Veja ideias para equilibrar o uso de telas pelas crianças
Estabelecer acordos com os filhos e pensar atividades fora das telas são opções para um uso mais consciente dessa ferramenta.
Na era das inovações tecnológicas, as pessoas têm a vida na palma da mão. Dinheiro, saúde, educação, entretenimento e qualquer outra área encontra espaço nos celulares com a promessa de facilitar e simplificar a vida moderna. As telas já são uma parte indissociável da vida de adulto, mas, agora, elas fazem cada vez mais parte da vida das crianças. Nesse sentido, a exposição excessiva às telas pode prejudicar o desenvolvimento cognitivo e emocional dos pequenos. O dilema passa a ser como viver em equilíbrio com os estímulos tecnológicos.
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O impacto das telas na infância
Crianças com acesso a telas são uma realidade no Brasil e o excesso causa preocupação. Na última pesquisa da Mobile Time/ Opinion Box, que avaliou o tempo de uso de telas de crianças de 0 a 12 anos, consta que os pequenos ficam uma média 3 horas e 53 minutos por dia em smartphones. Em todas as faixas etárias, as crianças ficam expostas às telas por períodos maiores que os recomendados pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Atenção especial para crianças de 0 a 3 anos, pois elas passam quase 3 horas em frente a telas. Segundo a SBP, crianças menores de 2 anos não deveriam ter contato com telas.
A psicóloga Mônica Machado explica que as telas capturam a atenção e o tempo porque estimulam o sistema límbico do cérebro, área responsável pela sensação de recompensa. “As brincadeiras e os brinquedos comuns dificilmente competem com a estimulação sensorial gerada pelas telas” aponta. “Isso é preocupante, tendo em vista que as telas acabam substituindo as atividades que promovem o desenvolvimento do cérebro, do corpo, da psicomotricidade, das habilidades sociais, da estrutura psicológica e cognitiva”, explica.
Por isso, ela chama atenção para a importância de conter o excesso. “É importante impor limites quanto ao uso das telas, conforme a idade da criança. A questão é haver flexibilidade” aconselha. Para ela, é possível permitir o acesso à tecnologia sem prejudicar as atividades essenciais para desenvolvimento neurológico, emocional, cognitivo, intelectual e social da criança.
Além disso, a SBP aponta que o excesso pode trazer problemas como agressividade e irritabilidade. Alterações no sono, ansiedade e depressão também estão relacionados ao exagero no tempo de uso de tela.
Quando as telas são a única opção
Dependendo do contexto, as telas são uma opção para auxiliar as famílias. Esse é o caso de Thaysa Rafaele, 26 anos, mãe de Tyler, 5 anos, e de Agnes, 2 meses.
Na pandemia, ela teve que conciliar o trabalho remoto e os cuidados de Tyler, na época com um ano. Sem rede de apoio em Campo Grande (MT) e com as escolas fechadas, as telas entraram na rotina, mas com equilíbrio.
Thaysa, que trabalha como desenvolvedora de software, propôs conteúdos produtivos. “Eu comecei a buscar vários joguinhos de lógica, tipo de labirinto, de cores, de formatos, pequenas continhas, como contar até cinco. Com dois anos ele já sabia contar, e ele já sabia as letras”, conta. Ela ressalta que as telas eram limitadas e ele fazia outras atividades.
Hoje, aos cinco anos, Tyler tem um tempo de tela maior, mas o cuidado com os excessos segue. Durante o dia, o menino não tem acesso a telas porque estuda em tempo integral, além disso, pratica esportes na escola e aos sábados. “Eu libero para ele assistir antes de dormir, mas ele só pode assistir até às 9 horas da noite. Se ele for fazer outra coisa e der 9 horas, ele já não assiste mais.”
Para usar as telas dessa forma, Thaysa conta que tudo foi combinado com Tyler. O menino faz “uma jura de dedinho” prometendo cumprir o acordo. Ela relata que muitas vezes houve resistência dele ao final do seu tempo de uso. Nesses momentos, ela teve que ser mais dura e firme em prol de um uso saudável.
“Eu acho que ele tem um estilo de vida muito bem equilibrado. Não vejo ele como dependente de tela. Ele consegue fazer muito bem qualquer outra atividade”, conta. Ela não condena o uso das telas, mas recomenda um uso com moderação e sabedoria.
Usando com moderação
Essa articulação dos pais com os filhos a respeito do tempo de tela é um ponto-chave para o uso saudável da ferramenta. Portanto, a especialista Mônica Machado determina que os pais precisam ter uma posição ativa. “É necessário que os pais possam fazer acordos com as crianças e combinar regras, escalando dias, horários e tempo.”
Para além de apenas monitorar o tempo, os conteúdos também devem ser observados, uma vez que eles podem ser inadequados para a idade. “O conteúdo que as crianças veem nas telas deve ser acompanhado, observado, monitorado e ainda assim é pouco. Os conteúdos são diversos e uma criança em formação irá aprender tudo que lhe for mostrado”, explica a psicóloga. O indicado são jogos infantis e desenhos, sempre de acordo com a faixa etária.
Dicas de conteúdos para crianças
Mônica explica que há desenhos que promovem estímulos para o desenvolvimento da fala, percepção visual ou auditiva. Como exemplo, a especialista sugere desenhos que mostram cores, formas geométricas, números, músicas, entre outros temas que incentivem o aprendizado.
A orientadora familiar, Talita Tonin, em suas redes sociais, indica que os conteúdos longos – com começo, meio e fim – são os mais adequados para apresentar às crianças. Além disso, ela aponta que é interessante conversar com os filhos sobre os conteúdos para perceber se eles estão entendendo a lógica dos desenhos.
Dessa forma, o ideal é oferecer desenhos com menos estímulos visuais e sonoros. Algumas sugestões de desenhos para oferecer em momentos de tela:
- Puffin Rock está disponível na Netflix e conta a história dos papagaios-do-mar Oona e Baba na ilha Puffin Rock, enquanto aprendem sobre a natureza e a família.
- Zé Coleta é um desenho que acompanha um menino e seu caminhão de coleta de lixo. Também disponível na Netflix.
- O Natal de Angela é um curta, que pode ser encontrado na Netflix, sobre Angela e sua família, que estão passando a véspera de Natal em uma igreja.
- Elinor, a curiosa, acompanha uma coelhinha e seus amigos em aventuras e aprendizados. O desenho está disponível na Max.
- Se der um biscoito a um rato está na Prime Video e conta a história de rato e seus amigos que sempre estão em aventuras muito divertidas.
Pensando em atividades longe das telas
Além disso, a presença dos cuidadores, participando ao lado dos filhos em atividades além das telas, estimula e colabora para o desenvolvimento das crianças. “É importante haver entretenimento onde a criança possa usar seus cinco sentidos (visão, audição, paladar, olfato e tato) praticando o desenvolvimento natural e sua intelectualidade”, aconselha Mônica.
Mônica sugere brincadeiras como pega-pega, esconde-esconde, amarelinha, jogos com bolas e parquinhos.
Outras dicas para aproveitar o tempo de outras formas com as crianças são:
- Planejar atividades diárias com as crianças;
- Envolvê-las em tarefas domésticas;
- Passear ao ar livre;
- Estimular a leitura;
- Separar momentos no dia em que as crianças possam brincar com autonomia;
- Criar tradições familiares.
Uma rotina sem telas é possível para algumas famílias
A administradora de empresas, Priscila, 36, decidiu na primeira gravidez, que evitaria as telas para as crianças o máximo possível e assim o fez. Hoje, seus filhos mais novos, Nicole, 3, e os gêmeos Rafael e Thomas, de 2 anos, não têm acesso a telas. A mais velha, Estela, de 7 anos, já começou a ter um contato, mas com tempo e conteúdos moderados pelos pais. Nos fins de semana em que a família não vai fazer atividades ao ar livre e quando seus irmãos menores estão dormindo, a menina pode assistir a um filme.
As crianças têm o exemplo dos pais que não usam telas na frente das crianças. Priscila explica também que, por não oferecer telas, as crianças não sentem falta e não buscam como uma forma de entretenimento. “As crianças já estão acostumadas, elas vão buscar outro tipo de entretenimento, seja livros, seja pintura, seja fazer pulseira ou outra coisas”, relata. Para essa criação sem telas, a mãe priorizou atividades e experiências.
“As crianças têm muito acesso a livros, a Nicole dorme com livros, a Estela, que está na fase de alfabetização, devora livros, me pede livros”, inicia. “Experiências, também, a gente faz brincadeiras em casa e as crianças têm algumas atividades que ficam à disposição e elas mesmo que agarram e fazem o que elas querem”, explica. Além disso, as crianças estão na escola e fazem atividades esportivas.
Ela conta também que envolve as crianças nas atividades domésticas. “As crianças hoje disputam para ver quem vai lavar a louça. Às vezes, eu ponho as roupinhas das bonecas delas para elas lavarem enquanto a gente está lavando roupa. Tudo de uma forma mais lúdica, não é uma obrigação delas.”
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