O que vai ficar na fotografia
Um álbum de fotografia é capaz de encontrar e recontar aquelas histórias perdidas no fundo da nossa mente

Passei o feriado na casa dos meus pais – se você lê alguns textos meus, ou mesmo a news da última semana, vai saber que meu pai sofreu um AVC há alguns anos e ficou com sequelas severas. Depois de quase dez anos, minha mãe finalmente aceitou tirar alguns dias de descanso para rever seus familiares e viajou para sua terra natal, em Minas Gerais. Em um dos dias, resgatei os álbuns de fotografia daquela casa. Foi como fazer uma viagem no tempo, voltar para o passado. E, quem sabe, viver melhor o presente.
Ali, naquelas fotos, percorremos décadas de histórias. Vi minha mãe criança, nas fotos preto e branco. Meus tios e tias. Meus avós. A cada álbum, mais gente chegava nas imagens para contar uma história. Meu pai. Meus irmãos. Meus primos. Os aniversários de criança, com todas atrás da mesa, cantando parabéns junto ao aniversariante. As balas de coco sobre a mesa, os lanchinhos feitos em casa. Balões que juntaram a família toda para encher. Uma época de fotos analógicas – 36 poses era luxo – em que a gente guardava nos álbuns mesmo aquelas que saíram meio tremidas ou de alguém que piscou bem na hora do flash.
Caminhar pelo tempo através das feições das pessoas, da cor dos cabelos que embranqueceram, da ausência de quem partiu (alguns cedo demais), me fez ganhar uma dimensão do que foi a minha vida até aqui. De quem foram meus antepassados – e como essa história pregressa também conta muito sobre o hoje.
Ali, em fotos com mais de 50, 60 anos, eu voltei no tempo. Eu vi o tempo. E pude celebrar e agradecer por essa jornada, pelos momentos vividos. Me vi menina, com trejeitos que ainda carrego hoje. Vi meu pai, sorridente, e também notei a sua ausência em outros momentos, por ter priorizado tanto o trabalho. Ele se viu. Se emocionou.
Quando chegamos ao fim, me restou um desejo: ter álbuns aqui em casa também. Fiquei com saudades de um tempo em que a gente sentava pra mostrar álbum de fotografia para as visitas – hoje, a gente sequer “revela” as imagens, esquecidas na nuvem de algum app. Quero separar fotos especiais, de tantos momentos vividos, e contar essas histórias para quem quiser ver.
Por isso, meu convite desta semana é singelo, mas potente. Olhe os álbuns de fotografia. Pegue nas imagens. Toque no tempo. Talvez você também reveja o passado – e olhe, com outros olhos, para o presente.
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