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‘Tô péssima, mas tô linda’: quando a aparência atropela a saúde mental
Alexander Krivitskiy - Unsplash Dismorfia corporal
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“Tô péssima, mas tô linda: quando a aparência atropela a saúde mental” foi o tema da palestra da professora Psiquiatra e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Dra. Carmita Abdo é uma das palestrantes do 22º Brain, Behavior and Emotions, congresso científico na área da Neurociência, que segue até sábado (10), em Florianópolis.

Carmita chamou a atenção para o impacto das redes sociais para a formação da autoimagem e da aceitação – ou não – da aparência.

No Brasil, 13% dos jovens de 12 a 17 anos relatam sofrer de depressão e 32% ansiedade. Para a professora, o número elevado pode estar associado ao uso das redes sociais. “A depressão está aumentando, particularmente entre as meninas. Pesquisadores sugerem que o aumento de doenças mentais está, pelo menos em parte, relacionado ao crescimento do uso de mídias sociais entre adolescentes e jovens adultos”, explica. “É uma preocupação também para os adultos jovens, já que 25% deles de 18 a 25 anos relatam ter algum tipo de doença mental.”

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Já no Reno Unido, um estudo com quase 11 mil adolescentes mostrou que mais horas de acesso às mídias sociais estão relacionadas à insatisfação com o peso corporal e à infelicidade com a aparência (mais de 5 horas há 31% de maior probabilidade de insatisfação e 8% maior infelicidade com a aparência do que 1 a 3 horas). Por sua vez, a imagem corporal foi associada a sintomas depressivos tanto diretamente quanto indiretamente, por baixa autoestima.

A imagem corporal é um problema maior para os jovens, afetando homens e mulheres, mas, principalmente, em mulheres na adolescência e jovens adultas (até nove em cada 10 afirmam que estão infelizes com seu corpo).

Meninas que acessam as mídias sociais expressam maior desejo de mudar sua aparência, como rosto, cabelo e/ou pele, e fazer cirurgia estética para ter melhor aparência nas fotos (muitas vezes cirurgias invasivas e desnecessárias). Cerca de 70% dos jovens de 18 a 24 anos considerariam fazer um procedimento cirúrgico cosmético.

O uso do Instagram tem sido apontado como fator de depressão, baixa autoestima, ansiedade com a aparência e insatisfação corporal entre as mulheres, principalmente quando expostas a imagens de beleza e fitness.

O impacto das redes sociais na saúde mental

Os filtros oferecidos por algumas redes sociais ajudam na distorção da imagem. Como explica a psiquiatra, a pessoa pode acreditar que ela deva ser sempre daquele jeito com pele e rosto perfeitos.

“Comparações com pessoas conhecidas podem aumentar os potenciais efeitos prejudiciais da mídia social sobre a imagem corporal de adolescentes, fornecendo imagens editadas (manipuladas) que retratam um padrão de beleza inatingível”, observa. “A comparação social com essas imagens idealizadas pode aumentar a diferença percebida entre sua aparência ideal e a real, resultando em insatisfação com o corpo.”

Estudo experimental com mulheres de 17 a 25 anos demonstrou humor mais negativo após apenas 10 minutos de navegação em sua conta do Facebook em comparação com aquelas que navegaram em um site de controle com aparências neutras. As participantes com alta tendência de comparação de aparências relataram maior desejo de mudar a aparência de seu rosto, cabelo ou pele, após passar um tempo no Facebook, em comparação com aquelas que navegaram no site de controle.

Não apenas o tempo de exposição às mídias sociais, mas o tempo gasto na edição de imagens e no uso de filtros de videoconferência podem desempenhar um papel na insatisfação corporal: maiores preocupações com o corpo e a alimentação, levando a maior uso da mídia e internalização do ideal de magreza.

O uso frequente de redes sociais é também um fator de risco potencial no desenvolvimento de sintomas de transtorno dismórfico corporal (dismorfia do Zoom ou dismorfia da Selfie).  

Como identificar um transtorno associado à aparência?

Pacientes com transtorno dismórfico corporal (TDC) têm preocupação extrema com defeitos físicos pessoais que não são percebidos pelos outros e podem levar a graves prejuízos na realização social e profissional.  Está associado a várias comorbidades, principalmente a outros transtornos psiquiátricos: transtorno depressivo, transtorno de abuso de substâncias, fobia social, transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos alimentares. 

Tratamentos e cuidados

A professora orienta que os médicos discutam com os jovens e suas famílias os riscos conhecidos do uso de mídias sociais. “A comunicação com adolescentes é mais eficaz no contexto de uma aliança terapêutica aberta e sem julgamento, despertando confiança e oferecendo inclusão e autonomia. Incentivar os pais a se envolverem proativamente na limitação do uso de smartphones e mídias sociais por crianças e adolescentes pode ser útil (1 a 2 horas diárias é o limite). ”

Pacientes com sintomas sugestivos de TDC geralmente se apresentam em consultórios de cuidados primários ou clínicas especializadas, como dermatologia ou cirurgia plástica. É importante que esses profissionais reconheçam e encaminhem esses pacientes para avaliação especializada.

* A jornalista viajou a convite do evento

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