vá querer alongar sua esta­dia no metaverso após o expediente.

Por outro lado, a internet imersiva pode ser um passo além na interação hipnótica e comprovadamente viciante que já estabe­lecemos com nossos celulares.

Isso quer dizer que a interface dos apps é pensada para manipular nossa atenção, e recursos similares de psicolo­gia comportamental estarão disponíveis aos designers de mundos 3D.

Desigualdade social também acontece no metaverso

Outro problema é a desigualdade online, que no Brasil já se manifestou na dificul­dade de alunos carentes em assistir aulas durante a pandemia.

Neal Stephenson também especulou em seu romance Snow Crash que pessoas mais pobres sofreriam com pontos de acesso públicos a essa rede imersiva. De acordo com o texto, eles forneceriam avatares de baixa definição, criando uma nova forma de discriminação social.

A tecnologia é nova, mas a lição é a mes­ma de sempre: computadores fornecem possibilidades, seres humanos decidem o que fazer com elas.

Nas próximas décadas, Zuckerberg e os demais empresários da Ca­lifórnia sem dúvida obterão a capacidade técnica necessária para tirar do papel uma realidade virtual razoavelmente acessível e funcional.

Resta saber se terão responsabi­lidade com quem estiver dentro dela.

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BRUNO VAIANO é repórter de nuvens, pássaros e universos paralelos (inclusive os virtuais). Escreve sobre ciência e tecnologia na Superinteressante e no IQC.


Conteúdo publicado originalmente na Edição 240 da Vida Simples

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