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    Quer ler mais? Comece com poesia
    Marcia Kambeba, poetisa e geógrafa, está entre as indicações de livros de poesia para ler nos intervalos da agitação cotidiana (Foto: divulgação)
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    Se você tem o desejo de começar a ler mais, saiba que a poesia pode te ajudar nessa jornada. Com textos mais curtos, poesias podem ser lidas nas brechas do dia, sem a necessidade de interromper aquela parte mais legal da leitura, como usualmente ocorre com os outros tipos de literatura.

    Além de estimular o hábito, ler poemas pode trazer mais beleza e leveza, além de inspiração e conhecimento, para o cotidiano.

    Por isso, a Vida Simples recomenda quatro livros de poesia para ajudar você que quer começar a incluir o hábito da leitura em sua rotina. Em comum, esses livros reúnem o melhor da poesia de cada um dos autores. Confira:

    TODA POESIA

    PAULO LEMINSKI

    Companhia das Letras

    “isso de querer ser
    exatamente aquilo
    que a gente é
    ainda vai
    nos levar além”
    Incenso fosse música – Paulo Leminski

    Paulo Leminski produziu poesia entre os anos de 1976 e 1989 e é um dos poetas brasileiros mais lidos da história. O autor é conhecido e aclamado por reunir em suas obras dois estilos diferentes, o da poesia concreta, que trabalha o visual e a sonoridade, e a lírica, que é mais erudita. Com essa união, ele compunha textos afiados, astutos e cheios de beleza e fluidez.

    O livro Toda Poesia reúne toda a trajetória da poesia de Paulo, passando pelo haikai, poesia concreta, poema-piada, slogan e canção.

    “Você nunca vai saber
    quanto custa uma saudade
    o peso agudo no peito
    de carregar uma cidade
    pelo lado de dentro
    como fazer de um verso
    um objeto sujeito
    como passar do presente
    para o pretérito perfeito
    nunca saber direito
    você nunca vai saber
    o que vem depois de sábado
    quem sabe um século
    muito mais lindo e mais sábio
    quem sabe apenas
    mais um domingo
    você nunca vai saber
    e isso é sabedoria
    nada que valha a pena
    a passagem pra pasárgada
    xanadu ou shangrilá
    quem sabe a chave
    de um poema
    e olha lá.”
    Objeto Sujeito – Paulo Leminski

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    POESIA REUNIDA

    SYLVIA PLATH

    Companhia das letras

    “Um sorriso caiu na grama.
    Irresistível!
    Como será que suas danças noturnas
    Vão se perder? Na matemática?
    Saltos e espirais tão simples –
    É claro que sempre
    Se espalham pelo mundo; não vou ficar
    Sem nenhum encanto, que sorte ter sua
    Respiração aqui e o cheiro da grama
    Molhada do seu sono, lírios, lírios.”
    As Danças Noturnas – Sylvia Plath

    Sylvia Plath é uma poeta estadunidense que publicou seu primeiro poema aos 8 anos de idade. Durante a adolescência, ela escreveu inúmeros outros poemas, contos e crônicas. E se estabeleceu como uma das principais vozes e referências da literatura do século 20 por conta do estilo profundo, brutal e meditativo da sua obra.

    Poesia Reunida é a edição brasileira mais completa da poesia da autora traduzida para o português. Como o nome diz, reúne poemas de dois livros, O Colosso e Ariel, além de mais de 40 poemas publicados entre 1954 e 1963.

    “As tulipas estão acesas demais, aqui é inverno.
    Tudo está tão branco, calmo, coberto de neve.
    Aprendo a ficar em paz deitada sozinha, quieta
    Como a luz nas paredes brancas, nas cama, nas mãos.
    Não sou ninguém; não tenho nada a ver com as explosões.
    Dei meu nome e minhas roupas às enfermeiras,
    Meu histórico ao anestesista e meu corpo aos cirurgiões.”
    Tulipas – Sylvia Plath.

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    AY KAKYRY TAMA: EU MORO NA CIDADE

    MÁRCIA KAMBEBA

    Editora Jandaíra

    “Eu moro na cidade
    Esta cidade também é nossa aldeia,
    Não apagamos nossa cultura ancestral,
    Vem homem branco, vamos dançar nosso ritual.

    Nasci na Uka sagrada,
    Na mata por tempos vivi,
    Na terra dos povos indígenas,
    Sou Wayna, filha da mãe Aracy.

    Minha casa era feita de palha,
    Simples, na aldeia cresci
    Na lembrança que trago agora,
    De um lugar que eu nunca esqueci.

    Meu canto era bem diferente,
    Cantava na língua Tupi,
    Hoje, meu canto guerreiro,
    Se une aos Kambeba, aos Tembé, aos Guarani.

    Hoje, no mundo em que vivo,
    Minha selva, em pedra se tornou,
    Não tenho a calma de outrora,
    Minha rotina também já mudou.

    Em convívio com a sociedade,
    Minha cara de “índia” não se transformou,
    Posso ser quem tu és,
    Sem perder a essência que sou,

    Mantenho meu ser indígena,
    Na minha Identidade,
    Falando da importância do meu povo,
    Mesmo vivendo na cidade.”
    Ay kakuyri tama – Márcia Wayna Kambeba

    Escrito por Márcia Wayna Kambeba, o livro Ay Kakyri Tama: eu Moro na Cidade traz poemas que versam sobre sua origem indígena, seu povo, os Omágua/Kambeba, e a vida em Belém do Pará. Uma característica comum de sua obra é abordar as identidades dos povos indígenas, além da territorialidade e a mulher nas aldeias.

    Ay kakuyri Tama é seu primeiro livro, lançado em 2013. Além dos poemas, ele traz também fotografias do cotidiano da nação indígena Kambeba dentro das cidades.

    “Na terra sagrada
    Que TUPÃ criou,
    Do seio materno
    Se ouve o clamor,
    Da mãe natureza
    Sofrendo de dor.

    O fogo ardente,
    Ao longe se vê,
    Queimando a mata
    Sem Q, nem porquê,
    As folhas se torcem
    Querendo viver.

    No solo desnudo,
    Os restos mortais,
    Do verde da vida
    E dos animais,
    Queimados, sofridos
    Em cinzas reais.

    Dos gritos agudos
    Se ouve o clamor,
    Do fruto ardendo
    Na chama, no calor,
    Ceifado, perdido,
    O fogo o calou.

    Dos olhos tristes,
    Uma lágrima cai,
    O lamento de dor
    Com o vento se vai,
    Varrendo o chão,
    Varrendo o chão!”

    Natureza em Chamas – Márcia Kambeba

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    AMAR SE APRENDE AMANDO

    CARLOS DRUMMOND DE ADRADE

    Companhia das Letras

    “Amor é o que se aprende no limite,
    depois de se arquivar toda a ciência herdada, ouvida.
    Amor começa tarde.”

    Este livro de Drummond é uma jornada pelos diversos tipos de amor e como eles aparecem na obra do escritor. Passando da celebração da amizade à fusão de unidade perfeita dos amantes, os 68 poemas do livro conciliam sentimento e experiência. Além disso, as poesias não deixam de tocar na dimensão política que é o ato de amar, abordando como o cotidiano toca no amor.

    “Além da Terra, além do Céu,
    no trampolim do sem-fim das estrelas,
    no rastro dos astros,
    na magnólia das nebulosas.
    Além, muito além do sistema solar,
    até onde alcançam o pensamento e o coração,
    vamos!
    vamos conjugar
    o verbo fundamental essencial,
    o verbo transcendente, acima das gramáticas
    e do medo e da moeda e da política,
    o verbo sempreamar,
    o verbo pluriamar,
    razão de ser e de viver.”

    Além da Terra, Além do Céu – Carlos Drummond de Andrade

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