Um olhar de compaixão para a educação menos perfeita
Na educação dos nossos filhos, a compaixão e a gentileza são ferramentas de primeira necessidade.
Na educação dos nossos filhos, a compaixão e a gentileza são ferramentas de primeira necessidade.
Num dos cursos sobre educação parental que fiz, ouvi uma das coisas mais lindas e delicadas sobre como ajudar as crianças a se perceberem merecedoras e boas, mesmo quando agem mal. A orientação era: “acredite no seu melhor palpite sobre o motivo daquele erro ou mau comportamento da criança”. O melhor palpite pode ser algo como “ela estava com sono, cansada”. Ou “ela ainda não tem condições neurológicas para fazer o gerenciamento da raiva dela como os adultos”. Ou ainda “ela só precisava da minha atenção, de um colinho, e pediu isso da pior maneira”.
Claro que olhar pelo melhor ângulo não nos tira a responsabilidade de ter que fazer algo com aquilo que descobrimos, ou até de colocar um limite na ação da criança, afinal é para isso que existem os pais e cuidadores. Mas fiquei pensando no tamanho da gentileza desse conselho, das consequências dele e de como eu poderia transpor isso para minha própria vida.
O mais compassivo possível
Quando estamos irritadas, reativas, sem paciência e fazemos algo – como diria Marshall Rosemberg – “menos perfeito”, logo começamos a nos punir mentalmente. Dizemos para nós mesmas que todo mundo consegue lidar com as coisas, mas que para nós tudo é demais. Puxamos pela memória todas as vezes em que fomos grossas, rudes, em que não conseguimos dialogar como queríamos. Insistimos que somos pouco, incapazes, e nesse jogo do autoaçoitamento, acreditamos mesmo que só agimos assim porque não somos boas o suficiente.
Quando aplicamos a mesma orientação na nossa própria vida, começamos a entender que também somos pessoas que estão fazendo o melhor que podem. Que estamos transformando aquilo que fizeram de nós em algo possível, e que dentro do possível existe – precisa existir – espaço para o menos que perfeito.
Assumir o cansaço
Aquela imagem de mãe heroína que recebemos no dia das mães precisa ser urgentemente retirada das nossas expectativas. Aposentada. Ficou antiga, faz parte de uma desumanização injusta que é histórica, mas que não é boa para nós. Apesar das boas intenções de quem a criou.
Nós também estamos cansadas (muito), estamos precisando de coisas que a atual conjuntura do país não pode nos dar, estamos de mãos atadas em áreas onde antes tínhamos alguma autonomia. Crianças em casa, trabalho em casa, sem o prazer de encontrar as pessoas, abraçar, e pior ainda, com medo do que ainda virá. O melhor palpite sobre o motivo das nossas ações pode ser exatamente esse: estamos em falta.
E assim como com as crianças, isso não quer dizer que não vamos fazer nada a respeito. Só quer dizer que mesmo fazendo algo, ainda pode faltar. E tudo bem, é o que tem para hoje. Somos humanas, é bom que nunca esqueçamos disso. O caminho é aposentar a capa de heroína e no lugar colocar a capa da compaixão por nós.
Thais Basile é mãe da Lorena, palestrante e consultora em inteligência emocional e educação parental. Eterna estudante e apaixonada por relações humanas e por tudo que a infância tem a ensinar. Compartilha seu conhecimento para uma educação mais respeitosa no @educacaoparaapaz. Escreve nesta coluna às sextas-feiras.
*Os textos de nossos colunistas são de inteira responsabilidade dos mesmos e não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.
Os comentários são exclusivos para assinantes da Vida Simples.
Já é assinante? Faça login