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Ter ou pertencer
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Temos sempre essas duas opções à nossa frente, mas qual delas estamos escolhendo seguir e qual o custo disso?

Sem qualquer esforço, apenas ao olhar de um lado para o outro da minha poltrona do avião, encontro 11 telas, pequenos monitores de TV. Em cada uma delas, uma história: de encontro, desejo, medo ou perda. Uma a uma, as caixas de luz reproduzem imagens de beijos, olhares, fogo e sangue.

Em frente a cada uma delas há uma pessoa afivelada à sua poltrona, alguém que vive de acordo com as mesmas narrativas que você e eu. Lá fora, tudo às centenas: viajamos rápido, a quase mil quilômetros por hora. De tão ligeiro, nem se vê a água salgada, 10 mil metros abaixo de nossos pés. Do lado de fora, o frio é congelante (-50 graus), mas dentro da gente também. Uma aeronave que cruza o Oceano Pacífico é a própria imagem deste tempo: o paradoxo latente do saber e da ignorância, o poder de criar e o de destruir combinados.

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Naquele ambiente fechado, centenas de pessoas permanecem em um prático silêncio. Não há encontros ou conversas. A eficiência reina em atmosfera rarefeita. Aqui dentro, de pertencimento e, lá fora, de ar. Ao lado, à frente e atrás, vai o outro, aquele que vê a imagem que projeto, que escuta e julga a história que teço. O outro está logo ali. Não o vejo, mas apenas seu papel. Longe de mim, ele se torna apenas instrumento, carece de existência própria.

Voar sem abelhar não tem graça

No vidro da janela, duas gotas d’água repousam. Mal se encontram e são uma. Paro e olho para o oceano. A imagem abaixo de onde estou é a do encontro, do pertencer: cada molécula de água ligada à seguinte, a parte que é todo sem deixar de ser. O mar a uma dezena de quilômetros. Duas histórias tão distintas, e eu entre elas. A água e seu fluxo evaporam, precipitam e congelam. O líquido que é síntese de pertencimento e colaboração.

Me detenho em outra reflexão: nós e nossas máquinas. Outro dia, li que criamos um aparelho minúsculo, inteligente e que voa, capaz de polinizar as plantas. O objetivo é substituir o trabalho feito pelas abelhas. Nos escapa, porém, que, com as abelhas envenenadas, um pedaço de nós também morre. Voar sobre um mundo sem abelhas tem menos graça.

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Quando o foco vai no que o outro pensa de minha imagem, e em como julga a história que conto, esqueço o que importa no outro: sua mais simples existência. Esqueço também das abelhas. São as histórias que nos unem que permitem os grandes números: de velocidade, altitude, tecnologia e produção. São os mitos que nos organizam, apesar das diferenças, que permitem construirmos juntos as ficções que alinhavam nossa vida. É preciso saber da importância das histórias e escrever narrativas melhores, mitos novos. Histórias fluidas e de pertencimento, e não de número e de acúmulo. A água que não flui apodrece. Para ter demais é preciso envenenar: a água e as abelhas.

Lucas Tauil de Freitas quer beber água de nascentes e pertencer a um mundo cheio de abelhas.

A vida pode ser simples, comece hoje mesmo a viver a sua.

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