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    Ter grupos de amigos com diferentes idades traz saúde na velhice
    Bons relacionamentos tornam a velhice mais saudável. sk/ Unsplash
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    Em 2016, Vânia de Castro, 64 anos, entrou no Balanço das Ondas, um grupo de dança para pessoas idosas em Balneário Camboriú (SC). Ele conta com mais 17 participantes e compete em festivais na região Sul do país. Vânia aproveita sua fase de aposentada, que considera um momento de liberdade para desfrutar da dança, atividade ela sempre gostou.

    Mirian Proença, 67 anos, outra apaixonada por dança, assistiu a uma apresentação e encantou-se tanto que começou a participar do grupo, depois de receber o convite de outra integrante. Além de proporcionar mais saúde física, participar do grupo aumentou o círculo de amizades das duas dançarinas.

    “A gente foi se aproximando umas das outras e falando um pouco sobre a vida, os problemas, as alegrias. De vez em quando, nós saíamos para tomar um suco ou comemorar um aniversário”, relata Mirian sobre como seus relacionamentos começaram no novo grupo.

    “Eu acordo de manhã e penso que tenho um grupo para ter um encontro, para falar de mim, para ouvir ou para comentar com alguém sobre alguma tristeza”. Para ela, as pessoas que conheceu por meio do grupo de dança se tornam amigas e apoio para outros momentos da vida.

    Vânia faz coro sobre a importância da turma e da troca de vivências que as amizades trazem. “Somos pessoas diferentes, e nós aprendemos muito umas com a outras”, conta.

    Para ela, os momentos de encontro funcionam como uma terapia e são muito significativos na rotina e na vida de cada dançarina. Ela comenta ainda que, por ser uma equipe de dança competitiva, as integrantes se apoiam e se incentivam para continuar com a prática, e costumam acolher novos integrantes com alegria e hospitalidade.

    Integrantes do grupo de dança Balanço das Ondas (Foto: Fátima Folchini/arquivo pessoal)

    Quanto mais diversidade, melhor

    Um estudo publicado pelo Journals of Gerontology, de Harvard, em 2019, concluiu que adultos mais velhos que interagem com pessoas além do círculo social da rotina, como família e amigos próximos, são mais dispostos a apresentar níveis mais elevados de atividades físicas, de bom humor, e menos sentimentos negativos durante a velhice.

    Essa diversidade para além do familiar ocorre no Balanço das Ondas, que reúne dançarinas e dançarinos de diferentes regiões do Brasil. Para a coreógrafa Fátima Folchini, 59 anos, a integração de culturas é muito positiva para o relacionamento do grupo inteiro.

    “Isso enriquece as trocas, porque cada pessoa tem um costume diferente, e sempre aprendemos coisas novas uns com os outros. As amizades se fortalecem por isso. Somos adultos, a grande maioria das pessoas é aposentada. Existe um respeito muito grande, estar ali nos importa e a gente gosta de estar em grupo”, destaca.

    Embora o grupo Balanço das Ondas seja uma associação, e haja o pré-requisito da aptidão para a dança para ingressar no grupo, Fátima trabalha promovendo, principalmente, a inclusão.

    A coreógrafa ministra aulas de dança em outros locais, e é neles que encontra pessoas para convidar para o grupo. Em alguns casos, ela percebe a necessidade de incluir uma pessoa que está precisando de mais amigos, ou alguém que chegou na cidade há pouco tempo, ou uma pessoa bacana, mas muito fechada. O grupo também tem esse perfil e acolhe muito bem. Ela conta ainda que o time de dança promove atividades de socialização, como o baile de primavera realizado na última sexta-feira, 13 de setembro.

    Baile de primavera organizado pelo grupo de dança Balanço das Ondas (Foto: Fátima Folchini/arquivo pessoal)

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    Relacionamentos promovem uma velhice mais saudável

    A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a participação social como um pilar fundamental para uma velhice ativa e saudável. Envolver-se em grupos, é, portanto, uma ferramenta para garantir mais qualidade de vida nessa fase, é o que explica o médico geriatra e consultor em longevidade da UNESCO no Brasil, Milton Crenitte.

    Existem grupos de dança, leitura, corrida, discussão de filmes, e muitos outros. Embora diferentes, eles têm uma função comum: a de conectar pessoas com interesses semelhantes. Os novos relacionamentos que os grupos constroem enriquecem o capital social das pessoas.

    “Bons relacionamentos fazem toda a diferença na vida de uma pessoa idosa. Isso porque a rede de suporte social, o engajamento social, e o quanto que essa pessoa se engaja na comunidade, têm conexão com esse capital social, com a resiliência, com a saúde mental, com o controle das doenças crônicas e também na relação com a solidão”, explica o especialista.

    Segundo ele, os relacionamentos funcionam como protetores, reduzindo a sensação de solidão e também os riscos do desenvolvimento de depressão e demência.

    Incluir pessoas idosas é bom para todos

    Durante a velhice, os novos relacionamentos não precisam ser apenas entre pessoas idosas. Interações com pessoas de outras idades é benéfico para todos os envolvidos e merecem ser estimuladas.

    “A importância dos relacionamentos intergeracionais é fundamental para criarmos uma sociedade anti-etarista. É preciso que pessoas idosas e mais jovens convivam para haver aprendizado entre elas”, aponta o geriatra.

    Cris Pàz, escritora e palestrante, também defende a maior integração de diferentes gerações em todos os espaços, sejam eles permeados por relações sociais ou profissionais. Para ela, ter contato com pessoas mais velhas é ter acesso à história e ao passado. Dessa forma, a troca de experiências permite fortalecer a identidade e o pertencimento.

    “Costumo dizer que para sermos modernos, precisamos ter contato com a nossa história. Ela significa você olhar para sua história e entender sua evolução, e o que aprendeu. O olhar para o moderno é o autoconhecimento, tanto das empresas como das pessoas.”

    Cris lembra que a velhice é uma condição prevista para todas as pessoas. Nesse sentido, o convívio entre pessoas de diferentes idades permite também aprender sobre o futuro e se perceber nele de forma mais natural.

    “Temos mais medo daquilo que não conhecemos, então quando tiramos pessoas idosas da nossa convivência, passamos a encarar um desconhecido e isso nos amedronta. É preciso olhar para o envelhecimento do jeito que ele é até para podermos nos preparar melhor para ele.”

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