Cada dia um medo diferente
Não tem jeito, a cada dia parece que sentimos mais medo ! Mas não o mesmo medo do dia anterior. A cada dia, parece que aumenta o número de coisas e situações que nos dão medo.
Não tem jeito, a cada dia parece que sentimos mais medo ! Mas não o mesmo medo do dia anterior. A cada dia, parece que aumenta o número de coisas e situações que nos dão medo.
Sentir medo é, em geral, uma sensação ruim. A própria definição que os psicólogos usam para descrever o medo – um estado afetivo criado pela consciência do perigo – dá a dimensão do que é sentir medo. Mas medo não é só uma coisa ruim. Sentir medo tem um lado bom pois deu aos humanos um poderoso alerta com relação a circunstâncias que poderiam ser uma ameaça. A um deles ou a toda uma tribo. Assim, esse medo ancestral que nos acompanha há muito tempo, teve um papel essencial na evolução da espécie. Ao sentir medo, o ser humano se defende e busca proteção. Para si e para quem mais estiver dentro do seu círculo afetivo.
Seu medo e o dos outros
Claro que algumas coisas dão medo em todo mundo. Mas medos não são iguais. O seu pode ser diferente de outras pessoas. Em intensidade, em frequência e em duração. E, principalmente, em relação às causas do medo e às formas com que as pessoas reagem ao medo. Em certo sentido, o medo tem um forte componente cultural e cada cultura reage de forma diferente a um mesmo estímulo ameaçador. O medo também se transforma. Em algumas circunstâncias, o medo paralisa. Paralisa tanto que você fica estático como se estivesse preso ao solo. Em outras, movimenta. Movimenta tanto que você sai correndo mesmo sem sequer imaginar que conseguiria correr tanto e tão rápido! E agora, que você já teve a oportunidade de refletir e entender um pouco melhor sobre seu medo e o dos outros, é hora de falar sobre o medo do momento. O medo de contrair a COVID-19.
O medo nosso de cada dia
Nunca foi tão fácil morrer de medo! Nesta época de pandemia, a cada dia surgem fontes de novos medos. Mesmo se escondendo de noticiários tão verdadeiros quanto funestos, há o medo daquele vizinho do andar de baixo, que não se aquieta em casa! Medo dele já estar contaminado e continuar achando que não precisa usar máscara, nem dentro do elevador. O medo de se contaminar na inevitável ida ao supermercado pois a geladeira ficou vazia. O medo de ter que aguardar nas filas igualmente inevitáveis – do banco, do correio, da farmácia – sem ter como sair correndo mesmo tendo vontade.
Enfim, o medo de contrair este tal de coronavírus, mesmo tomando todas as medidas de prevenção e precaução, que é bem o meu caso. Mas ainda assim, tenho medo. Por isto mesmo, fui ver como reagem ao mesmo medo os meus amigos, pessoas que tem algum saber e também sábios de outras culturas.
O medo no Japão
Foi do Japão que veio a melhor orientação sobre como lidar com o medo que, em algum momento, a ameaça da pandemia nos causa. E veio de uma forma totalmente adequada à cultura japonesa. Coerente, clara, declarada e quase descarada. A mensagem foi construída pela Cruz Vermelha japonesa em formato de vídeo, já legendado em português. Em uma análise clara e declarada dos sentimentos, o vídeo mostra como as pessoas vão sendo dominadas pelo medo e passam a negar seus próprios princípios de combate à pandemia. Ilustrado por uma bem elaborada metáfora que transforma o medo em um monstro, sugere atitudes para não alimentá-lo e assim, evitar de ser dominado por ele. E tudo isto pode ser visto aqui.
Vai lá, entenda como este medo funciona e na próxima vez que alguém estiver contradizendo as recomendações tão indispensáveis para se controlar a pandemia, talvez seja hora de você perguntar “…será que você não está com medo?”. Não se esqueça de explicar a razão da pergunta em seguida. Talvez seja possível derrotar o monstro do medo.
Fábio Gandour é formado em Medicina e dedicou-se à pesquisa científica. Por conta desta formação, entende bem o que está acontecendo nesta pandemia e sente medo quando vê certas coisas.
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