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5 casas que viraram museus imperdíveis em São Paulo
Instituto Bardi (divulgação)
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Neste artigo:

Residências musealizadas são uma ótima alternativa para os grandes museus de São Paulo. Jamais porque melhores (sequer caberia a comparação), mas talvez porque refrescam o combo das pinturas pelas paredes mais um punhado de bancos desconfortáveis para descansar. Não estou dizendo que conhecer um museu doméstico signifique atirar-se no sofá do(a) falecido(a), mas, sim, predomina uma atmosfera de intimidade.

E, de fato, há um estranho prazer em observar livros, móveis, obras de arte e até pequenos bibelôs que dividiram a morada com essas pessoas, tão marcantes a ponto de terem suas casas abertas à frequentação pública. Estar ali, aliás, é como aceitar um convite privado para um café, mas ter que embarcar em uma máquina do tempo para honrá-lo. Em muitos momentos, contudo, senti falta de outras narrativas e imaginei quem mais teria vivido ou trabalhado naquelas habitações, além dos proprietários e seus já reconhecidos privilégios.

Instituto Bardi – Casa de vidro

A minha primeira visita foi à casa projetada por Lina Bo Bardi, arquiteta ítalo-brasileira famosa pelo legado no Museu de Arte de São Paulo (MASP) e no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA). O espaço foi projetado na década de 50, e foi lá que ela residiu com o marido Pietro Maria Bardi por mais de 40 anos. A visita é guiada por um educador e pode ser agendada em horários específicos do dia.

O meu grupo era pequeno e diversificado, mas não pude deixar de reparar a particular animação de dois jovens estudantes de arquitetura. Uma excitação justíssima, afinal, a residência é paradigmática para a arquitetura moderna brasileira. Posicionada em um terreno inclinado, a casa de Lina e Pietro, de tão embaralhada ao ambiente, parece não fazer questão de aparecer. Muitas árvores cercam a sala principal, e uma, nuclear, na parte interna da casa, completa a simbiose com a vegetação local. 

Museu Lasar Segall

“Uma manhã, sem nada ter avisado, vieram me visitar pessoas completamente desconhecidas, e tão logo atravessaram o limiar da minha casa, já nos sentimos aproximados”. O artista lituano referia-se a um grupo de integrantes do movimento moderno brasileiro, mas é também como me sinto em uma manhã de sábado de clima tranquilo depois de partir da visita ao museu.

Segall chegou ao Brasil um ano depois da fatídica semana de arte moderna e foi bem recebido pela elite modernista brasileira. A casa na Vila Mariana, idealizada pela viúva do artista, Jenny Klabin Segall, e projetada por Gregori Warchavchik em 1929, foi o local de sua residência e ateliê. Além do extenso conjunto de obras (mais de 3 mil trabalhos), abriga um cinema e uma biblioteca. Há ainda uma sala de exposição temporária, o que considero um ponto fortíssimo da visita, já que permanecer em constante comunicação com as produções contemporâneas é o que mantém vivo qualquer museu. 

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Fundação Maria Luisa e Oscar Americano 

Visitei a Fundação na companhia da minha filha, que não resistiu à liberdade do extenso jardim do lugar. “Aqui pode correr?”, perguntou desconfiada, no ímpeto do costume dos protocolos de museu. Na área externa, há exemplares de pau-brasil, café e jacarandá. Já dentro da casa projetada pelo arquiteto Oswaldo Arthur Bratke, uma diversidade de peças, entre obras de arte, mobiliário e pratarias, que remetem a uma versão da história do país (mantenha consigo o olhar crítico), e até uma curiosa coleção de leques, parte do núcleo do Brasil império, situados logo ao lado do dormitório principal.

Nas paredes, você verá Brecheret, Belmiro de Almeida, Portinari, Di Cavalcanti, Segall e Guignard. Era nesse lugar pomposo que Maria Luisa e Oscar Americano passavam os finais de semana, até que decidiram ficar de uma vez. Uma decisão que, logo nos primeiros minutos da visita, você não terá dificuldade alguma para compreender.

Casa Museu Ema Klabin

A luxuosa residência de Ema Gordon Klabin foi construída pelo engenheiro e arquiteto Alfredo Ernesto Becker em meados dos anos 50, em um terreno de mais de 4 mil metros no Jardim Paulistano. Ema Klabin pertenceu à alta sociedade e foi educada à moda europeia, sem nunca perder o espírito livre. Ela assumiu os negócios da família após a morte de seu pai, o industrial Hessel Klabin.

A casa foi idealizada para abrigar a coleção de arte (são mais de 1.500 peças) que adquiriu desde a década de 40, tanto no Brasil quanto nas inúmeras andanças por galerias americanas e europeias. As viagens, aliás, são um dos destaques da sua biografia: no portal da casa-museu há uma bonita foto de Ema diante do Taj-Mahal em uma das cinco voltas ao mundo que teria realizado ao longo da vida. Minha dica: escolha um dia de sol e aproveite sem pressa o passeio no jardim com paisagismo assinado por Roberto Burle Marx

Casa Guilherme de Almeida 

Budas, cachorros, lunetas e livros, muitos livros. A casa do príncipe dos poetas revela o lirismo do encontro das múltiplas facetas que formaram o intelectual Guilherme de Almeida advogado, tradutor e jornalista, mas também um homem supersticioso, apaixonado por cachorrinhos da raça pequinês e assíduo observador de estrelas no céu.

No piso térreo, um paletó foi cuidadosamente posicionado sobre a cadeira do canto de leitura, como se ainda anunciasse a sua chegada. Tudo parece no seu devido lugar na Casa da Colina, como ele carinhosamente apelidou a residência no alto de uma rua arborizada no bairro do Pacaembu.

Nas paredes, um amplo acervo de gravuras e pinturas conta com nomes como o das artistas Anita Malfatti e Tarsila do Amaral. No final da visita, uma escada estreita te levará ao ponto mais alto e especial da casa, a que não pretendo dar spoiler. Lá, aproveite a imersão e, por favor, não deixe de apreciar a vista através da pequena janela.  

Um gosto de amora
comida com sol. A vida
chamava-se “Agora”

Guilherme de Almeida

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