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Mudar nem sempre é a resposta: veja quando permanecer é mais sábio
Darius Bashar
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O processo de transformação não é (apenas) um caminho aparente que nos leva de um lugar para outro, mas uma jornada interior de expansão por meio da liberdade de sentir, pensar e agir de forma inédita. O caminho exterior simplesmente responderá a isso.

Há muitos anos, uma analista me desafiou a não mudar (de trabalho, namorado ou CEP) como eu costumava fazer toda vez que entrava na “Curva do Tédio”, um incômodo profundo que mobilizava a busca por novos rumos.

Na época, a estrada (literal e simbólica) parecia mais atraente que qualquer porto-seguro, a ideia de enraizamento provocava alergia. Reagir às circunstâncias, tomada pela sede de adrenalina e movimento, era um automatismo. A pausa, a temperança e a resposta oportuna não pareciam caminhos plausíveis. Mudar consistia em repetir.

A vontade de mudar está conectada às frustrações

O impulso de mudar costuma vir de uma frustração vivida como limitação ou destino inevitável. Neste cenário, busca-se alternativas, elege-se possibilidades e prioridades, e age-se confiando na eventual colheita. Tudo o mais rápido possível.

Nesta linha, quem troca de trabalho com frequência acaba ganhando credenciais quase automáticas de arrojo, quando esse movimento também pode representar baixa tolerância à frustração, pouco comprometimento com metas de longo prazo, ou simplesmente incompetência. Também convencionamos que novas tecnologias e pautas da moda devem ser absorvidas imediatamente, sem filtro ou crítica, caso contrário você/seu negócio será percebido como jurássico.

O quanto de originalidade há nisso afinal? E por que acreditamos com tanta facilidade que movimento é sinônimo de progresso?

Mudar nem sempre é a resposta

No livro A Revolução das Plantas: um novo modelo para o futuro*, Stefano Mancuso ensina que o reino vegetal não tem condições de recorrer às estratégias de luta ou fuga, e que há um outro tipo de inteligência no comando de sua sobrevivência.

No outono, por exemplo, as árvores ganham uma cor chamativa possivelmente para afastar a ameaça dos pulgões. Mas será que a espécie humana teria uma estratégia de sobrevivência ainda desconhecida ao seu dispor?

Num tempo em que se valoriza o fetiche do imediatismo e da novidade, passamos a subestimar a perseverança, a continuidade e a constância como virtudes necessárias para se esperar pelo momento oportuno da ação.

Quietude não é o mesmo que estagnação, mas um estado dinâmico, um ponto de equilíbrio e harmonia natural em todo o sistema de mudança, como bem ilustra o I Ching (também conhecido como o livro das mutações). Esse “lugar” também pode surpreender e conduzir à descoberta.

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O diálogo pode ser um caminho revolucionário

Participei recentemente de uma vivência, inspirada pelo texto “diga a p… da sua verdade”, que foi uma espécie de exorcismo. Sincronisticamente, várias “verdades selvagens” me foram confessadas, desafiando intensamente os meus instintos de fuga e luta.

Ouvir revelações corajosas e de difícil digestão não pôde ser apenas um ato fisiológico, mas uma escolha consciente, em que o exercício de contemplar e acolher, sem (re)agir, me conduziu a um estado inusitado de compreensão e comunhão.

O educador e psicólogo francês Pierre Weil pregava que a realidade é vivida de acordo com o nosso estado de consciência. Na arena de constante tensão e defesa que temos vivido, passamos a ter aversão ao que é diferente do que acreditamos e queremos, sem anticorpos para outras vistas de um ponto.

Na era de monólogos e cancelamentos, dialogar, criar pontes e buscar compreender perspectivas consideradas inadmissíveis, podem ser caminhos realmente revolucionários – uma fonte inesgotável de renovação, criatividade e sobrevivência.

O poder do intervalo e da pausa para a criação de possibilidades

Nas artes e cultura tradicionais japonesas, a palavra ma é definida como a sugestão de um intervalo, pausa ou “o espaço entre duas partes estruturais”. Uma consciência de um senso de lugar para criar a percepção de um intervalo no espectador, que experimenta os elementos que formam uma obra de arte.

Neste vazio cheio de possibilidades, como o silêncio entre as notas que fazem a música, a magia acontece. No processo de transformação criativa, talvez a pausa seja justamente a matéria-prima mais essencial para a tomada de consciência blindada da mecanicidade.

Por meio do temporário descolamento das “certezas”, da reatividade e das limitações imaginárias que assolam a mente, cria-se espaço para acolher o futuro que quer nascer.

Ao acatar a ideia da minha então analista, mantendo tudo como estava, aprendi que a vida também se transforma na aparente passividade.

Numa viagem em que saí de cena para (tentar) preservar o status quo, meus caminhos tomaram rumos jamais imaginados. Da “obsessão à primeira vista” que foi o meu primeiro encontro com a cidade fênix de Berlim até hoje, tenho feito escolhas enfim inéditas, e menos precipitadas. A casa (o trabalho, as relações etc) não é mais um lugar de onde fugir. É para ficar.

Dicas para experimentar a permanência

  • Pratique Yin Yoga: experimente os surpreendentes benefícios dos asanas mais prolongados, incluindo o Tadasana, a postura da montanha. Reflita sobre como você se coloca de pé na vida.
  • Procrastine: adie decisões supostamente urgentes. Deixe a vida escolher por você.
  • Jogue I Ching: flerte com a sabedoria da não ação presente em alguns hexagramas desse oráculo milenar.
  • Marque um date com o chão: se você cair, ele estará lá para você, de forma permanente.

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