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    Saiba como viver a potência de cada fase do ciclo da menstruação
    É comum que muitas mulheres se sintam desconfortáveis com a menstruação. Mas uma nova perspectiva resgata saberes ancestrais e nos revela que há outras maneiras de se relacionar com os ciclos (FOTO: AVA SOL/UNSPLASH)
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    Neste instante meus seios estão inchados e doloridos; meu baixo-ventre, estufado. Até o sangue da minha menstruação descer, pode ser que eu ainda sinta cansaço, irritabilidade, dor de cabeça.

    Por muito tempo, confesso, menstruar foi um estorvo mensal. “Quero reencarnar como homem”, eu desejava, assim como um número significativo de mulheres do meu círculo.

    Hoje, quem diria, eu planto a minha Lua. Isso quer dizer que, tomada por um misto de reverência e gratidão, derramo meu sangue da menstruação na terra, devolvendo a ela os nutrientes que me foram ofertados caso eu quisesse gestar uma nova vida.

    Meu corpo de mulher está aprendendo a dançar a ciranda dos ciclos graças a um movimento, cada vez mais presente nas mídias sociais, alimentado por buscadoras e terapeutas. Elas estão ajudando mulheres do mundo todo a se reconectarem com a beleza e a força do seu ciclo menstrual.

    A menstruação carrega sabedoria

    Uma das pioneiras na difusão dessa percepção mais profunda é a britânica Lara Owen, autora da obra Seu Sangue é Ouro: Despertando para a Sabedoria da Menstruação (Lótus 22).

    Pesquisadora do tema, bastante influenciada pela tradição nativo-americana, ela tem contribuído para desmantelar um sistema de crenças e valores vinculados à lógica linear da produtividade.

    Essa lógica impera no nosso mundo atual e que oprime as nuances da realidade psíquica e biológica do feminino.

    “A mudança cíclica que ocorre nos sentimentos e nas sensações corporais é valiosa e interessante, e as emoções que as mulheres experienciam no período pré-menstrual trazem informações úteis e devem receber atenção”, ela defende.

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    Resgatando o valor da menstruação

    Mas como podemos valorizar algo que aprendemos a olhar com repulsa, seja por considerarmos a menstruação suja ou fedida, seja porque ela é tratada como um empecilho para o desempenho profissional e as atividades cotidianas?

    Pois uma sabedoria ancestral pode revelar outros olhares sobre o tema. É que esse saber, cultivado pelas sociedades pré-patriarcais, identificava no sangue feminino uma manifestação do sagrado e dos ciclos de renovação da Terra.

    É por isso que, em diversas culturas antigas, as mulheres se afastavam de seus afazeres e se recolhiam em espaços reservados para que pudessem menstruar em paz.

    Assim, absorviam as mensagens dos seus ciclos: necessidade de descansar, devanear, depurar dissabores, incubar sonhos e intuir os caminhos à frente nas próximas semanas.

    “Nessas sociedades matrilineares, as mulheres ocupavam posições de visionárias, líderes e decisoras em suas comunidades, apontando para onde ir, o que plantar”, lembra a terapeuta Rita Monte, criadora do Ciclo Criativo Feminino e autora do livro Memórias do Feminino.

    A menstruação na vida urbanizada

    Os ciclos menstruais podem ser ressignificados como uma bússola comportamental, uma ferramenta de autoconhecimento que permite à mulher se rever, renovar seus desejos e se apropriar melhor de si (FOTO: JESSICA FELICIO/UNSPLASH)

    Ao transpormos essa realidade milenar para a vida contemporânea, temos a chance de recuperar um tesouro há muito soterrado.

    “O ciclo menstrual é um mapa comportamental, pois o corpo fala conosco por meio dele. Dessa forma, nos ajuda a compreender o que precisamos mudar em nosso jeito de ser e de sentir, e em nossos hábitos”, afirma Kareemi, estudiosa do autoconhecimento cíclico e criadora da Ginecologia Emocional.

    Menstruar é, portanto, tão maior do que um sangramento mensal.

    “A menstruação não é só uma limpeza biológica; é também uma limpeza espiritual, energética e emocional que influencia nossa autoestima, intuição, determinação”, acrescenta Kareemi.

    E é um balizador da nossa saúde fisiológica. “A cor, a textura e o volume do sangue mostram, numa observação comparativa entre ciclos, qual é o nosso padrão de saúde. Com isso, conseguimos tratar os desequilíbrios antes de virarem doenças”, afirma Rita.

    Cíclicas como a Lua

    A Lua, espelho dos mistérios femininos desde os primórdios, pode nos ajudar nessa transição. “Ela representa as emoções, o inconsciente, o eu profundo, a individuação.”

    “Em cada uma de suas fases, viveremos emoções diferentes. E cada mulher tem a sua fase que corresponde ao seu ciclo, à sua Lua interna”, diz Livia Penna Firme Rodrigues.

    Livia é autora do livro + Feliz na Menopausa: Guia Prático para Viver Bem sua Maturescência e focalizadora de trabalhos com mulheres que estão saindo de sua vida reprodutiva.

    Um comparativo entre a nossa ciclicidade e as lunações nos diz o seguinte: a lua crescente representa a pré-ovulação, momento de foco e autoconfiança latentes.

    A lua cheia corresponde ao período da ovulação, quando esbanjamos desejo de socializar e celebrar a vida. A lua minguante se associa ao pré-menstrual, fase em que a mulher se encara sem máscaras e está mais propensa a estabelecer limites.

    Por fim, a lua nova espelha o período menstrual, oportunidade de viver o luto pelas coisas que se findaram e firmar um pacto com o novo que pede passagem.

    “Se a mulher conhece essa simbologia, vai respeitar seu ritmo interno em vez de se cobrar para ser sempre ativa, produtiva e voltada ao exterior. Vai se recolher, olhar sua sombra, deixar morrer o que não precisa mais, para retomar seu brilho. E assim, vai ter mais paciência consigo mesma”, observa Livia.

    Como se sintonizar com seu ciclo

    Recursos como as mandalas lunares, meditações da lua cheia e bênçãos do útero nos ajudam a refinar a sintonia com essa realidade sutil.

    Um aprendizado que vale também para mulheres que removeram o útero e para as que estão na menopausa, pois a energia cíclica permanece disponível.

    Como observa Rita Monte, esse olhar íntimo para a nossa saúde é um potente “basta” para uma herança que, infelizmente, nos alienou.

    “É enorme uma mulher se apropriar do seu ciclo menstrual, tendo em vista que a história da ginecologia nos afastou da sabedoria dos nossos corpos, nos fazendo crer que um outro, em geral, um homem, sabe mais sobre a regulação hormonal, os órgãos e a sexualidade feminina”, ela enaltece.

    O presente maior é sentir a dança dos ciclos reavivar a confiança em nós. “Sendo assim, o ciclo menstrual pode nos mostrar o quanto estamos sendo íntegras com as nossas vozes mais profundas.”

    “São elas que nos dizem o que desejamos, do que precisamos, qual é o próximo passo no caminho de nos tornarmos cada vez mais nós mesmas”, delineia Rita, com um convite que se renova em nós.

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    RAPHAELA DE CAMPOS MELLO é jornalista e está aprendendo a afinar a sintonia entre seu corpo na Terra e a Lua no céu.


    Conteúdo publicado originalmente na Edição 235 da Vida Simples

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