Sendo você é amigo ou não das estatísticas matemáticas e prognósticos sociais, saiba de uma coisa: a chance de ter uma vida longeva e até ultrapassar os 80 anos, superando a expectativa de vida atual, é muitíssimo maior do que a possibilidade de sua existência terrena se encerrar brevemente, em poucas décadas. Mesmo assim, talvez distraídos demais com uma série de coisas, acabamos por não dar a devida atenção a um aspecto que num futuro nem tão longe assim irá puxar as orelhas de quem o ignorou: a estabilidade financeira para um envelhecer próspero e tranquilo.
Esse é um assunto de extrema importância, mas muitas vezes ignorado pela maioria. Afinal, como você imagina o seu envelhecer? Tenho certeza de que, entre tantas outras coisas, deseja uma aposentadoria digna num momento da vida em que se almeja trabalhar menos. Por isso, mais do que nunca e de forma urgente, é necessário aprender a usar o dinheiro e criar recursos e estratégias para desfrutar de uma vida mais cômoda no futuro.
Para começar a fazer isso, dois pontos são fundamentais para um planejamento e ação assertivos. O primeiro é tomar pleno conhecimento da situação financeira atual. Ou seja, fazer o orçamento pessoal para entender quais são as receitas, quais são as despesas, qual o saldo. O segundo é traçar um mapa com os objetivos, incluindo, claro, a etapa mais madura da vida. Quando eu pretendo parar de trabalhar? Com quanto eu quero viver de renda na aposentadoria? As duas informações cruzadas possibilitarão entender se o dinheiro que “sobra” te permitirá atingir o que se pretende obter no futuro.
Contudo, para criar recursos e estratégias para desfrutar de uma vida mais cômoda no futuro, precisamos ter mais consciência da forma com que lidamos com o dinheiro, como estabelecemos o relacionamento com ele, para depois começar a fazer escolhas mais conscientes. Quem enfatiza isso é a planejadora financeira Lueny Santos, do Papo de Valor (@papodevalor), para quem o objetivo principal, quando a gente fala de gestão financeira, é simplificar essa gestão para reduzir as oportunidades de o nosso cérebro fazer escolhas “erradas”. “Todo mundo sabe que precisa guardar dinheiro para o longo prazo, todo mundo sabe que precisa ter uma reserva financeira, todo mundo sabe que precisa gastar menos do que ganha. Só que, por que as pessoas não fazem isso? Porque a gente lida com as nossas emoções, de forma inconsciente, no nosso dia a dia. E é isso que a gente quer mudar, buscar ferramentas e estratégias para no dia a dia não deixar que a nossa forma inconsciente esteja a ditar as nossas regras”, aponta.
Ela explica que quando a gente planeja comprar um carro ou fazer uma viagem, por exemplo, que são projetos palpáveis, precisamos entender que para alcançarmos esse objetivo teremos de abrir mão de alguma coisa no hoje para encontrar esse equilíbrio entre viver o presente e realizar esse projeto desejado no futuro. Porém, quando abordamos um planejamento de aposentadoria, de uma vida mais tranquila no futuro, é mais desafiador a gente visualizar isso e, consequentemente, mudar as nossas ações. “Isso porque ninguém consegue fechar os olhos e se imaginar nesse cenário deixando de trabalhar, nesse cenário começando a usufruir do dinheiro, então parece ser um contexto muito distante. Justamente por isso que a gente precisa ter a consciência de como a gente está lidando com o dinheiro e mudar a forma de fazer isso para ter uma vida mais tranquila no futuro.”
Lueny alerta também para se ter cuidado com o que ela chama de “armadilhas da contabilidade mental”, um viés mostrado pela psicologia econômica, das pessoas fazerem contas de cabeça, de acharem que não precisam de planejamento, pois a mente delas já traçou os próximos passos.
Assim, se um bom planejamento financeiro é, sem dúvida, o primeiro passo na tomada de uma nova consciência em relação às finanças e na definição de estratégias desse amanhã, é preciso se libertar da relação exclusiva planilha e contas, mas dando atenção a um planejamento que observe plenamente as perspectivas variadas da vida de cada um, como saúde, lazer, relação familiar, vida profissional etc.
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Cuidando do emocional
Um dos quesitos que dificulta ter uma vida financeira saudável e próspera não está relacionado ao quanto determinada pessoa ganha pelo seu trabalho. Pelo contrário, é possível poupar e investir mesmo ganhando pouco, assim como se endividar seriamente mesmo ganhando muito. O que realmente influencia enormemente é o fato de a teoria econômica dizer que o ser humano é racional em seu processo de tomada de decisão, mas o comportamento financeiro de cada um ser regido muito mais pelo aspecto emocional.
A planejadora financeira Karina Valadares (@kavaladares) é enfática ao expressar sua opinião de que somos regidos pelo princípio do prazer, estudado por Freud. Assim sendo, buscamos prazer imediato e evitamos qualquer tipo de desconforto. Por esse motivo, a sistemática do princípio da realidade nos traz um desgaste mental e emocional e nos coloca frente a frente com as consequências das nossas escolhas. Conta ela que como preferimos fugir a qualquer custo desse tipo de situação, vamos automatizando nossas decisões para evitar desconfortos.
“Para complicar a situação, vivemos numa sociedade em que reconhecer sentimentos negativos e assumir momentos desafiadores emocionalmente não é visto com bons olhos. Logo, vamos engolindo nossas emoções e anestesiando nossos sentidos. E esse não sentir pode ser o gatilho para um consumo desenfreado, inconsciente, além da tentativa de me sentir pertencente ao meio”, ressalta.
O resultado é uma vida desequilibrada financeiramente e emocionalmente. Como Karina explica, acabamos por perder toda nossa energia com a ansiedade que nos causa a falta do dinheiro ou ainda com o desconhecimento em relação a nossa realidade financeira. E sem energia não conseguimos ter uma relação com o trabalho, sociedade e familiares que extrapole a equação de troca tempo x dinheiro.
“Por tudo isso, dinheiro e emoções estão intimamente ligados. E nunca será sobre matemática complexa, mas sobre coragem de revisitar nossa história, se autoconhecer, se reconhecer em suas decisões, ou não, e escolher um caminho que reflita seus valores de vida. Mais autoconfiantes conseguimos estar mais presentes. E na presença conseguimos identificar que nem sempre é sobre ter mais, mas sim, sobre precisar de menos. E quanto menos precisamos mais nos sobra. Essa sobra inclusive nos traz uma sensação de completude e prosperidade”, completa.
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Hora de investir
Na prática, sabemos que as mudanças nos custos de vida e na inflação podem afetar nosso planejamento financeiro para a aposentadoria e que, portanto, precisamos saber como nos proteger contra esses riscos. A planejadora financeira Lueny Santos ressalta que devemos ter a consciência de que a aposentadoria, na verdade, é deixar de depender do nosso trabalho para conseguir manter a nossa vida. E assim sendo, quando formos guardar um valor pensando nela, podemos considerar o nosso padrão de vida atual. “A ideia, claro, é que ao longo da vida esse padrão de vida vá aumentando, os valores vão aumentando, vou crescer na minha carreira, vou ter uma ascensão do meu salário. Ótimo, essa é a ideia mesmo. Mas a gente não sabe quando isso vai acontecer. Então, por isso, a gente vai traçar com o que a gente conhece hoje, que é o padrão de vida atual”, diz ela.
Mas pensando em expectativas de vida cada vez maiores, quais os tipos de investimentos que os especialistas recomendam para se garantir uma maior tranquilidade no envelhecer? A resposta não é única, ou seja, não existe uma fórmula imutável.
Na visão da planejadora financeira Karina Valadares, devemos buscar duas coisas: um estilo de consumo sustentável e mais de uma fonte geradora de renda para longevidade. A previdência, tão comumente falada no Brasil, atende todos os perfis de investidor. Já o seu tipo, seja renda fixa, multimercado ou ações, vai depender do perfil do cliente. Por isso, antes de qualquer investimento, é importante a construção de uma reserva de emergência. É ela, dentro de uma visão de longevidade, que pode garantir a uma pessoa atravessar um percalço não previsto sem afetar seu compromisso financeiro a longo prazo.
Dessa forma, independente de qual seja o seu perfil de investidor – arrojado, conservador ou mediano – que tal continuar a viver com a presença no agora, mas com consciência e ação de que o amanhã irá chegar? Dentro disso, nada melhor do que podermos experienciar o envelhecer de modo financeiramente próspero, consistente e harmonioso.
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