Encerrar um relacionamento amoroso é encarar o fim de um ciclo que moldou rotinas, afetos e expectativas. É comum que, ao se separar, a pessoa sinta que perdeu o outro e também uma parte de si: os planos compartilhados, o cotidiano a dois, a imagem construída em conjunto.
Nesse processo, o luto amoroso não se limita apenas à ausência física do ex-parceiro, mas pela reconstrução da identidade individual. Embora seja um momento doloroso, ele também pode ser fértil. Porque, aos poucos, no meio do vazio que o fim deixa, nasce a possibilidade de um novo recomeço.
“Ao contrário do que se pensa, há um luto de si mesmo quando há um término. A ruptura mexe com autoestima, identidade, memórias e a ideia de pertencimento”, explica a psicóloga Larissa Fonseca.
Esse luto pode passar por fases como negação, raiva, negociação, tristeza profunda e, por fim, aceitação. Mas, como reforça a psicóloga Rejane Sbrissa, o tempo e a intensidade desse processo variam de acordo com o tipo de relação e o grau de envolvimento emocional: “Mesmo que você tenha escolhido terminar, é uma perda significativa. É a quebra de um vínculo. Quanto maior a intensidade da relação, mais tempo a pessoa pode levar para se reorganizar internamente.”
Limites emocionais
Embora o discurso sobre relações “maduras” com ex-parceiros esteja cada vez mais popularizado, é importante lembrar que nem sempre manter o contato é saudável. “É possível, sim, ter uma boa relação com o ex, mas nem sempre ela será próxima ou frequente. Uma boa relação pode significar respeito, ausência de mágoas ativas e até mesmo encerrar antes que haja desrespeito”, pontua Larissa.
Essa proximidade, no entanto, precisa estar livre de ilusões e expectativas irreais. “Muitas pessoas se boicotam, achando que, se continuarem próximas, a relação pode voltar. Mas se não houve clareza sobre o que causou o término, isso pode se tornar uma armadilha emocional”, destaca Rejane.
Nem todo rompimento permite afastamento total. Quando há filhos, animais de estimação ou obrigações profissionais em jogo, o contato se torna inevitável e a forma como ele será conduzido pode impactar na saúde emocional de todos os envolvidos.
“Nesse caso, a palavra-chave é funcionalidade”, afirma Larissa. “Você não precisa ser amigo do ex, apenas precisa ser justo, respeitoso e preservar sua saúde emocional.” Para isso, é necessário delimitar os espaços com clareza e manter uma postura firme, sem permitir que gestos de intimidade ou carência interfiram na dinâmica prática.
Rejane acrescenta: “Mesmo precisando ter contato, imponha limites. Evite apelidos carinhosos, comportamentos do passado e preserve uma certa distância emocional, logicamente respeitosa, mas sem intimidade.”
Uma relação que precisa fazer sentido
Manter a amizade com um ex-parceiro pode trazer benefícios se a relação for baseada em afeto e respeito mútuo. Porém, quando há esperança de reconciliação, insegurança ou dependência emocional, essa convivência tende a gerar mais sofrimento do que conforto.
Antes de manter qualquer tipo de laço, é essencial se perguntar:
- Por que quero manter contato com essa pessoa?
- Isso me ajuda a seguir em frente ou me prende ao passado?
- Me sinto respeitado(a) e emocionalmente seguro(a) nessa relação?
Dicas práticas para manter (ou não) uma relação saudável com o ex
- Evite reabrir dinâmicas da relação anterior: ciúmes, confissões emocionais e expectativas veladas só dificultam o processo de reconstrução individual;
- Dê tempo e espaço para ambos: pular etapas pode criar ilusões. Cada um precisa do seu tempo para reorganizar sentimentos e significados;
- Seja funcional: se houver filhos ou negócios priorize o que é prático. A relação pode ser cordial, mas não precisa ser próxima emocionalmente;
- Cuide de sua saúde emocional: procure rede de apoio se perceber que a convivência com o(a) ex ainda mexe com você mais do que deveria;
- Lembre-se: não manter laços também é sinal de maturidade. Pode ser exatamente o que você precisa para se curar, crescer e seguir.
É fundamental lembrar que manter uma boa relação com o ex é possível, mas nem sempre é necessário. E, definitivamente, não é uma exigência para provar que você amadureceu. Às vezes, a verdadeira evolução está em saber a hora de se afastar, respeitando o que a sua história significou, mas aceitando que ela já chegou ao fim.
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