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Escutar e dialogar com as dores é autoconhecimento
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Quando decidi escutar e dialogar com as minhas dores comecei a reativar sentimentos há tanto tempo dispersos ou distantes: leveza, alegria, coragem, reconhecimento

 

Quando começou 2016, literalmente no primeiro dia do ano, eu senti que as coisas não estavam tão bem “ali dentro”: na mente, no coração, nos sentimentos. Eu havia passado o réveillon envolvido pelas serras e pela chuva de Santa Bárbara do Tugúrio, em Minas Gerais. Naquele momento para mim, as inquietações que começavam a emergir não poderiam fazer sentido. De onde vinham? Por que estar triste quando tudo parecia estar dando tão certo? Ignorei e segui. 

Bastou transcorrer um mês ignorando para experimentar a primeira crise de ansiedade, enquanto participava de uma reunião de trabalho, em São Paulo. Foi horrível, era como se tivessem me levantado do chão, se eu não reconhecesse ou sentisse as pessoas, o ar. Tudo estava embaçado e nada parecia se conectar. Mas ainda assim segui acreditando que eu tinha forças para atravessar sozinho essa dor. Na verdade, eu pensava que fugir dela seria a solução. 

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Dois dias depois, quando já estava em Belo Horizonte, a força desconcertante da ansiedade chegou com dores, angústias e desespero. Foi quando dei passos para encontrar caminhos de cuidado e busquei a terapia holística. Florais, glóbulos, reiki, diálogos com um excelente terapeuta. Um percurso que durou cerca de oito meses, até que novamente eu me auto-sabotei, abandonando a terapia.

Alívios

Já em Brasília, onde vivo desde 2016 – decisão que tomei logo depois das primeiras crises e no meio da terapia -, o ano chegou com outras angústias e sofrimentos. O turbilhão de pensamentos, de memórias, planejamentos, passado e futuro que atropelam o presente foram gestando novas ansiedades, que dessa vez avançaram ainda mais, doendo o peito e tentando expressar algo que era bloqueado na garganta. Foi quando senti que já não dava pra continuar perambulando pelos dias. Não dá! 

Busquei ajuda com um psiquiatra indicado por uma grande amiga e ele me disse que os sintomas que eu relatava pareciam se relacionar muito com a subjetividade. “É algo de dentro, Leon. E você precisa compreender o que essa dor quer dizer!” Guardei comigo essa indagação e dois dias depois, quando fui à primeira sessão de análise, o terapeuta me pergunta: “O que essa dor quer dizer?” Terminei a sessão e caminhei até o metrô juntando os pedaços das conversas com um e com outro me perguntando sobre o que as dores queriam me falar. 

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Enquanto me aproximava de casa, algumas possíveis respostas e outras tantas perguntas surgiram. Eu me senti um pouco mais aliviado, mais conectado com meu corpo, com o próprio percurso que fazia, com as pessoas que cruzavam meu caminho, com o vento, com o sol que se despedia para receber a noite. 

Era preciso ter coragem para me escutar, voltar a me conhecer, perguntar de novo e de novo sobre projetos de vida. Era preciso dar passos em direção às novidades, à beleza das descobertas. O piloto automático dos últimos anos já deu sinais de colapso. O acomodar-se, o confortar-se com o mesmo de sempre não faz sentido. 

Escute-se mais

No entanto, essas não são as respostas para as dores. Pelo contrário, são questões que suscitam outros questionamentos. Mas ao passo que me desafia, também me lança a pensar o presente, revisitar com gratidão o que já passou e estar disposto a vivenciar as coisas novas do futuro. E mais importante: compreender que as rupturas são fundamentais quando perceber que as coisas já não fazem sentido, mesmo que tudo possa parecer legal, que seus chefes gostem de você, que seus colegas de trabalho ou de grupos te admirem. Reconhecer que cada vivência, profissão ou relação tem mais sentido enquanto durarem com intensidade, afeto, desejo. 

Quando decidi escutar e dialogar com as minhas dores comecei a reativar sentimentos há tanto tempo dispersos ou distantes: leveza, alegria, coragem, reconhecimento. Não fugir da dor pode ser um caminho de profundo autoconhecimento. Isso não significa encontrar fórmula mágica para a felicidade eterna. Pelo contrário, é observar o que a dor, a angústia e a ansiedade instigam para desvelar o que está escondido e nos lançar em caminhos de liberdade, criatividade e amor.

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