Será que vamos conseguir reverter o clima do planeta?
É preciso agir rápido em favor do meio ambiente ou o clima do planeta transformará a Terra em um lugar ainda mais difícil de se viver. Do Acordo de Paris à compostagem do lixo orgânico doméstico, toda ação é urgente e importante
A cena é aquela bem clichê. Após derrotar sozinho um grupo mafioso altamente perigoso, o protagonista ainda precisa impedir que uma bomba-relógio acabe com a vida de inocentes.
Olha o cronômetro e, faltando menos de cinco segundos para a tragédia se consumar, precisa escolher um dos fios para cortar. Na dúvida, fica com o de cor vermelha.
Música de suspense, suor no rosto e, enfim, o artefato é desarmado. A câmera dá um close no personagem que, esgotado, deixa transparecer um pequeno sorriso, revelando o sentimento de dever cumprido.
Lembro-me dessa sequência cinematográfica enquanto reflito sobre o tema desta matéria: o clima do planeta. E até arrisco uma sinopse de roteiro adaptado: a humanidade se vê à beira do colapso, após o mundo ter quase todas as suas florestas primárias destruídas.
A perda da floresta, além da emissão excessiva de gases de efeito estufa, estão provocando um enorme desequilíbrio ambiental, com perda de biodiversidade e ecossistemas assolados. E também provocam a emergência climática (a causa de outros desastres socioambientais).
Não era para ser, mas o planeta se tornou uma bomba-relógio. Contudo, me surgem algumas questões: há um herói que irá nos salvar ou precisamos, todos nós, assumir esse papel?
Quem são os vilões? Há tempo de desarmarmos esse explosivo? Até agora, as dúvidas estão em maior número do que as respostas.
Governos fazem acordos pelo clima do planeta
Para me socorrer nesses pensamentos, conversei com Cecilia Polacow Herzog, mestre em Urbanismo, especialista em Preservação Ambiental das Cidades e professora da PUC-Rio.
A princípio, a expert deixa claro que, na encruzilhada em que paramos há bastante tempo, se avista um ponto no qual não há mais retorno. Ou fazemos algo drástico a favor do clima do planeta, ou nosso amanhã não estará garantido como o conhecemos.
O lado bom é que, pelo que parece, esse estado de urgência é consciente para aqueles que têm o dinheiro para agir de forma mais enérgica.
“As grandes corporações, que são, na verdade, quem domina o planeta, já se atentaram para isso. Acompanho o que acontece no mundo econômico e noto que elas perceberam que é necessário mudar esse sistema predatório”, salienta Cecilia.
Em sua opinião, entre os pontos favoráveis, pode ser destacado o retorno dos Estados Unidos ao Acordo de Paris, após Biden assinar um ato em fevereiro de 2021. A assinatura fez a maior economia mundial voltar a se comprometer com as metas de redução de emissões de carbono na atmosfera.
Mas é ponto favorável também, a “construção da civilização ecológica”, incluída há três anos na Constituição chinesa. Assim como o novo Pacto Ecológico Europeu, que almeja tornar o Velho Continente o primeiro com impacto neutro no clima.
“No Brasil, o governo continua indo na contramão, na negação do evidente, mas, além dos exemplos citados, grandes empresários estão vendo que não há saída sem a regeneração ecológica de nossa casa, do planeta Terra.”
Já passamos do ponto de não-retorno
Consertar a situação ambiental não é possível, ainda mais a curto e médio prazo, mas amenizar o estado em que nos encontramos, sim.
Afinal, não se pode esconder debaixo do tapete a herança de um século e meio de industrialização, no qual a ideia da infinitude dos recursos naturais predominou.
Igualmente, não podemos ignorar que o desmatamento, por exemplo, começou há milênios. Nem esquecer que mais de 99% das florestas originais na Europa foram substituídas por cidades e plantações comerciais.
Todavia, amigos leitores, as propostas existem para além do Acordo de Paris. Em primeiro lugar, é necessário que sejam reforçadas e ampliadas as políticas públicas ambientais.
No Brasil, por exemplo, já vigoram a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.433/97) e Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/10).
A recuperação de ecossistemas degradados é outra necessidade latente para reverter a emergência no clima do planeta. Para tanto, há dois anos, a ONU Meio Ambiente, em conjunto com a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), determinaram que o período de 2020 até 2030 seria a Década das Nações Unidas sobre Restauração de Ecossistemas.
Busca-se apoio político, empresarial e, consequentemente, financeiro para o cumprimento do Desafio de Bonn, criado em 2011, de restaurar 350 milhões de hectares de terras degradadas até 2030.
Leia mais
– Rede de Sementes do Xingu coleta sementes para reflorestamento
Educação e comunicação pelo clima do planeta
Não se pode esquecer a educação ambiental massiva, que deve ser aplicada às pessoas em todas as fases escolares. Além disso, como explica Fabiana Mongeli Peneireiro, engenheira agrônoma e mestre em Ciências Florestais, é preciso também que haja outras ações.
“A transformação radical da atividade agropecuária e a potencialização do uso da energia solar em mais fotossíntese e fixação de carbono (agrofloresta sintrópica). Os transportes e indústrias menos poluentes. O comércio em circuitos curtos, valorizando alimentos provenientes de sistemas de produção agroflorestais agroecológicos”.
Outra forma de ação relevante para o clima do planeta é a implantação nas metrópoles de soluções baseadas na natureza, permitindo a integração da urbanização com o meio ambiente.
Recuperação e conexão dos sistemas naturais para garantia da água, conservação de áreas protegidas e telhados verdes, por exemplo, fazem parte disso.
Reduzir o consumismo vale como medida individual
E quanto a nós: o que, individualmente, podemos fazer? Segundo Fabiana, há várias medidas ao nosso alcance. Além da tão falada coleta seletiva de lixo, precisamos olhar para o consumismo desmedido, um grande vilão dos impactos negativos ambientais.
“Separar o lixo é uma ação importante, mas mais importante é reduzir o consumismo. Evitar embalagens e tudo o que não precisa realmente”, assinala Fabiana, que é membro da ONG Mutirão Agroflorestal.
“Evitar o desperdício de alimentos e compostar seu lixo orgânico em casa, ou mesmo depositar diretamente sobre o solo, cobrindo-o com palha, são ações que impactam positivamente o ambiente. Plantar seu alimento e/ou consumir alimentos produzidos por agricultores familiares, também é.”
Como não esmorecer e manter a esperança de que a vida seguirá neste planeta? Entre entusiasmo e descrença, guardo a fala de Fabiana Peneireiro: “Precisamos manter viva a chama da transformação latente, do caminho possível e viável para uma humanidade comprometida com a vida, que promova a vida e aumente os recursos para ela”.
Sobre a série De Olho no Futuro
A proposta dessa série é investigar o que se tem pensado para temas centrais da vida humana, como trabalho, educação, alimentação, clima do planeta, moradia e sociedade. Compreendendo o passado e o presente, espiamos o futuro com olhos mais disponíveis para viver essas mudanças e criar um mundo melhor.
A SÉRIE DE OLHO NO FUTURO recebe consultoria da Oxygen (@oxygen.brasil), uma plataforma de conteúdo em inovação. Com seu olhar apurado para a curadoria de tendências, a fundadora Andrea Janér tem como missão compartilhar conteúdos para ajudar empresas e pessoas a entender para onde cada transformação poderá nos levar.
Você pode gostar de
– A agroecologia pode nos salvar da crise climática
– Mudanças climáticas são alertas para mudar hábitos
– Como lidar com a emergência climática e buscar soluções reais
GUSTAVO RANIERI é jornalista, escritor, padeiro e oficineiro. Alegra-se ao ver minhocas felizes em sua composteira, delicia-se ao colher e preparar seus próprios alimentos e se enche de esperança ao observar as filhas pequenas tirarem insetos de dentro de casa para devolvê-los ao gramado, respeitando e honrando toda a natureza.
Conteúdo publicado originalmente na Edição 232 da Vida Simples
Os comentários são exclusivos para assinantes da Vida Simples.
Já é assinante? Faça login