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Brasil tem 70,3 milhões de pessoas sem acesso adequado a alimentos; saiba como ajudar
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Dados divulgados nesta semana pela FAO (Agência da ONU para Alimentação e Agricultura), OMS (Organização Mundial de Saúde) e Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) mostram que a fome explodiu no Brasil, principalmente no período da pandemia de Covid-19.

De acordo com as informações divulgadas pelas organizações internacionais, no Brasil entre 2020 e 2022, 70,3 milhões de brasileiros não tinham acesso adequado aos alimentos.

Conversamos com Ricardo Mota, head da área de Inteligência Estratégica do Pacto Contra a Fome, ação apoiada pela Vida Simples, para entender a situação de vulnerabilidade do País.

O fim da fome no mundo é uma das prioridades da ONU e a FAO defende que escolhas atuais são essenciais para um futuro alimentar seguro. Desta forma, a organização mundial orienta que todos nós devemos desperdiçar menos, comer melhor e adotar um estilo de vida sustentável.

Sempre lembrando que acabar com a fome é uma responsabilidade de todos, se cada um fizer a sua parte, viveremos em uma sociedade muito mais justa e melhor.

Dados divulgados nesta quarta pela FAO, ONU, OMS, Unicef mostram que a fome explodiu no Brasil entre 2020 e 2022 e a falta adequada de alimentos atinge 70,3 milhões de pessoas. Esses dados surpreenderam?

Não é exatamente uma surpresa, considerando que os dados históricos da fome vêm crescendo de forma relevante e constante desde 2013. Diferentes métodos e fontes de pesquisa estão reforçando essa tendência, o que demonstra um acúmulo de fatores que estão se somando e afetando cada vez mais as pessoas em situação de vulnerabilidade social, em especial, pessoas negras, mulheres e crianças.

Qual reflexão fazer a partir desses dados?

A reflexão mais importante é: não há dúvidas da urgência e do desastre social que a fome chegou no Brasil. Apesar de vivermos em um momento em que há muita desconfiança em torno de dados e da ciência, essas novas informações colocam mais uma pedra definitiva sobre essa dúvida. Precisamos falar sobre a fome, priorizá-la e nos mobilizar para enfrentar este problema. Existem alguns argumentos de que o crescimento da fome se dá por fatores externos e alheios ao nosso controle, como a pandemia de Covid-19, a crise econômica decorrente dela e a guerra na Ucrânia.

De fato, esses fatores tiveram um impacto relevante nos números de insegurança alimentar. No entanto, no relatório, ao comparar os dados de forma relativa, o crescimento da insegurança alimentar severa no Brasil foi de 1,9% entre 2014 e 2016 para 9,9% no biênio 2020 e 2022, um aumento de 421%. Já na América do Sul – na mesma condição e período -, o percentual da população passou de 6% para 13,5%, um crescimento de 125%. Ou seja, o Brasil cresceu três vezes mais na comparação. O mesmo se repete, no comparativo com outros continentes do globo. Resumindo, os dados são um reflexo da falta de priorização dos gestores públicos brasileiros na temática da fome.

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Como as pessoas podem ajudar no combate à fome?

É preciso olhar para a fome como um fenômeno multicausal e complexo, ou seja, existe um conjunto de políticas públicas que falham em fornecer oportunidades de inclusão e justiça social que geram, por consequência, a fome. Como diz a expressão “quem tem fome, tem pressa”, por isso as ações assistenciais são de suma importância, mas para erradicá-la de forma permanente, precisamos nos mobilizar como sociedade com uma visão mais holística.

Isso envolve os governos, o setor privado, o terceiro setor, a academia e nós, cidadãos. Nesse sentido, a participação e engajamento da sociedade é imprescindível. A opinião pública é um fator de pressão social, que pode colaborar de forma relevante na estabilidade de políticas públicas que garantem o direito humano à alimentação saudável, uma obrigação do Estado. Em uma perspectiva mais formal, existem diversos espaços públicos de participação social, como os CONSEAs (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional), os orçamentos participativos, votação de pautas do legislativo, entre outros. Além disso, hoje em dia as redes sociais possuem uma força considerável de mobilização e despertar sobre estes problemas.

De que maneira é possível colaborar com o Pacto contra a Fome?

Antes de mais nada, precisamos entender que a fome é um problema de todos. Nós do Pacto Contra a Fome acreditamos na potência e no papel da sociedade civil em influenciar o poder público para a elaboração e manutenção de políticas públicas que viabilizem e garantam o acesso à alimentação saudável. Todos podemos fazer isso, seja na nossa cidade seja no nosso estado. Além disso, cada um pode, em suas escolhas individuais, conscientizar-se sobre ações como: apoiar organizações de combate à fome, debater a pauta em sua comunidade, no seu trabalho, nas escolas. Todos temos o potencial e a possibilidade de influenciar o nosso entorno. A sociedade civil com a soma de esforços individuais irá conquistar a erradicação da fome.

Foi pensando nestas diferentes possibilidades de atuação que o Governo, as empresas, a sociedade civil organizada e os cidadãos têm que o Pacto Contra a Fome possui três pilares de atuação: articulação, inteligência e reconhecimento. E para despertar esta consciência sobre o problema da fome e do desperdício de alimentos lançamos nacionalmente a campanha “Com fome, não dá” que tem como protagonistas artistas como: Criolo, Ivete Sangalo, Marcelo Adnet, Ana Maria Braga, Pequena Lô, Formiga entre outros.

Quais as ações do Pacto neste semestre?

O Pacto Contra a Fome possui três pilares fundamentais: articulação, inteligência e incentivos. No pilar de Articulação, área responsável pela atuação junto aos governos, estamos visitando os estados com piores indicadores da fome, a fim de entender o que já está sendo feito nos territórios e apoiar os gestores públicos na elaboração e fortalecimento de políticas públicas de segurança alimentar e nutricional.

Já no pilar de inteligência, estamos fazendo uma revisão bibliográfica das pesquisas que já foram feitas no Brasil e no mundo sobre avaliação de impacto de políticas públicas na área da insegurança alimentar. Em breve, teremos um projeto muito bacana para compartilhar, mas não posso dar muitos detalhes por enquanto. Ainda neste pilar, lançamos o HUB Pacto Contra a Fome, plataforma digital que conecta, dá visibilidade e fortalece iniciativas de combate à fome e redução do desperdício de alimentos, de todos os setores e naturezas de atuação. Em um pouco mais de um mês, já temos mais de 600 iniciativas cadastradas.

Por último, no pilar de incentivos – que cuida da relação com o setor privado -, estamos construindo um relatório de boas práticas de segurança alimentar e de redução do desperdício de alimentos. Além disso, estamos buscando incentivar a inclusão de critérios de combate à fome e desperdício de alimentos em índices de Sustentabilidade Empresarial. Para finalizar, lançamos o Prêmio Pacto Contra a Fome em cooperação com a FAO e a UNESCO, para reconhecer iniciativas que atuam no combate à fome e na redução do desperdício de alimentos. As inscrições se encerraram recentemente e tivemos mais de 300 inscritos, um número muito relevante. Agora iniciaremos o processo de avaliação para a premiação que irá ocorrer em outubro.

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