Propósito
Ouvir Milton Nascimento reconecta-me com minhas tradições interioranas e a um dos meus propósitos de vida
Nesta hora, centralizo-me e começo a puxar o ar do fundo, deixo os pés descalços em contato com o chão e ponho uma playlist do poeta Milton Nascimento. Ouvi-lo reconecta-me com minhas tradições interioranas e a um dos meus propósitos de vida.
De folga, numa manhã de sábado, chinelo nos pés, bermuda e sem camiseta. Ufa! A redenção do fim de semana, para mim que viajo de segunda a sexta para a Capital Paulista a trabalho. Moro no interior de São Paulo, na gostosa terra do figo Valinhos.
Desconecto do barulho urbano agitado e pulsante de São Paulo, mas os pensamentos não vão juntos na desconexão. Nada ligado a uma pendência do trabalho que ficou para a outra semana. Aliás, meu cargo e minhas atribuições estão satisfatórios, ou seja, tenho dado conta. Mas o que então me desassossega? Apesar da cabeça não parar de pensar e se agitar, consigo notar que é algo interno, da alma. Lembro logo de minha terapeuta fazendo uma colocação: “Quase a totalidade de meus pacientes vêm aqui em busca de um propósito”.
Objetivo
No dicionário, temos a definição desta palavra como projeto, desígnio, objetivo, dentre outras. E tenho reparado nas conversas muita insatisfação, muita angústia e vazios. E, por incrível que pareça, pessoas que alcançaram altos postos, têm acesso à informação, vida agitada de compromissos, viagens, jantares, muito consumo etc.
Nesta hora, centralizo-me e começo a puxar o ar do fundo, lentamente, deixo os pés descalços em contato com o chão e ponho uma playlist do Bituca, grande poeta Milton Nascimento. Ouvi-lo reconecta-me com minhas tradições interioranas e a um dos meus propósitos de vida: desbravar ainda mais os segredos e encantos de Minas Gerais.
As diversas atribuições, compromissos, enfim, demandas familiares, profissionais e financeiras suspendem por ora tal empreitada no mundo real, mas que no ouvir da canção de Milton me permitem ir, visualizar e sentir o ar das montanhas de Minas. Quem sabe a vida não me direciona para aquele lindo Estado. Minha sogra já foi para pertinho, está na divisa de SP/Minas, eixo café com leite. Amo o interior paulista e vejo muita conexão com algumas tradições mineiras. O viver no interior paulista talvez tenha sido o start para partir para Minas também.
Enfim, nesta manhã, que teve ainda degustada uma broa de fubá caxambu, sequinha e recheada de erva doce e no fim da manhã, começo da tarde, um golinho na cachacinha mineira, Milton Nascimento me cantou primeiro a composição de Chico Buarque, “O Que Será? (À Flor da Pele)”.
Fez-me refletir, no começo da canção (O que será, que será? Que andam suspirando pelas alcovas…), para os medos escondidos e turbilhões que enfrentamos na emoção, mas logo me acalmou com a linda e leve música composta por Flávio Venturini Clube da Esquina II (Por que se chamava moço / Também se chamava estrada / Viagem de ventania / Nem lembra se olhou pra trás / Ao primeiro passo, aço, aço… Por que se chamava sonhos e sonhos não envelhecem…).
E, depois de tantas lindas canções, toca “Maria Maria”, composição do próprio Milton Nascimento, que vem me renovar, inflar-me de sonhos, de beleza e leveza. Vejo e sinto a minha atual morada, o rico interior paulista, penso também as veredas mineiras, sua culinária, sua paz… Me conecto para dentro de mim, e encontro um forte propósito que carrego e que vale a pena viver por ele. Como diz a letra de Maria Maria:
Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria…
Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania de ter fé na vida.