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    Como discordar em uma conversa sem transformá-la em briga
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    Uma bola de neve. Tudo começou quando Cláudio chegou à conclusão de que não seria uma boa ideia ter um filho com Carla naquele momento. Mas a companheira, que deseja se tornar mãe, avalia que aquele é o período ideal para a gravidez: estão com bons empregos, financeiramente estáveis e saudáveis. Mas o “não” ríspido de Cláudio levou a uma discussão sem fim na vida do casal, somado a dias com a comunicação fragilizada e ambos magoados. Discordar em uma conversa nem sempre é fácil, mas evitar que outro ponto de vista gere uma briga é algo que podemos implementar nas relações pessoais, seja na família ou no trabalho.

    O que vai determinar nossos sentimentos diante de um tensionamento em uma conversa é a maneira como a interpretamos. Por isso, um diálogo claro, objetivo e gentil pode evitar reações raivosas. “Essas interpretações surgem na nossa mente de forma muito rápida e espontânea e nem sempre percebemos o que passou na nossa cabeça, apenas reagimos”, explica Maria Eduarda Monteiro, psicóloga do Grupo Epicus Outlier.

    Segundo a especialista, no calor do momento, fica difícil processar tudo com calma e poder dar uma resposta que não gere atritos. Por isso, ela defende que é importante cada um estar atento aos pensamentos que surgem durante uma conversa ou resolução de um problema. Embora os personagens do parágrafo inicial do texto sejam fictícios, divergências são corriqueiras na vida das pessoas e, às vezes, um bom diálogo pode evitar uma dor de cabeça.

    Como discordar de forma respeitosa e saudável?

    Vamos separar em pastas mentais. Há casos e casos. O primeiro passo para discordar é avaliar o conteúdo da mensagem do interlocutor. “Não dá para amenizar ou suavizar exposições de preconceito e violação de direitos, colocadas como ‘posicionamento pessoal'”, esclarece Morgana Moreira Moura, psicóloga e doutora em Estudos de Cultura Contemporânea. Segundo a especialista, isso já não é caso de discordância, mas sim de apontar a agressão proferida por alguém em uma conversa.

    Por outro lado, se estamos falando de relações saudáveis, podemos discordar sem que isso gere um ruído na comunicação. Segundo Morgana Moura, que também é mestre Psicologia Social, as orientações do próximo tópico não devem funcionar como uma receita de bolo, já que as relações humanas são complexas, mas podem nos mostrar uma luz sobre o tema.

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    1. Fique atento no caso de emoções explosivas aflorarem ao longo da conversa. Sentir raiva, ira ou falas impulsivas pode ser um sinal de que é necessário pausar o diálogo. “Quando se perceber nessa afetação, sugira retomar o assunto em outro momento, para que possa se expressar com melhor clareza”, explica Moura;
    2. Agora, identifique o ponto de discordância que existe no diálogo entre você e o interlocutor. “Para se colocar de forma saudável é sempre bom estar atenta à fala da outra pessoa, ouvir com atenção de fato e não somente ficar na expectativa de sua própria fala“, defende a psicóloga. Portanto, assuma uma posição de presença ao que o outro tem a dizer;
    3. Depois que a fala foi concluída, inicie apontando os pontos positivos abordados na conversa. Uma devolutiva iniciada assim demonstra respeito e humildade pela fala do outro. Ao trazer os pontos em discordância, utilize pronomes como “eu” ou “meu” nas falas, assim isso te exime de utilizar um tom acusatório;
    4. Se a conversa se estendeu demais e vocês não conseguem chegar a uma conclusão, o melhor caminho é interromper e fazer o diálogo em uma outra oportunidade.

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    Fugir de discordâncias nem sempre vai ser possível. É preciso cultivar diálogos qualificados e saudáveis sem medo de ser contra-argumentado ou apresentar um outro ponto de vista sobre alguém. “As discordâncias acontecem o tempo todo, afinal, cada pessoa tem uma história de vida diferente e consequentemente desenvolvem interpretações diferentes das situações”, explica a psicóloga Maria Eduarda Monteiro.

    Segundo a especialista, uma das ferramentas que podem ser utilizadas para diálogos mais saudáveis é a Comunicação Não Violenta (CNV). “É necessário que a pessoa observe o que está acontecendo, sem atribuir julgamentos, apenas identificando os seus incômodos e como está se sentindo diante daquela situação”, explica.

    Morgana Moura acrescenta que a metodologia formulada por Marshall Rosenberg, descrita no livro Comunicação Não Violenta: Técnicas para Aprimorar Relacionamentos Pessoais e Profissionais*, se alicerça em quatro pilares.

    1. Observação,
    2. Sentimentos,
    3. Necessidade e
    4. Pedido.

    É preciso avaliar uma situação como ela é, tentado ao máximo afastar nossas crenças ou valores, só assim podemos expressar os sentimentos de forma a trazer à tona nossa vulnerabilidade. A partir daí, podemos elaborar como as necessidades afloram e a melhor forma de serem atendidas.

    “De forma exemplificada, ao invés de dizer ‘você não faz nada na casa, a pia sempre está suja’, pelo viés da CNV apoiada nos 4 pilares pode se expressar da seguinte forma: ‘Quando cheguei em casa a pia estava com louça [observação], estou chateada pois temos um acordo [sentimentos]. Eu também preciso de descanso [necessidade] e peço que cumpra o que combinamos [pedido], se estiver difícil, como podemos ajustar isso?”, sugere a pesquisadora.

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