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Reclamar faz parte, mas reclamar demais pode afetar emoções e relações
(foto: unsplash) Nem toda reclamação é só barulho, às vezes, é um pedido de cuidado que ainda não sabe como ser dito
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Quem nunca reclamou do trânsito, do calor, da fila, do trabalho, da vida? Reclamar é quase um idioma universal, uma forma de desabafar e, muitas vezes, de se conectar com o outro. Mas quando o hábito de reclamar deixa de ser pontual e vira um estado permanente de insatisfação, quando reclamar demais quase se funde à personalidade, é prudente se perguntar: “Isso ainda é desabafo ou já virou um padrão tóxico?”

Apesar de parecer inofensiva, a repetição das queixas pode ter impactos mais profundos do que imaginamos, tanto para quem reclama quanto para quem convive com esse comportamento. Ao mesmo tempo, silenciar tudo o que nos incomoda também pode nos adoecer. Afinal, será que existe um equilíbrio possível entre expressar o que nos afeta e não transformar isso em uma visão negativa sobre o mundo?

Existe vício em reclamar?

“Sim, reclamar constantemente pode se tornar um vício comportamental”, afirma a psicanalista clínica Ângela Sirino. Segundo ela, esse hábito repetitivo pode virar uma armadilha difícil de sair, especialmente quando o cérebro se acostuma a focar nos aspectos negativos da vida. O que começa como uma simples válvula de escape pode se transformar em um padrão mental de insatisfação constante.

Por trás disso tudo, a reclamação serve como uma espécie de disfarce para emoções não elaboradas. Às vezes, a queixa não é sobre o trânsito ou o tempo ruim, mas sobre questões internas de si mesmo.  “Reclamar demais pode ser um sinal de que estamos guardando frustrações e sentimentos que não conseguimos expressar”, explica. 

Desabafo ou um estado de insatisfação crônica?

Todos passamos por momentos de irritação, cansaço ou frustração, e verbalizar essas emoções pode até ajudar a digerir o que nos incomoda. O problema começa quando esse movimento se repete sem intenção de mudança, a partir daí, a reclamação já não propõe caminhos nem reflexões,  apenas reforça a ideia de estagnação. Nesse ponto, o que era uma tentativa de se ouvir, se torna um eco de insatisfação que já não constrói, apenas pesa pra si e para o outro. 

É importante diferenciar esse movimento pontual de um estado crônico de insatisfação, em que a negatividade passa a ser o filtro pelo qual tudo é percebido. “Nesse caso, a pessoa tem dificuldade em enxergar o lado bom das coisas, não importa a situação”. Reclamar demais deixa de ser uma reação a algo específico e se torna uma experiência em que tudo vira motivo de frustração, sem espaço para gratidão ou esperança. 

Mas nem tudo é negativo, expressar descontentamento pode ser importante, desde que feito de forma construtiva. “Reclamar, por si só, não é necessariamente ruim. Pode até levar a soluções”, ressalta.

Se algo nos incomoda mentalmente, nosso corpo também sente o impacto. Não à toa, quando estamos vendo sempre o lado ruim das coisas, isso pode aumentar o nível de ansiedade, estresse. Esse jeito negativo de encarar a vida pode acabar afastando as pessoas ao redor, já que o ambiente fica pesado e desanimador, o que dificulta as relações saudáveis.  

Como sair dessa de ‘reclamar demais’?

Para mudar esse padrão, o primeiro passo é o reconhecimento. “A autoconsciência é essencial para identificar os gatilhos e trabalhar uma nova forma de enxergar a vida”. Práticas como escrever um diário de gratidão, estabelecer metas realistas e buscar terapia podem trazer uma perspectiva mais otimista das vivências e para que o diálogo funcione de forma equilibrada. 

Lidar com alguém próximo que reclama demais exige sensibilidade e firmeza. “Estabelecer limites saudáveis e comunicar, com empatia, como esse comportamento afeta você” é o caminho, segundo Ângela. Ou seja, esteja ali para escutar mas sem assumir o papel de “lixeira emocional”, pois reclamar pode sim, ser um ato legitimo e até necessário para que suas emoções não te sufoquem, mas lembre-se que não dá para reclamar e transformar isso na única forma de se comunicador com o outro.

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