Células Imaginais: deixar morrer para renascer
As metáforas das batalhas e dos jogos, cedem passagem à beleza e à sabedoria das células imaginais. O morrer e o renascer que vêm da natureza.
As metáforas das batalhas e dos jogos, cedem passagem à beleza e a sabedoria das células imaginais. O morrer e o renascer que vêm da natureza.
Já reparou a quantidade de vezes no nosso dia a dia que utilizamos metáforas de guerra ou de esportes para falarmos sobre a vida e os desafios do mundo? Falamos de batalhas e de jogos. De vencedores e perdedores. E assim, multiplicamos expressões como jogar a toalha, ir a nocaute, pisar na bola, pendurar as chuteiras. E quando fazemos algo em conjunto, muitas vezes chamamos de time.
Quem me chamou a atenção para isso foi uma amiga que no início da pandemia se mudou para uma casa no meio do mato. Ela — professora de programas de inovação e liderança em uma das escolas de negócio mais importantes do mundo — quando se viu cercada de verde, percebeu o quanto, nos dias em que vivemos, os exemplos da natureza fazem mais sentido do que os bélicos esportivos.
Para ilustrar seu ponto, me contou sobre as células imaginais. Você já tinha ouvido falar? Eu até aquele momento não. São os tipos de células responsáveis pela metamorfose da lagarta em borboleta, por exemplo. Elas são uma grande inspiração para os grandes processos de mudança que podemos atravessar em nossas vidas, de forma coletiva ou individual. Vou te mostrar o porquê.
Eis a borboleta
A lagarta tem 7 bilhões de células que garantem o bom funcionamento do seu organismo e seu desenvolvimento. Durante sua vida ela passa por pequenas mudanças para suportar o crescimento. Sua pele vai mudando e ela vai ficando maior. Até que ela atinge seu tamanho máximo. É nesse momento que ela para de se alimentar e enviar energia para as células. Chama-se crise, né? Ela fica de cabeça para baixo. A maioria das células entram em colapso junto com todo o sistema. Exceto um grupo de células organizadas em discos, as tais imaginais.
As células imaginais reagem de forma diferente ao momento de crise. Elas permanecem vivas e ativas enquanto todo o corpo da lagarta morre numa autodigestão. Um casulo sedoso se forma e dentro dele uma sopa com o que restou do inseto. Na sopa de proteína, as células imaginais encontram tudo que precisam para criar a nova estrutura. Cada disco da célula imaginal tem uma tarefa de criação. Olhos, pernas, asas, antenas, etc. O novo está em formação exatamente a partir do velho. No entanto, num processo belo e corajoso da natureza, de deixar morrer para renascer e voar.
Nunca pensei que voltaria a estudar biologia ou que escreveria um texto inteiro sobre o processo de metamorfose da lagarta em borboleta. Mas também nunca fez tanto sentido deixarmos de lado as guerras e as metáforas esportivas para apreciar e aprender com a maior sabedoria que temos acesso: a natureza.
Tiago Belotte é fundador e curador de conhecimento no CoolHow – laboratório de educação corporativa que auxilia pessoas e negócios a se conectarem com as novas habilidades da Nova Economia. É também professor de pesquisa e análise de tendências na PUC Minas e no Uni-BH. Seu Instagram é @tiago_belotte. Escreve nesta coluna semanalmente, aos sábados.
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