Prática popular, jejum intermitente pode trazer riscos à saúde
Apesar de prometer emagrecimento rápido, dieta pode causar perda de massa muscular, desequilíbrios metabólicos e distúrbios alimentares

Se ao comer o corpo engorda, parar de comer deve ser a solução para emagrecer. Essa é a principal estratégia do jejum intermitente, em uma linha de raciocínio muito lógica, mas que na prática pode cair em algumas armadilhas e causar danos no funcionamento do organismo, a curto e longo prazo.
A prática envolve a restrição de alimentos, consumindo apenas água ou chás por períodos prolongados. Para certas pessoas, o tempo de jejum pode variar, indo de oito a dez, doze horas ou até se estendendo por vários dias consecutivos.
O jejum como ferramenta de emagrecimento ganhou popularidade em 2013. Na época, não haviam pesquisas conclusivas sobre os efeitos dessa dieta no organismo e, por muito tempo, profissionais da saúde não sabiam dizer se os benefícios eram maiores que os riscos, ou vice-versa.
É real que o jejum intermitente provoca o emagrecimento, mas é um resultado temporário e que leva ao efeito sanfona (ciclo de perda e ganho de peso) quando os hábitos alimentares voltam ao normal.
O organismo, depois de um tempo sem comer (já em duas ou três horas), começa a consumir as reservas de carboidrato, glicogênio e a quebrar proteína e gordura. Em períodos longos de jejum, isso causa o emagrecimento pela perda de massa magra, ou seja, perda de músculo.
“E isso é muito preocupante. Se você fizer dieta intermitente por muito tempo, você fica emagrecido e sarcopênico [condição caracterizada pela perda de massa e força muscular]”, aponta Daniel Magnoni, especialista em cardiologia, nutrologia e clínica médica do Hcor.
Entre os benefícios que normalmente são citados estão a melhora da saúde cardiovascular, da sensibilidade à insulina e dos níveis de colesterol no sangue. No entanto, todos esses efeitos também são passageiros.
“A pessoa emagrece, perde gordura, perde peso, controla melhor a glicemia, mas são benefícios transitórios que às vezes podem causar problemas metabólicos, problemas hormonais. Não são benefícios que levam a uma melhora do quadro da pessoa, mas são benefícios dos exames laboratoriais. De novo, transitórios”, enfatiza o médico.
Riscos e recomendação única
Os riscos são variados. No dia a dia, os indivíduos em restrição alimentar podem manifestar tontura, fraqueza, arritmia, desidratação e queda de pressão. No caso de pessoas que combinam jejum intermitente com exercícios físicos, a hipoglicemia e a desidratação podem levar até mesmo a desmaios.
A longo prazo podem ocorrer quadros de distúrbios metabólicos, distúrbios de glicemia (hiper ou hipoglicemia) e distúrbios hormonais. E, a ausência de nutrientes, pode resultar em queda e enfraquecimento do cabelo, constipação intestinal, osteoporose, anemia, dificuldade de concentração e ansiedade.
O jejum intermitente deve ser evitado por idosos, diabéticos, pessoas com obesidade extrema, quem tem problemas digestivos e por quem toma remédio para pressão. “Quase todo mundo tem que evitar o jejum intermitente, mas os riscos à saúde são maiores para quem já tem alguma doença estabelecida”, diz Daniel Magnoni.
O emagrecimento saudável deve ser feito com acompanhamento médico, adaptado ao estilo de vida de cada um, de forma a evitar sintomas físicos no presente e acarretar distúrbios de saúde no futuro.
“O controle da obesidade, hoje, não deve passar por dietas da moda, que podem criar problemas muito graves. Então, o jejum intermitente não deve ser recomendado, deve ser evitado, e a pessoa que quer emagrecer deve procurar o apoio médico mais adequado.”
Relação entre restrição alimentar e compulsão
Há ainda riscos relacionados a transtornos alimentares. Um estudo publicado no final de 2024, conduzido por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo), mostrou que o jejum intermitente pode acentuar comportamentos alimentares desordenados.
A pesquisa foi feita com mais de 400 jovens universitários e obteve resultados apontando que quanto mais horas de jejum acordado, maior era a presença de características de compulsão alimentar, desejo por comida e consumo de alimentos calóricos e com muito açúcar. Assim, essa dieta restritiva, além de diminuir a qualidade nutritiva dos alimentos consumidos, também abala a relação dos indivíduos com a alimentação e pode causar implicações para a saúde mental.
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