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Como o ativismo digital está transformando a sociedade
Rob Hampson
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O que a palavra ativismo significa para você? Quando pensa nela, o que lhe vem à mente? Para mim, nascido no início da penúltima década do século passado e, portanto, tendo experienciado o processo de migração do analógico para o digital, esse substantivo promove de bate-pronto em minha mente imagens que ainda fazem parte do consciente coletivo: ocupações/invasões para chamar atenção a uma causa específica; barco ambientalista em confronto com algum navio baleeiro; grandes passeatas; discursos inflamados em conferências pelo mundo, assim como também atos de maior radicalismo.

Contudo, impulsionado pela força das redes sociais e, consequentemente, pelo tanto de integração e expansão que o aparato digital favorece, surgiu, primeiro de forma aleatória, e hoje de modo bem significativo, um outro tipo de ação nomeada de “ativismo de sofá”. O termo é originado de slacktivism ou clicktivism; ou seja, remete a uma atitude preguiçosa. Mas, na verdade, não é. Há dois anos um estudo publicado na prestigiada revista Science confirmou a força do ativismo digital e o impacto que até as ações mais limitadas geram. Quem concorda com essa análise é Raphael Rocha Lopes, advogado especialista em direito digital e palestrante sobre educação digital.

“Os meios proporcionados pela internet facilitam e potencializam o ativismo de sofá. Ao mesmo tempo que permitem alcançar qualquer assunto de qualquer lugar do planeta, conseguem conectar mais pessoas que pensam da mesma forma, sensibilizar quem não tem conhecimento sobre a causa e encorajar outras manifestações ativistas”, conta ele. “Em outros tempos, eu diria que o ativismo de sofá era uma espécie de compensação psicológica de quem o praticava, algo como ‘quero fazer alguma coisa para ajudar, mas não estou a fim de ir para a rua’, coisa de preguiçoso. Atualmente vejo que é muito mais do que isso. Ele pode ser um meio eficiente para alcançar objetivos que demorariam mais tempo só com o ativismo tradicional. Isso sem contar o quanto se diminui o risco à integridade física em um mundo polarizado como o de hoje”, enfatiza. O que se percebe na prática, e o mesmo estudo comprovou, é que o ativismo digital e aquele de corpo a corpo não são polos opostos, mas complementares.

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Qual é a sua causa?

A escritora Eva Andrade, cujo nome espiritual é Shri Damodara, acredita não importar a forma de ativismo e nem a proporção dele. O fundamental é suscitar o outro para o bem. “Podem mencionar que o bem é relativo. De fato, cada um pode e deve ter seu próprio norte. O problema é quando não temos um norte. Mas as ferramentas podem ser usadas em prol do bem comum.”

Na escola de ensino municipal que dirige em Pindamonhangaba, por exemplo, Damodara conseguiu implementar, em 2022, o projeto “segunda sem carne”, seguindo a proposta pedagógica da unidade, pontuada na educação ambiental. “Contei para as crianças a história da ave que tenta apagar o incêndio da floresta carregando água em seu bico: por mais pequenos que sejamos, podemos fazer a diferença.” A escritora e diretora também celebra o fato de a escola, por ser considerada piloto, ter recebido das autoridades públicas a informação de que, caso o projeto dê certo, poderá ser implantado como política pública na rede e, posteriormente, inspirar outras cidades.

Um exemplo do impacto do ativismo digital

Se tantos de nós refletimos sobre a validade de um ou outro ativismo, existe uma geração muito mais nova que apenas realiza o que sente preciso fazer. Com apenas 10 anos de idade, a mineira Júlia Bonitese é uma dessas fortes vozes contemporâneas. Consciente desde muito cedo de sua devoção e necessidade de ajudar o planeta, foi durante o início da pandemia que a família dela, habitante de um apartamento na capital Belo Horizonte, alugou um sítio por seis meses para viver mais isolada. Durante um almoço, já depois desse período, Júlia contou que queria fazer algo de maneira mais enfática. E sua mãe, Karina, ouviu-a e sugeriu começar algo pelo Instagram. Assim surgiu o projeto Pequenos Protetores do Planeta, criado há quase dois anos, e que já foi mencionado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Júlia começou com o ativismo digital, tanto pelo Instagram, quanto pelo YouTube, com o Papo Natural, que é uma roda de conversas com crianças. E depois expandiu para ações externas, como plantio, oficinas de bombinhas de sementes, que realiza nas escolas, além de ser convidada para palestras. “Entre o digital e o corpo a corpo, o primeiro tem a função de educar e informar, seja nos posts ou nos vídeos, mas o presencial pode estimular as crianças a colocar em prática o que receberam de informação”, conta. Por tudo isso, a jovem ativista é um bom exemplo de formas de agir sem que isso signifique ser um ativista filiado a ONGs.

“O ativismo é uma ação de fazer algo por algo, então ser filiado a ONGs, por exemplo, é uma consequência do seu desejo de fazer mais pelo planeta. Quando você está associado a uma entidade, pode ter mais força e mais pessoas junto com você. Entretanto, se você não tiver nenhuma dessas relações, não vai desmerecer seu ativismo. Ser um microativista local, da sua rua mesmo, já é, sim, muito relevante. Então pode ser em casa, com família, amigos, vizinhos, na escola, na igreja. As pequenas ações mudam o mundo. Comecei fazendo para o condomínio do meu prédio. O Pequenos Protetores do Planeta começou pequenininho e hoje tem alcançado muitas pessoas”, conclui a ativista, cujo sonho mais imediato é levar suas ideias a alguma das próximas edições da Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas, que reúne diversos líderes mundiais. Logo mais a  veremos lá.

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