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O verão é a vida que pulsa! Veja dicas para curtir a estação
(Ilustração: TIAGO GOUVÊA) Cada estação do ano nos traz singulares oportunidades. Os dias solares nos chamam para viver todo o nosso ser
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Está lá no calendário, provavelmente em letras miúdas tingidas de vermelho. Dia 21 de dezembro adentramos, no Hemisfério Sul, a estação mais solar de todas: o verão.

Feito aquelas pessoas de personalidade radiante capazes de magnetizar multidões, é impos­sível passar incólume por ele, que aquece os dias.

Por mais distraídos que estejamos ou desconectados da dança cósmica, uma hora ela nos arrebata, nos arremessa para fora de nós mesmos, a fim de que experimentemos o esplendor da vida na Terra.

Isso pode acontecer numa madrugada de lua e calor na qual dormir faz despontar um dó por termos de fechar os olhos para a inacreditável beleza.

Ou então, numa manhã de lajotas fervilhantes no quintal, quando a mangueira patrocina a farra tanto das crian­ças como dos adultos.

“O início do verão é o momento da alegria esperada, para a qual há uma bela expressão na língua alemã: Vor­Freude – a alegria antes.

Pré-festa: jasmim-mangas, acácias e flamboyants em flor e uma alegria no ar”, escreve a analista jun­guiana e filósofa Zelita Seabra no livro Tem­po de Camélia – O Espaço do Mito (Record).

Sobre o ritmo peculiar do verão

Tanto melhor se pudermos desfrutar a tem­porada de verão com a clareza de que ela nos reve­la a face luminosa da natureza e, ao mesmo tempo, traz o lembrete de que o que há fora também há dentro da gente.

Como ensina a antroposofia, ciência espiritual moderna de­senvolvida pelo filósofo austríaco Rudolf Stei­ner (1861–1925), que compreende o ser hu­mano em sua tripla realidade – corpo, alma e espírito –, assim como outras culturas e sabe­res ancestrais, nossa interioridade, o micro­cosmo, espelha a força vital que nos circunda, o macrocosmo.

“A atenção ao diálogo destes mundos, fora e dentro, é muito importante. Onde há ritmo, há vida. E a alma humana se nutre desse ritmo, que pode ser harmonizado com a natureza e a Terra.”

“Os ritmos das esta­ções do ano fazem parte dessa vivência hu­mana da natureza”, afirma Patrícia Botelho, psicóloga clínica, psicoterapeuta antroposófi­ca e membro da diretoria da Associação Bra­sileira de Psicólogos Antroposóficos (ABPA).

Verão é tempo de expansão

Inexoravelmente, a ciranda cósmica enca­deia a primavera e, depois, o verão, nessa exa­ta ordem. O que isso quer nos dizer? Se bus­carmos a resposta na tradição xamânica, encontraremos um belo direcionamento.

“O verão é a época do crescimento, da ex­pansão. Momento de colhermos aquilo que floresceu na primavera. É o tempo de ce­lebrar, de viver livremente.”

“De usufruir, portanto, das coisas boas e nos sentindo merecedores de receber o que trilhamos para realizar nes­sa primeira colheita”, define Carol Shanti, psicóloga clínica e idealizadora do Xama­nismo Para Mulheres – Escola de Saberes e Práticas Ancestrais Femininas.

Para o xamanismo, as estações do ano são marcantes. Diferentemente da visão contemporânea, fincada no racional e de­satenta aos ensinamentos que a natureza nos estende de graça.

No xamanismo, as passagens de uma estação para a outra são vistas como uma oportunidade de se sintonizar com um novo ciclo, para que a consciência dê mais uma voltinha na espiral evolutiva e possa se alar­gar.

“A Roda Medicinal Norte-Americana nos ensina como as estações do ano exercem influência sobre nossas vidas, já que nós somos filhas e filhos da Terra. No meu tra­balho, usamos a roda transposicionada para o Hemisfério Sul e celebramos essa estação que nos dá a oportunidade de colhermos o que plantamos”, conta Carol.

Mais sol, mais vida lá fora

Dicas de cuidados para o verão Para várias tradições, a chegada da estação mais quente também está alinhada com o momento de colher tudo o que plantamos (ilustração: @TGOUVEA)

Nem todos se afinam com o verão, é verda­de. Porém, de dezembro a março, vivencia­mos o ápice da nossa relação com o astro-rei, considerado um deus por distintas culturas.

Esse fato, por si só, produz reve­rência, ainda que o calor exacerbado pos­sa gerar justas reclamações. Mas gosto da ideia de que o bronzeado típico desses me­ses nos faz um tanto divinos, pois desfila­mos por aí vestidos de sol, enquanto nosso íntimo vê crescer o entusiasmo pelas coi­sas do mundo e pelas interações humanas.

“Emocionalmente e psiquicamente falan­do, essa época é de muita atividade, mo­vimento, alegria. Nos chama para fora de casa, para nos abrirmos para amigos, para celebrarmos a vida e estarmos em contato com a natureza ao ar livre”, aponta Patrícia.

No Brasil, o início do verão coincide com as festas de fim de ano. Uma feliz sincronicida­de, não é mesmo?

“O Natal, que reúne ami­gos e família, nos faz renovar os votos de vi­ver com saúde e bem-estar e de comunhão com as pessoas”, destaca a psicoterapeuta.

O verão na cultura chinesa

A medicina tradicional chinesa também enxerga a unidade entre os espaços inter­nos e externos e o ser humano como a inte­gração de espírito, mente, corpo e emoções.

Sob tal perspectiva, as estações do ano são associadas aos elementos da natureza, aos órgãos e vísceras e ao campo emocional.

“O verão se relaciona ao elemento fogo, ao ór­gão do coração e à víscera do intestino del­gado”, informa Sol Medêiros, terapeuta inte­grativa e facilitadora de cursos e palestras a respeito do equilíbrio entre corpo e mente.

“O verão em nós é representado pelo sol in­terior que é o coração. Além da vontade de viver, dele brota a gratidão, a possibilidade de ver o lado bom em nós, nas pessoas e na vida de forma amorosa”, ela complementa.

A estação do ano nos convida à ação

Uma vez que a luminosidade elevada é o marco desse período, pelo fato de os dias serem mais longos, podemos aproveitá-la para colocar o foco no que faz nosso co­ração vibrar de alegria, dissipando mágo­as e tristezas.

E, ao transmutar humores mais densos, protegemos o valente mús­culo cardíaco. A luz solar também ilumina os caminhos.

Então, é hora de apostar no que se quer. “São meses propícios para se ter clareza e consciência dos nossos objetivos e valores e irmos em busca da nossa realização, porque há muita energia, re­cursos e abundância disponíveis ao nosso redor”, encoraja Sol.

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Como curtir um verão sem exageros

Dicas de cuidados para o verão Em meio a festas e a tanta alegria, também é preciso desfrutar o verão sem se exceder nele, lembrando que descansar faz parte

Contudo, há de se ter cuidado com os ex­cessos. Se passarmos do ponto, o doura­do do sol na pele pode virar insolação; as festas ininterruptas, alienação; a alegria, euforia, que é um estado de hiperexcitação da mente.

“Na medicina chinesa a mente mora no coração e, se a mente está agitada, o coração também estará. Isso pode gerar ansiedade crônica, irritabilidade, impaci­ência, falta de foco, agitação mental, insô­nia, sudorese excessiva, arritmia e memó­ria fraca”, alerta a terapeuta.

A antroposofia também recomenda mo­deração em nossas escolhas animadas pelo calor da estação. “Sendo assim, num ritmo exacerbado de comemorações, comemos e bebemos demais, fazemos muitas atividades, ficamos desassossegados, impulsivos e depois nos estressamos e nos exaurimos.

Por isso, é im­portante achar um bom ritmo para o verão sem se exceder nele”, sugere Patrícia. Para não colocarmos a saúde em risco, certos cuidados básicos são imprescindíveis: fazer refeições leves e ingerir bastante líquido.

Porém, por mais que o nosso corpo esteja pelando, a medicina chinesa não recomen­da o consumo de bebidas e alimentos frios e gelados.

É que, segundo essa visão milenar, nessas condições eles podem lesionar o es­tômago e ainda provocar cansaço e letargia.

Como cuidar do seu corpo no verão

Claro, também precisamos nos proteger do sol escaldante, usar roupas arejadas e exercitar o corpo sem nos extenuar. Lem­bra que o coração é o órgão mais afetado nessa época? Pois tem mais um detalhe.

Segundo a medicina chinesa, a cada duas horas um órgão trabalha em sua capacida­de máxima de energia. Entre 11 e 14 horas, é a vez de o coração atingir seu pico ener­gético.

Por isso, é prudente evitar atividade física intensa nesse período, principalmen­te sob o sol forte. Do contrário, ficamos suscetíveis a desmaios e até infartos.

“O ideal nesse horário é estar mais rela­xado e tranquilo. Tirar a siesta faz muito bem para a saúde física e emocional. Ca­minhadas leves no final da tarde, de prefe­ rência em áreas verdes, também nutrem o espírito e o coração”, aconselha Sol.

Patrí­cia Botelho faz coro: “E nossa alma precisa internamente de descanso, de reflexão, de parcimônia nesse momento. Caminhadas, meditação, descansar e relaxar fazem par­te desse tempo de nutrição interna”.

Dicas de rituais para um verão pleno

Agora que sabemos como celebrar o ve­rão, podemos honrar a estação com um ritual preparado com capricho e firme pro­pósito.

O xamanismo sugere uma oferenda ao espírito da estação, com flores, frutas e sementes, simbolizando a prosperidade e a abundância que ela traz.

“Também pode-se fazer um banho com rosa amarela, casca de laranja e cravo. Na mente, pensamentos po­sitivos e intenções do que você deseja nesse novo ciclo que se inicia”, ensina Carol Shanti.

Um banho de cachoeira, um mergulho no mar, um momento de cumplicidade com a natureza no dia 21 de dezembro também são formas especiais de vivenciar esse rito de passagem.

Que possamos todos pulsar tão intensamente quanto a vida lá fora.

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RAPHAELA DE CAMPOS MELLO é jornalista e espera o verão ardentemente para passar mais tempo no mar. @raphaelacmello


Conteúdo publicado originalmente na Edição 238 da Vida Simples

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