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Você sabe se comunicar com empatia?
Dim Hou
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Minha amiga descobriu um tumor maligno e quis desabafar os seus medos e angústias em nosso grupo de amigos. 

Alguém tentou consolá-la: “Não se preocupe, você vai ficar bem!”. Outro amigo falou: “Minha tia descobriu o mesmo câncer e conseguiu se recuperar”.

Ela respondeu às tentativas de consolo: “Como vocês podem garantir que eu vou ficar bem? Não tem como saber!”.

Meus amigos não sabiam de mais uma coisa: por melhor que fossem as intenções, não houve empatia na comunicação. Em vez de conseguirem confortar nossa amiga, eles provocaram mais frustração à situação.

A violência na comunicação vai muito além das discussões e brigas. Tenho certeza de que, em seu cotidiano, há muitas conversas que desconectam, diálogos com cara de monólogo e até conflitos entre pessoas que reivindicam a mesma necessidade.

Por que isso acontece? Levantei os cinco principais motivos de desconexão no meu ponto de vista, para te ajudar a entender como demonstrar mais empatia em sua comunicação.

Julgar é mais fácil (e gostoso!) do que ser objetivo

Qual a primeira imagem que você enxerga na figura abaixo?

desenho de uma mulher com rosto virado, cabelos soltos, casaco preto e rosto irreconhecível. “My wife and my mother-in-law”, do cartunista britânico W. E. Hill, 1915.

Quando eu mostro essa figura em meus treinamentos, alguns enxergam uma mulher, outros enxergam uma senhora. Após um tempo, a maioria consegue enxergar as duas imagens.

Vemos a mesma imagem, mas podemos interpretá-la de formas diferentes. Da mesma forma, julgamos situações a partir das nossas visões de mundo. E isso influencia a nossa comunicação.

Nossos julgamentos podem gerar barreiras, que nos impedem de atingir um nível profundo de conexão. Se eu concluo que alguém é mal-humorado porque não me cumprimentou, eu excluo outras possibilidades (ex.: a pessoa estava com enxaqueca).

Quanto mais observações factuais e menos julgamentos fizermos em nossas conversas, maiores as chances de a mensagem ser compreendida e aceita.

O vitimismo dá a falsa sensação de liberdade

Você já jogou o “jogo da culpa”? 

O jogo começa quando alguém aponta: “Eu só fiz isso, porque você falou aquilo…”? – e pode ir longe!

Muitas pessoas adotam uma postura defensiva na comunicação, responsabilizando o(s) outro(s) por suas atitudes.

O jogo é sedutor. Terceirizar a responsabilidade também é uma forma de fugir da culpa, sentimento que provoca uma dor emocional difícil de lidar. Só que essa liberdade é falsa. O vitimizado abre o controle de suas ações e ativa a postura defensiva de quem o escuta.

A melhor forma de você se conectar com alguém é assumindo a responsabilidade pelo que você sente e precisa.

Perceba a diferença na afirmação: “você nunca arruma nada!”, comparado à: “a desorganização me deixa ansiosa. Você pode me ajudar na arrumação?”. Responsabilizar-se até aumenta as chances de um pedido de ajuda ser atendido!

Há mais bocas para falar, do que ouvidos para escutar

Ao assistir debates políticos, você já percebeu como todos querem falar e ninguém quer escutar verdadeiramente? Eu me pergunto como seria se os candidatos fossem mais abertos a ouvir e propor novas soluções à gestão pública

A escuta verdadeira é poderosa e disruptiva. Ela demonstra curiosidade genuína e consegue traduzir as palavras ouvidas em sentimentos e necessidades. Já diria Rubem Alves:  “A gente ama não é a pessoa que fala bonito, é quem escuta bonito.”. 

O curioso é que, quando eu pratico a escuta ativa nas minhas conversas, as pessoas me falam que sei exatamente o que dizer. A escuta ativa transforma a qualidade da minha fala.

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É preciso pagar o preço de ser vulnerável

Expor os sentimentos e as dificuldades ainda é um desafio para a maioria das pessoas. Temos medo de que nossas fragilidades abalem a imagem que os outros têm de nós. Em maior ou menor grau, todos nós temos medo da rejeição. Criamos mecanismos e máscaras para evitar essa possibilidade.

Porém, como diria a maior especialista mundial do assunto, Brené Brown, “ficar vulnerável é um risco que temos que correr, se quisermos experienciar conexão.” 

uma mulher com jaqueta de couro, blusa preta, pele branca e cabelo loiro. Brené Brown, em um TED Talk. Foto: Divulgação

Ao expressarmos o que sentimos, também permitimos que o outro se aproxime. Ser vulnerável forma uma nova ponte para a empatia.

Há riscos, claro! Mas a conexão verdadeira vale o esforço.

Ninguém tem bola de cristal para adivinhar as entrelinhas da comunicação 

Anos atrás, era comum eu me chatear com alguém e ficar com a cara fechada. Meu desejo era de que o silêncio falasse por si só, sendo o suficiente para a pessoa descobrir o motivo da minha chateação.

Aprendi que o silêncio até comunica… mas não a mensagem exata. 

Não é saudável esperar que o outro adivinhe nossos pensamentos, seja no silêncio, em meias-palavras ou em frases incertas. Esse comportamento costuma gerar mais resistência e conflitos. 

Se você vai a um drive thru e fala ao atendente: “Eu não quero o número 2”, ficará difícil entender o seu pedido. O mesmo acontece nas conversas. 

Seja específico. Não subestime o poder da clareza.

Criar consciência destes comportamentos de desconexão possibilita uma comunicação mais empática e relações mais saudáveis!

Ah, sobre a história da minha amiga no início deste artigo: sentindo sua frustração, eu perguntei se ela estava com medo do que vinha pela frente. As lágrimas em seus olhos caíram em concordância. Ela me confessou que não sabia se era forte o suficiente. Eu a abracei e falei: “Eu também não queria que você passasse por isso. Estou aqui para te apoiar e emprestar minha força.”

A empatia é um super poder da comunicação.


PAULA ROOSCH é especialista em equilíbrio emocional e empatia, LinkedIn Creator, palestrante e mentora. É a criadora do @midiamor, uma rede que inspira milhares de pessoas a terem uma vida com mais propósito e conexão. Dedica-se ao ensino de Comunicação Não Violenta, Inteligência Emocional, Empatia e Compaixão.

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