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Por que as mulheres mudam tanto nos primeiros meses após a gravidez?
Aditya Romansa
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Desde crianças, meninas ganham bonecas para brincar de ser mãe. Assim, a maternidade é conduzida para a vida dessas crianças como algo natural: “um dia essa menina também será mãe”. Ao se acreditar que a maternidade é algo intrínseco para qualquer pessoa que tenha nascido com útero, é fácil se esquecer das dificuldades que podem acompanhar esse papel na vida da mulher. A fase pós-parto, também conhecida como puerpério, é um período difícil devido às flutuações hormonais, mas, principalmente, por conta dos desafios de cuidar de um ser humano.

O antes e depois de um parto são momentos em que os cuidados com a saúde mental devem ser redobrados. “Para se ter uma noção, o suicídio é a principal causa de morte materna no primeiro ano pós-parto”, relata Valéria Assunção, psicóloga obstétrica. “Isso quer dizer que mais puérperas estão morrendo por suicídio do que por complicações cirúrgicas, por exemplo”.

Além disso, dados do Postpartum Support International (PSI) mostram que 9% das puérperas sofrem de Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). “Em números absolutos, é um total maior que o número de veteranos de guerra vivenciando o mesmo transtorno”, explica a especialista.

Hormônios e falta de sono contribuem para a mudança de comportamento

Os sentimentos que podem acompanhar a gravidez e o pós-parto são diversos. Na gestação, as dificuldades emocionais e psicológicas frequentemente se relacionam à adaptação com relação ao mundo materno. É o que elucida Gabriele Tognolo, psicóloga e pós-graduanda em saúde mental materna. “Nesse primeiro momento, sintomas de estresse, ansiedade e depressão na gestação podem ocorrer por motivos como: uma gravidez não planejada, remanejamento de hábitos para desenvolvimento fetal de qualidade, preparação financeira para a chegada do bebê, entre outros”.

Os hormônios produzidos durante a gestação também agravam os sentimentos dessa mãe. Os principais hormônios que atuam nesse período são a progesterona (responsável pela preparação uterina para receber e manter o feto), o estrogênio (cuida da adaptação de todo o sistema circulatório) e, no último trimestre gestacional, a prolactina (para preparar as mamas para a lactação).

“Esses três hormônios têm papéis centrais durante a fecundação, gestação e pós-parto, porém, também são os responsáveis pelos sintomas de cansaço, sono excessivo, enjoos e até baixa libido e oscilações de humor”, informa Valéria.

O sono, principalmente a falta dele, também é um aspecto que afeta a saúde e bem-estar das mães. De acordo com Gabriele, a falta prolongada de sono de qualidade devido à rotina intensa com o bebê pode trazer consequências como aumento do estresse, exaustão mental e até mesmo dificuldades na resolução de tarefas básicas e simples do cotidiano. “A longo prazo, algumas mulheres podem sentir diminuição no prazer em realizar tarefas, ansiedade, frustração, culpa, raiva e diminuição na autoconfiança materna”, explica.

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Rede de apoio é importante para encontrar equilíbrio

Para lidar com toda a carga emocional que a maternidade traz, ter uma rede de apoio é importante. Um sentimento habitualmente relatado por puérperas é a solidão materna, e a presença de suporte pode amenizar isso.

“O maior desafio da nova mãe não é necessariamente cuidar do bebê, mas conseguir continuar dando conta de inúmeras outras tarefas enquanto o seu foco está no bebê. Contar com uma rede de apoio que ofereça suporte nas tarefas básicas é de grande ajuda”, justifica Valéria.

A rede de apoio pode ser de duas naturezas: aquela que possui vínculos afetivos, seja familiar ou de amizades, ou profissionais especializados que acompanham o ciclo do antes e pós-parto.

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Recomendações para lidar com o puerpério

Apesar das dificuldades, alguns autocuidados podem garantir às mulheres uma maternidade mais tranquila. As psicólogas trazem algumas recomendações para o cuidado da saúde mental durante a amamentação e as primeiras semanas após o parto.

Saiba conhecer as etapas

O cuidado mais importante que a mulher precisa investir é no conhecimento: é importante que ela entenda o que pode esperar nos diferentes períodos da gestação, quais as alterações fisiológicas e emocionais mais comuns, sobre vias de parto, amamentação, cuidados com bebê.

Concentre-se o máximo possível em seu próprio processo

Sabemos que é tentador se comparar, porém, cada pessoa tem uma história completamente diferente da nossa. Concentre-se em seu processo: quem você deseja ser como mãe e como pode dar pequenos passos para atingir essa meta.

Isso contribui para que, além de ser mais gentil consigo em seu maternar, evite comparações injustas e sentimentos de inferioridade.

Não se apresse a retomar a rotina de antes da gravidez

Você está passando por uma imensa transformação em todas as áreas de sua vida: roupas não cabem mais, relacionamentos mudaram, rotina se modificou e até mesmo os sentimentos estão confusos. A pressa para retornar ao que era antes da maternidade pode ser grande, mas talvez, isso não seja mais possível.

E não significa que a pessoa que você foi tenha ficado para trás: ela está aí, aguardando para que você se reorganize e a puxe novamente para fazer parte de seus dias, à sua nova maneira e em seu devido tempo.

Aproveite a variedade de livros, cursos e profissionais de qualidade

Lembre-se: rede de apoio não é somente familiar e social. Atualmente, há muitos profissionais e informações de qualidade para te acompanhar caso esse momento esteja sendo difícil.

Consultoras de sono infantil, consultoras de amamentação, psicólogas, médicos e outros diversos profissionais estão disponíveis para que não se sinta sozinha nesse momento.

Identificar a necessidade de ajuda não é fraqueza. Muito pelo contrário: é necessária muita força para perceber suas dificuldades e ir em busca de apoio de qualidade.

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