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A literatura como caminho social
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Por meio de obras infanto-juvenis, que presam pela diversidade, projeto Rodas de Leitura ajuda no processo educacional de jovens em comunidade do Rio de Janeiro

Há meses, experimentamos, forçadamente, uma forma de viver trazida pela pandemia causada pelo novo coronavírus. Então, está tudo diferente. Nesse tempo, além da questão sanitária, muito se falou sobre o novo normal – as mudanças nas formas de trabalho e de educação, e nas relações.

Para quem tem criança em casa, o desafio, além de se adaptar ao home office, é participar ativamente do processo escolar dos filhos. Os pais acabam sendo também professores. Contudo, num país de tamanha desigualdade social, como o Brasil, a educação de qualidade acaba se tornando um privilégio para poucos. Como driblar essa situação e ajudar crianças, em situação de vulnerabilidade, a aprender e se entreter dentro de casa? Foi buscando participar ativamente desse desafio que o Instituto Estação das Letras, em parceria com a Associação Nagai, criou o Rodas de Leitura.

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Ao longo de três meses, 120 famílias, que contam com estudantes entre 5 e 21 anos de idade, têm, por meio de uma plataforma digital de videoconferência, um encontro semanal para a discussão de livros (entregues aos alunos). A mediação é feita por professores especializados. A princípio, cada ciclo de leitura de uma obra dura quatro semanas e, no último encontro, os autores também participam do bate-papo aberto ao público. Em julho, foi a vez Cabeça de Vento, de Bia Bedran. Para agosto, será trabalhado o livro Meu Vô Apolinária, de Daniel Munduruku. Por fim, já setembro, as conversar giram em torno de Olhos D’água, livro de contos de Conceição Evaristo.

Entrevista com Suzana Vargas

Durante o processe de entrega do material, ficou claro que muitos não tinham alimentos básicos em seus lares. Para tentar colaborar, a equipe começou um processo para montar, ao menos durante os três meses, cestas básicas para família – os canais para que você possa ajudar, caso queira, estão no final do texto.

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Vida Simples conversou com Suzana Vargas, escritora e diretora do Instituto Estação das Letras, sobre a importância de projetos como o Rodas de Leitura e da literatura para a formação multidisciplinar dos estudantes.

Qual é a importância deste projeto?

O projeto adquire nesse momento uma importância enorme se considerarmos que as crianças das escolas públicas estão sem escola, quase sem acesso a atividades lúdicas e educadoras. Estamos atendendo 122 crianças e jovens no Morro do Alemão nesta versão on-line do Rodas de Leitura. E a oportunidade de realizar uma ação desta natureza chega no momento em que estamos completando 25 anos.

Por que a escolha pela literatura infanto-juvenil?

A leitura literária abre espaços de imaginação, trabalha a sensibilidade, trabalha nossa forma de ler o mundo e nossa humanidade. A leitura de autores da literatura brasileira e o trabalho dos mediadores exercita a inteligência. Funciona de modo mais eficaz para, no futuro, termos acesso, inclusive, à compreensão de certas matérias escolares mais objetivas.

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Por fim, é melhor forma de apresentar a uma criança ao universo dos livros – é a primeira vez também que muitas famílias então tendo contato com a literatura.

Qual foi o filtro usado para a escolha dos livros? Questões como diversidade foram levadas em conta? 

Sim, vários filtros foram utilizados e a diversidade foi um deles, para além da qualidade literária das obras.

O primeiro deles é o fato de os encontros acontecerem de forma online. Crianças dos 5 aos 8 anos não tem uma capacidade de concentração muito grande e nem todos se encontram no mesmo estágio com relação à capacidade leitora. Então optamos pelo trabalho com poesia e música, arte e artesanato – nesse cenário, a escolha por Bia Bedran foi quase inevitável. O livro Cabeça de Vento tem assunto e linguagem universais que permitem uma compreensão muito vasta.

No setor dos pré-adolescentes, nada mais natural do que trabalhar com o tema do indigenismo, do pertencimento a uma raça num momento de grande discussão em torno da nossa ancestralidade. Nesse sentido, o Livro do Daniel MUnduruku, escritor indígena, vai dizer muito das nossas origens e explicar nossa história.

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Por fim, os jovens se encontrarão com Conceição Evaristo, e irão se deparar com a realidade de mais de 60% da população brasileira, com sua história e origens. É o que o livro Olhos D’Agua nos conta. O mundo daqueles que são discriminados por sua cor, sua raça. Neste livro nos encontramos com nossa negritude e nos deparamos, através de contos e crônicas, com a realidade quase nunca nomeada na literatura brasileira.

rodasdeleitura.org.br
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