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‘Negócios à parte’: misturar amizade e família com trabalho funciona?
(Foto: Reprodução/Redes Sociais) Fióti (à esquerda) e Emicida (à direita) são irmãos e entraram em uma disputa judicial de 'negócios à parte'
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Já diria o ditado: “Amigos, amigos, negócios à parte”. Seja por identificar uma oportunidade de empreender em conjunto ou por questões práticas de gestão, muitas pessoas optam por abrir um negócio com um familiar ou um amigo próximo. No entanto, é fundamental separar a relação afetiva das inevitáveis dificuldades que envolvem a administração de um empreendimento.

E caso haja algum problema na empresa, principalmente relacionados a dinheiro, como lidar com todas as emoções que envolvem a situação? Um abalo na confiança. Um desgaste emocional. Os impactos podem acabar com um vínculo e, “de quebra”, quebrar um negócio.

Um exemplo recente é o do rapper Leandro Roque de Oliveira, conhecido como Emicida, e seu irmão Evandro Roque de Oliveira, o Fióti. Os dois entraram em uma disputa judicial envolvendo a empresa em que são sócios: a Laboratório Fantasma.

Emicida tem 39 anos, e Fióti, 36. Uma vida inteira de parceria – mesmo antes da ascensão financeira – de dois artistas que vieram juntos da periferia de São Paulo. Em uma das suas músicas, Emicida diz: “Quem divide o que tem é que vive para sempre. E a gente humildemente lembra no refrão assim, ó: quem tem um amigo, tem tudo”. E quando os negócios afastam as pessoas que amamos?

Psicóloga especialista em carreira e ambiente corporativo, Priscila Oliveira explica que, em casos de uma quebra de confiança, por exemplo, é essencial “acolher a dor, reconhecer os sentimentos envolvidos e buscar uma conversa honesta”. Ela ressalta que, se houver disposição de ambas as partes, é possível reconstruir a confiança, mas isso exige “tempo, paciência e compromisso”.

“Em alguns casos, encerrar a parceria profissional pode ser necessário para preservar o vínculo afetivo”, alerta.

Como separar a relação afetiva das dificuldades da empresa?

Em um cenário ideal, o empreendimento prospera financeiramente e, paralelamente, a relação afetiva floresce ainda mais. Mas nem sempre isso acontece. Para além de procurar alinhar tudo corretamente do ponto de vista jurídico e econômico, há caminhos emocionais para construir uma convivência saudável em ambas as esferas da relação.

Questionada sobre a famosa frase “Amigos, amigos, negócios à parte”, a psicóloga concorda e faz algumas ponderações práticas. “Faz sentido. É necessário um alinhamento claro de expectativas desde o início. É fundamental definir papeis, responsabilidades e formas de comunicação. De preferência, com acordos formais, como contratos. Assim, cria-se um espaço onde as conversas profissionais não contaminam a amizade ou qualquer tipo de afeto, e vice-versa.”

Priscila também ressalta que empresas familiares carregam uma “carga emocional” muito grande. “Por isso, contar com a mediação de um consultor externo especializado ajuda a manter os limites bem definidos e respeitados.”

Abaixo, algumas precauções necessárias:

  • Assinar um contrato formal entre ambas as partes;
  • Definir claramente funções, remuneração, responsabilidades e metas;
  • Estabelecer cláusulas para resolução de conflitos ou saída da sociedade;
  • Consultar um advogado especializado em sociedades empresariais.

Mas, mesmo com todos os cuidados jurídicos e emocionais, uma hora ou outra algum problema pode surgir. “Quando a amizade ou o vínculo familiar entra no campo profissional, é comum que sentimentos como o medo de magoar o outro ou a vontade de evitar conflitos interfiram em decisões que deveriam ser objetivas. Os principais riscos emocionais envolvidos incluem ressentimento, frustração, culpa e até a perda do vínculo afetivo quando as coisas não vão bem”, diz a psicóloga.

Dicas antes de começar um ‘negócio à parte’ 

Como em diversas situações da nossa vida, parar para refletir antes de tomar uma decisão é importante antes de iniciar uma parceria com alguém próximo. Abaixo, algumas dicas da psicóloga para uma conversa sincera consigo mesmo e com o futuro sócio:

  • Essa relação suporta conversas difíceis?
  • Somos capazes de discordar sem nos magoar?
  • Existe abertura para dar e receber feedbacks sinceros?
  • Como lidamos com frustrações, pressão e expectativas?
  • Como cada um enxerga o dinheiro, o sucesso e o fracasso?

É claro que muitos empreendimentos familiares ou com amigos dão certo e acabam até aproximando os dois lados. No entanto, é essencial se preparar antes e saber lidar com possíveis problemas para que um sonho em conjunto não acabe em mágoa envolvendo dinheiro e afastamento de pessoas importantes da nossa vida.

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