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Filmes que transformam
Dieny Portinanni | Unsplash
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Para Flavia Doria, mais do que contar histórias inspiradoras, os filmes podem ser um convite para as pessoas refletirem sobre questões urgentes que nos rodeiam.

Como fazer a diferença no mundo? O caminho encontrado pela produtora Maria Farinha Filmes, em São Paulo, foi contar histórias que convidem a pensar com mais profundidade sobre questões importantes da vida. E promover transformação social por meio de filmes, séries e documentários. Para isso, as produções abordam assuntos como a importância dos cuidados que cada um recebe no começo da vida para que se torne um adulto saudável e feliz. Por exemplo, a publicidade dirigida às crianças, a relação das mulheres com o corpo. Como brincar é essencial para ter uma vida mais leve, ou mesmo a obesidade infantil. Agora a produtora está se preparando para lançar uma série sobre ativismo na Amazônia, coproduzida com a Rede Globo. 

Flavia Doria, CEO da Maria Farinha Filmes, conta a seguir por que os filmes tocam tanto as pessoas e as estimulam a ter um olhar mais consciente sobre a sociedade e sobre o nosso tempo. 

QUAL É O PAPEL DOS FILMES QUE VOCÊS PRODUZEM? 

Primeiro, fazemos um trabalho para sensibilizar as pessoas sobre temas relevantes para transformação social. Para isso, fazemos filmes que emocionam, informam, conscientizam e fazem pensar. Acreditamos que histórias bem contadas são ferramentas de empatia. 

filmes que transformam Crédito Alvin Mahmudov | Unsplash

POR QUE ELES TOCAM O PÚBLICO DE MANEIRA TÃO POTENTE? 

Parte do processo de criação é o aprofundamento das pesquisas ligadas à causa da qual estamos tratando. Ao conhecer os temas profundamente, conseguimos tratá-los de uma forma relevante para as pessoas. De forma que façam real sentido para elas. 

COMO CONTAR HISTÓRIAS E CAUSAR IDENTIFICAÇÃO? 

Antes de tudo — no processo de aprofundamento de pesquisa — conversamos com especialistas, ativistas, empresas, artistas, jornalistas e governantes que estejam envolvidos com a causa. Nessa escuta, encontramos inspiração para as histórias que queremos contar e para o “como contar”. Dessa forma, podemos falar de temas que interessam, com a linguagem certa. Essa é a melhor maneira de fazer com que as pessoas se identifiquem. 

TEMAS SÉRIOS INTERESSAM? 

Sim. Sobretudo, porque a sociedade está enxergando cada vez mais a necessidade de dialogar e tratar temas importantes. Aí que entra a força do entretenimento. O audiovisual é capaz de abordar assuntos sérios com leveza, com arte. E também é capaz de chocar, de incomodar. É uma ferramenta poderosa para inspirar discussões relevantes. 

COMO FAZER PARA QUE OS FILMES QUE TRANSFORMAM TENHAM UM GRANDE ALCANCE? 

Antes de tudo, parcerias. A série O Começo da Vida, por exemplo, chegou a 190 países por conta de uma parceria com o Unicef. Criamos também uma plataforma, a Videocamp (videocamp. com), na qual distribuímos todos os nossos filmes gratuitamente. Mas não só os nossos. Também fazemos uma curadoria de outros filmes que promovem a transformação social. A ideia do Videocamp é que as histórias sejam exibidas para cinco ou até duas mil pessoas. Primordialmente, em empresas, escolas ou hospitais. Basta preencher uma inscrição e o sistema envia um link para fazer o download gratuitamente.

Além disso, na plataforma, a pessoa encontra maneiras de se engajar na causa. As transmissões são possíveis em qualquer lugar do mundo. Já recebemos pedidos de gente que faz trabalho comunitário na Faixa de Gaza para exibir O Começo da Vida. Elas queriam falar da importância dos primeiros anos na vida de uma criança. 

filmes que transformam Crédito: Spikeball | Unsplash

QUAL É A REAÇÃO DAS PESSOAS A ESSE TIPO DE NARRATIVA? 

Primeiramente, costuma ser muito forte. E não muda muito em diferentes religiões, culturas e países. Em geral, são reações bastante positivas. E o audiovisual é capaz de abordar assuntos sérios com leveza – e também de incomodar. É uma ferramenta poderosa para inspirar discussões relevantes. Mesmo quando não são, a gente acredita no poder do diálogo. 

QUAL É A DIFERENÇA ENTRE FILMES QUE TRANSFORMAM E OS QUE APENAS ENTRETÉM? 

Uma das pessoas da minha equipe, a Mariana Mecchi, definiu isso de uma forma que adoro: “Todo filme, todo mesmo, nasce com o objetivo de emocionar. E todos fazem a mesma pergunta: que tipo de emoção quero provocar? Mas somente alguns se fazem também outra pergunta: que tipo de realidade quero transformar?”. E são esses os filmes que, de fato, modificam o outro, emocionam e promovem o desejo de mudança. 

VOCÊ PODERIA DAR EXEMPLOS DE TRANSFORMAÇÃO PELOS FILMES?

Por exemplo, tem gente que decidiu mudar de profissão depois de assistir Tarja Branca: a Revolução que Faltava. Temos relatos de funcionários da ONU e voluntários do Unicef que levaram O Começo da Vida a comunidades de culturas muito machistas. Culturas essas nas quais os homens não se envolviam em nada. Nesses lugares, após a exibição, uma transformação cultural se pôs em curso. Isso porque eles entenderam que não se tratava de feminismo ou machismo. Mas de cuidar de uma criança e oferecer a ela uma vida estruturada.

Logo depois, o filme também foi exibido no Rio Grande do Norte para mais de mil assistentes sociais, que levaram as informações para o trabalho no dia a dia. Do mesmo modo, quando foi lançado, Muito Além do peso, que fala sobre obesidade, colocou o dedo na ferida de empresas que vendem refrigerantes e bebidas açucaradas. Finalmente, por causa dessa produção, o Instituto Alana e a Coca-Cola debateram o assunto até que a empresa de refrigerantes resolveu mudar sua política de publicidade. Ela proibiu que qualquer campanha fosse dirigida às crianças e alterou sua diretriz de marketing global. Isso é revolucionário.

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