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Quer ser aceito, integrado, amado? As 9 frases para relações felizes
Alexis Brown | Unsplash
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No meu círculo de amigos já fui questionada sobre o que penso — e se gosto —  de determinada pessoa. Algumas vezes — para espanto do meu interlocutor — a pergunta ficou sem resposta. “Mas ele não faz parte das suas relações e é inclusive membro da sua família”.  Sim. Mas, não sei quem é.

Tempos depois, chegou a minha vez de perguntar. Num jantar, diante de um grupo onde eu era uma recém-chegada, questionei sobre uma pessoa específica. A anfitriã, uma experiente psicanalista, foi lacônica: não sei quem é. Confirmou que a pessoa fazia parte do grupo há dois anos, mas que ela não sabia quem era. E eu que até então me considerava uma incompetente social, senti-me absolvida. Aquilo me salvou. Compreendi que afinal não era uma deficiência minha. Há pessoas que não se mostram, ninguém sabe o que pensam ou sentem.

E como a vida segue, recentemente, tive uma experiência oposta. Eis que chega a minha família, via casamento, um novo membro. Soube que o rapaz era muito simpático e; em tempo recorde, foi aceito e aprovado por toda a família. Chego ao Brasil e, em apenas dois dias, eu já sabia quem era e já gostava do João. Observei muito o rapaz. Era confiante e assertivo. Contudo, conheço pessoas com essas mesmas qualidades que não são imediatamente aceitas e integradas. Pelo contrário, são vistas com desconfiança e mantidas à distância.

Passei em revista várias pessoas com o mesmo perfil do afável João e verifiquei que todas têm em comum uma qualidade injustamente negligenciada: a capacidade de verbalizar o que sentem. Quase todas as virtudes humanas, se não forem traduzidas em palavras, podem passar despercebidas. Claro que a ação é importante, mas ela ganha muito mais força acompanhada do discurso pertinente.

E é aqui que começa o caminho. Se você está feliz porque encontrou uma pessoa. Não fique apenas pelo sorriso, diga que está feliz com a sua presença. Não espere que o outro deduza ou decifre o que você sente. Não é possível ser integrado, aceito e, finalmente, amado — anseios de todo o ser humano — se as pessoas não sabem quem você é. Exponha-se. E não é necessário um talento especial para a comunicação, um conteúdo apelativo ou uma maneira rebuscada de falar. Seja simples e direto. Não tenha medo de parecer trivial. O pensador russo Mikhail Bakhtin afirma que a partir do momento em que você diz uma frase, por mais banal que seja, ela é única, porque carrega a sua marca.

Aqui alguns exemplos que, além de facilitar as relações, farão de você uma pessoa muito melhor.


“Gostei de te ver” –
No nosso dia a dia, oscilamos entre relações formais e informais. Nas formais reinam uma espécie de inibição para gentilezas e, nas informais, julgamos que elas não são necessárias. Não deveria ser assim. Esqueça as convenções e não tenha medo de elogiar ou de demonstrar afeto. Num encontro com alguém de quem você gosta, não fique apenas pelo “tchau”, diga “gostei de te ver” ou “fico sempre feliz por te ver”. É simples, mas não é pouco. “Gostei de te ver” comunica que você aprecia a outra pessoa, que a sua presença é importante e desperta em você sentimentos positivos.

“Qual é a sua opinião?” – Em tempos de raridade de ouvintes, interessar-se pelo que o outro pensa tem um enorme valor. Além de ser uma via de acesso ao pensamento do outro; mostra que você o considera inteligente e idôneo. Mas atenção: escute o que o outro tem a dizer. Muitos perguntam por cortesia e quando você abre a boca para responder, o outro já mudou de assunto (e, geralmente, o assunto é ele próprio).

“Eu me lembro…” – No reencontro com alguém, resgate um episódio ou uma atitude do passado partilhado. Com esse gesto, você confirma que o outro fez coisas importantes e foram retidas por você. E mais: reforça a crença de que os nossos amigos são também a nossa memória, pois lembram de coisas que já esquecemos. Existe algo mais maravilhoso do que alguém se lembrar de um acontecimento da nossa vida que já havíamos esquecido? Mas atenção: seja positivo. Nada de lembrar que na última vez em que estiveram juntos, o outro estava bêbado feito um gambá. E fuja de quem faz isso com você.

“Bem-vindo” – Há todo tipo de bugiganga doméstica — desde tapetes de entrada até canecas  — com o “bem-vindo” ou “welcome”, mas ela é raramente verbalizada. Não tenha medo de parecer teatral. Dizer a alguém que ele é bem-vindo — seja onde for — é como um abraço. A minha primeira vez na cidade de Campos do Jordão foi marcada por uma enorme alegria. Compartilhei muitas fotos com amigos, mas o que eu gostava mesmo de mostrar era a placa de boas-vindas à entrada. Dizia: “Campos do Jordão está feliz porque você chegou”. Achei essa experiência linda e, desde então, sou fã incondicional do “seja bem-vindo”.

“Posso ajudar?” – A disponibilidade para ajudar é quase como um toque de magia. Numa situação de aflição ou incerteza, quem nunca experimentou a sensação de alívio proporcionado por essa oferta irrecusável? Além do seu significado literal e sua demonstração prática de empatia e solidariedade, também tem um poderoso apelo subliminar. Mostra que compreendemos o embaraço do outro, assumimos que também somos desastrados de vez em quando.

“Desculpa” – Hoje o ato de pedir desculpas dificilmente é sinônimo de um arrependimento sincero. Virou uma espécie de figura de estilo e perdeu o sentido. Resgate o seu significado. Primeiro, use-a como demonstração de um genuíno arrependimento e, na sequência, corrija sua atitude. Um pedido de desculpas significa que aceitamos e confiamos no julgamento do outro; que acreditamos que o outro confia na nossa capacidade de sermos melhores.

“Obrigado” – Deve ser usado com frequência e em abundância. O “obrigado” é uma explosão de empatia e demonstra o nosso reconhecimento pela aceitação e generosidade do outro. Espalhe o “obrigado”, expando-o em “muito obrigado” e não poupe ninguém. Não deixe passar nenhuma oportunidade de agradecer… (Ah! Obrigada por ler e partilhar esse artigo).

“Bom dia” – Não subestime essa saudação. O ato de desejar “bom dia” a alguém abriga um vasto conteúdo. Com ele, você diz que viu a pessoa, que não é indiferente a ela, que sabe que ela caminha e que deseja que o caminho dela — pelo menos nesse dia — seja bom. Mas, atenção, muitas pessoas usam o bom dia, como uma formalidade social. Os europeus são mestres nisso. E fazem questão: são capazes de negar uma informação se não ouvirem o “bom dia” primeiro. E a grande prova dessa formalidade, é que eles são capazes de imediatamente após o “bom dia”, serem muito mal-educados.

“Não” – Perca o preconceito dualista do negativo e do positivo e abrace o “não”. Dizer “não” pode ter o mesmo significado benéfico do “sim”. Faz parte do nosso guia de sobrevivência. Devemos dizer os “nãos” sem culpa (e sem pedidos de desculpas prévios). Apesar de todas as frases acima ­— de empatia e gentileza — não podemos perde de vista que a relação com os outros pode ser um lugar perigoso, de abusos e de manipulação. Diga “não” a tudo que ferir a sua natureza, a tudo que desrespeitar a sua humanidade.

MARGOT CARDOSO (@margotcardosoé jornalista e pós-graduada em filosofia. Mora em Portugal há 16 anos, mas não perdeu seu adorável sotaque paulistano. Nesta coluna, semanalmente, conta histórias de vida e experiências sempre à luz dos grandes pensadores.

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