Tipos de ciúmes: a importância de reconhecer, nomear a apaziguar o sentimento
Ciúme é normal em qualquer tipo de relação, inclusive com amigos e familiares. No entanto, existem diversos tipos que prejudicam a saúde mental e o bem-estar emocional

Tudo está bem na relação: a paixão ainda está acesa e o amor está presente nos atos do dia a dia. Um relacionamento saudável verdadeiramente de pé. Mas, basta um certo sentimento aparecer que a base dá uma pequena estremecida. Aquela mistura de insegurança, desconfiança e outras sensações que convergem neles: os tipos de ciúmes.
Esse sentimento é comum em qualquer relação – inclusive entre amigos e familiares. No entanto, somente quando é pontual e proporcional. Psicóloga do Hospital Nove de Julho, Rita Caligari afirma que o ciúmes normal é aquele que não tem “intensidade e frequência tão grande a ponto de atrapalhar a relação”. “Pode surgir eventualmente em um sentimento fantasioso de perder a pessoa amada”, diz.
Por outro lado, existe uma linha que separa esse sentimento dos tipos de ciúmes prejudiciais. De acordo com Rita, ele pode ser considerado um problema quando interfere diretamente na rotina e nas decisões da outra pessoa. “Quando limita a dinâmica natural da vida do parceiro”, afirma.
A psicóloga Larissa Fonseca elenca alguns destes sinais: supervisão constante, como de senhas, localização e redes sociais; discussões frequentes com motivos superficiais; proibição de contato com outras pessoas e utilização de roupas; desvalorização do outro; e acusações sem evidência.
Quais os tipos de ciúmes?
De acordo com Larissa, há os seguintes tipos de ciúmes que avançam a linha do aceitável em uma relação:
- Patológico: intenso, desproporcional e frequentemente desconectado da realidade, podendo gerar comportamentos de controle e agressividade;
- Obsessivo: pensamentos repetitivos e intrusivos, sem evidências concretas;
- Projetado: quando a pessoa projeta no outro seus próprios desejos ou condutas, como infidelidade;
- Retroativo: fixação com o passado afetivo do parceiro, gerando incômodo e comparação constante;
- Delirante: forma grave e psicótica, em que a pessoa tem certeza de uma traição inexistente.
Independente do tipo, o importante é identificar as causas que despertam esse sentimento. Larissa explica que o ciúmes pode ter origens variadas, como insegurança, traumas anteriores, medo de abandono, baixa autoestima ou até mesmo padrões de comportamento assimilados na infância. “Também pode ser alimentado por desequilíbrios hormonais e transtornos de ansiedade”, diz.
Em relação às vivências da infância, a psicóloga explica que experiências como abandono, traição ou instabilidade por parte dos pais podem desencadear o ciúmes posteriormente. Situações como essas deixam marcas emocionais que, muitas vezes, se manifestam nos relacionamentos futuros. “Além disso, comparações constantes entre irmãos podem contribuir para o desenvolvimento de um apego ansioso e da sensação de ameaça constante na vida adulta”, afirma.
A culpa não está no outro
Assumir um comportamento de ciúmes prejudicial não é fácil, mas é o primeiro passo. Reconhecer os sinais e se responsabilizar pelo processo de mudança é o ideal para quem deseja melhorar o bem-estar emocional e cultivar vínculos mais saudáveis. Encarar o ciúme como um problema interno, e não como culpa do outro, é fundamental para construir relações mais equilibradas.
Rita Caligari ressalta que o acompanhamento profissional permite compreender a origem do comportamento e iniciar um processo de transformação com estratégias adequadas e direcionadas. “É possível identificar a causa real do problema e evitar que ele se repita de forma disfuncional no futuro.”
A psicóloga explica que os sintomas do ciúmes tendem a diminuir quando a origem da causa é identificada. “É essencial compreender a origem desse vazio existencial que leva a pessoa a querer controlar o outro por meio de um ciúme tóxico. Em alguns casos, o comportamento pode se assemelhar a uma dependência química, dada a dificuldade de controle”, diz.
No entanto, Rita também destaca que o fim do relacionamento não é a única saída. Com consciência e o suporte certo, é possível mudar comportamentos e reconstruir uma relação mais saudável. “Existe a possibilidade de buscar ajuda, ajustar a convivência e encontrar um novo equilíbrio. Podemos comparar a intensidade do ciúmes a um rádio: é possível reduzir o volume, mudar a frequência e sintonizar com sentimentos mais positivos.”
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