Cultivar para florescer: como as plantas transformam o corpo e a mente
Cuidar de plantas fortalece os sentidos, reduz o estresse e inspira o aprendizado. Prática oferece equilíbrio e bem-estar para todas as idades

Cuidar de plantas vai muito além da estética: é um ato de bem-estar. Do toque na terra ao florescer das folhas, o cultivo estimula os sentidos, fortalece o corpo e acalma a mente.
Ao cultivar hortaliças, plantas ornamentais e medicinais em casa, nos aproximamos da natureza e paramos de pensar nos problemas. A atividade é um cultivo de paciência, criatividade e autodesenvolvimento.
Benefícios físicos e mentais
Vamos ter para nós que o cultivo de plantas em casa beneficia em três diferentes planos: ambiental, físico e mental.
No ambiental, não é novidade que as plantas têm um papel essencial na manutenção de ecossistemas. No físico, as atividades de plantar, podar, regar e colher ajudam nos sentidos, como visão, tato e olfato – além do constante exercício físico de baixo impacto. E, para a mente, o ato de cultivar estimula a concentração, promove a redução de estresse e incentiva aprendizado e criatividade.
Cultivar também envolve decisões como escolha do local, do que e como plantar. Assim, a pessoa se sente fundamental no processo de execução, o que torna a atividade mais prazerosa e relaxante.
Mas se o seu problema é espaço – ou a falta dele –, saiba que você não precisa ter um jardim enorme para sentir os efeitos positivos. Afinal, vale de tudo: hortaliças, plantas ornamentais e medicinais.
Também não há restrições de idade para o cultivo, mas é importante adaptar a atividade de acordo com a faixa etária. A botânica Flávia Cartaxo Ramalho Vilar explica: “Crianças devem realizar o plantio em vasos ou jardineiras, enquanto jovens e adultos podem usar uma área maior e instalar hortas ou jardins. Já para os idosos, o melhor é realizar o cultivo em vasos instalados em uma altura adequada, de fácil acesso e corredores livres, para evitar quedas”.
Especificamente para os idosos, Flávia aponta que a prática de jardinagem proporciona efeitos notáveis na saúde, que dão suporte para a coordenação motora e a motricidade fina (movimentos pequenos e precisos), além de auxiliar na distração de pensamentos relacionados à perda de vigor e saúde.
Hortoterapia
Os benefícios são tantos que o cultivo de plantas até é utilizado como prática de terapia ocupacional, chamada de hortoterapia, com foco no desenvolvimento físico e mental dos praticantes. Docente do IF Sertão Pernambuco, Flávia estudou os benefícios da prática e conta que “a formação de um ambiente de cultivo das plantas permite que a pessoa tenha um contato direto com a terra e o prazer de se sentir útil a si mesmo e às pessoas de seu convívio.”
“A horta é um espaço de desenvolvimento, manifestação, criatividade, transformação, humanização, experimentação, interação social e convivência”, diz. Segundo ela, essa terapia, em conjunto com tratamento médico, pode estimular os sentidos e a mente, com resultados em questões sociais, cognitivas, físicas e psicológicas, auxiliando no alívio do estresse e agregando saberes.
Aprenda com as plantas
Além de muitos benefícios físicos e mentais, as plantas podem nos ensinar sobre resiliência, cooperação e eficiência. O campo da neurobiologia vegetal investiga os mecanismos pelos quais as plantas processam informações e respondem a estímulos, mostrando como os vegetais têm capacidades que atribuímos apenas aos animais.
Mesmo sem possuir um sistema nervoso central — no nosso corpo, responsável por receber e processar informações —, as plantas também são capazes de perceber, aprender, memorizar e tomar decisões.
“As plantas aprendem, recordam e decidem por meio de processos bioquímicos e fisiológicos complexos. Por exemplo, as plantas podem ‘aprender’ a responder a estímulos repetidos, como a exposição à luz ou ao toque, ajustando seu crescimento e desenvolvimento. Elas também ‘recordam’ experiências passadas, como períodos de seca ou ataques de herbívoros, por meio de mudanças epigenéticas ou na expressão de genes. Além disso, as plantas ‘decidem’ como alocar recursos, como nutrientes e energia, para maximizar sua sobrevivência e reprodução”, explica o biólogo Eraldo Medeiros Costa Neto.
“Ao inserirmos uma visão mais abrangente sobre a vida vegetal, podemos descobrir um mundo inteiramente inexplorado e aprendermos com as plantas sobre comunicação eficiente, solidariedade, integração, aceitação, resiliência e expansão de consciência”, afirma.
Assim, as plantas nos ensinam que a vida se organiza e evolui de modos não tradicionais, surpreendentes ao que estamos acostumados. Da sua própria maneira, elas possuem uma linguagem e são capazes de solidariedade, integração, aceitação e resiliência. Legal, né?
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